Reflexiones sobre la aplicacion del metodo de Estudio-Accion en Colombia/ Reflexoes sobre a aplicacao do metodo de Estudo-Acao na Colombia.

AutorBorda, Orlando Fals

A vinculacao entre a teoria sociologica e a pratica social e politica vem recebendo maior atencao tanto dos cientistas quanto dos politicos. Este antigo problema, tao estudado pelos classicos das disciplinas sociais, retorna hoje ao centro das discussoes por razoes obvias.

Na Colombia, varios grupos vem suscitando o tema e, em alguns casos, se tem colocado a prova principios gerais. Entre estes grupos esta a Rosca (1) de Investigacion y Accion Social, uma fundacao sem fins lucrativos criada em 29 de dezembro de 1970 de acordo com as leis colombianas.

A Rosca e uma iniciativa de sociologos, antropologos, economistas e historiados colombianos que desejam buscar saidas novas e mais eficazes para as ciencias sociais; que desejam ter a rara oportunidade de colocar em pratica as ideias que sao expostas nas aulas e nos livros, alem de se envolver na realidade dos processos sociais basicos. Oficialmente, de acordo com seu estatuto, a Rosca pretende "realizar trabalhos e buscar novos metodos de investigacao e acao social, destinados a aumentar a eficacia da luta por justica e autonomia na Colombia; estimular a adocao de uma perspectiva propria para o estudo da realidade nacional e para a atividade social, politica e economica; e promover a dinamizacao da cultura popular necessaria para esse esforco simultaneo de construcao cientifica e mudanca social".

Seguindo as instrucoes dadas para este Simposio (2), o presente discurso trata somente dos antecedentes conceituais que levaram a constituicao da Rosca, os principais metodos de investigacao e acao que se tem aplicado ate hoje, e as implicacoes cientificas e teoricas que esta tarefa acarreta. Resta dizer que a critica a este trabalho--como a autocritica--e necessaria, e que a Rosca a espera com espirito positivo e com gratidao.

Antecedentes conceituais: em busca de um metodo

Um dos feitos iniciais da constituicao da Rosca foi sua origem intelectual pequeno-burguesa, com a caracteristica de haver adquirido, no entanto, uma maior consciencia da necessidade de transformar basicamente a sociedade atentando-se a conjuntura politica existente. Para isso, foi necessario que deixassemos a mente aberta ao que deviamos aprender a partir das novas experiencias em que embarcariamos, e que tivessemos pautas modestas, porem efetivas, nos afazeres cientificos.

Esta atitude basica de busca e descobrimento ao mesmo tempo era o que na epoca, e ate desde antes, se denominava "compromisso". Este conceito --bastante debatido em incontaveis circulos literarios e cientificos--(3) nos serviu como ariete para romper os moldes cientificos e intelectuais em que nos sentiamos constrangidos. O compromisso, tambem nessa epoca, levava a suscitarmos novamente o problema do metodo investigativo e a orientacao do conhecimento cientifico. Estes ja nao seriam objeto de simples curiosidade erudita, nem seriam mais trombetas apocalipticas para despertar as classes dirigentes e induzi-las a serem mais responsaveis perante a crise que elas mesmas provocavam, mas, se colocariam ao servico de uma causa politica popular concebida em colaboracao com as massas, como um esforco de contencao a dominacao imperialista e a exploracao oligarquica tradicional a quem podia imputar-se boa parte desta crise.

Neste momento de reorientacao intelectual e politica, as tecnicas de investigacao mais proximas conhecidas ao que queriamos realizar eram as que, na antropologia e na sociologia, se conhecem como "observacao por participacao" e "observacao por experimentacao" (participacao-intervencao). Implicam, certamente, o envolvimento pessoal do investigador nas situacoes reais, e a interferencia deste nos processos sociais locais. Entretanto, logo se viu que estas tecnicas eram insuficientes ante as exigencias de vincular o pensamento a acao fundamentalmente necessaria.

Logo, em 1969, apareceu o conceito de "insercao" que fez avancar o nivel de envolvimento do cientista social (e natural) dentro do novo compromisso revolucionario que se vislumbrava. (4)

Serviu, entao, como um desafio para implementar o compromisso e impulsionar os intelectuais a linha de acao, ja com um marco metodologico um pouco mais claro. Constituiu-se assim o que as vezes se define como um breakthrought, o impulso definidor que abre novas perspectivas.

No caso da Rosca, seguramente, a insercao serviu para alguns decidirem-se por suas conformacoes e para ajudar na busca da especificidade de sua tarefa. Como a modalidade de trabalho teorico-pratica nao era nenhuma novidade, ja que se vinha recomendando e aplicando por diversos marxistas, notavelmente por Lenin, Mao e Giap--em seus proprios termos--ao referir-se ao "observador-militante" (5). O observador-militante traduz o compromisso a realidade, e aplica a observacao por insercao (adiante somente "insercao"), ainda que sua concepcao seja basica neste contexto.

Inicialmente, a insercao se concebeu como um passo que implicava nao apenas em combinar as duas tecnicas classicas de observacao ja mencionadas, "senao em ir mais alem para ganhar uma visao interior completa das situacoes e processos estudados, e com foco na acao presente e futura. Isso implica que o cientista se envolva como agente dentro do processo que estuda, pois tomou uma posicao em favor de determinadas alternativas, apreendendo, assim, nao apenas a observacao que faz, mas o trabalho mesmo que executa com as pessoas com quem se identifica." (6)

Em outras palavras, a insercao se concebe como uma tecnica de observacao e analise de processos e fatores que inclui, dentro de seu projeto, a militancia dirigida a alcancar determinadas metas sociais, politicas e economicas. E aplicada por observadores-militantes com objetivo de levar a cabo, com maior eficacia e entendimento, mudancas necessarias na sociedade. Ao mesmo tempo, a insercao incorpora os grupos de base como "sujeitos" ativos--nao como "objetos" exploraveis--da investigacao, que contribuem com informacao e interpretacao em pe de igualdade com os investigadores de fora. Assim, o compromisso vem a ser total e franco entre estes grupos.

Como se pode observar, esta concepcao da insercao traz consigo duas determinantes: 1) a de constituir uma experiencia essencialmente intelectual--de analise, sintese e sistematizacao--realizada por pessoas envolvidas nos processos como quadros comprometidos com varios niveis de preparacao e estudo (observadores-militantes); e 2) a de ater-se a diversos modos de aplicacao local segundo alternativas historicamente determinadas. Em essencia, estas tecnicas vem a constituir um metodo especial, o metodo de estudo-acao, cujo objetivo e aumentar a eficacia da transformacao politica e proporcionar fundamentos para enriquecer as ciencias sociais que contribuem para o processo.

Houve certa convergencia na aplicacao destes principios em varios paises (segundo informacao parcialmente levantada), contudo, ainda ha muito caminho a ser trilhado para se alcancar a sistematizacao do conceito de insercao e o aperfeicoamento do metodo de estudo-acao. Nao obstante, todos os que tem aplicado estes principios concordam com a importancia teoricopratica dos mesmos. Nos casos colombianos, a aplicacao do metodo de estudo-acao, com as tecnicas de insercao, permite distinguir duas dimensoes, como se explicara a seguir.

A primeira dimensao do metodo

Como foi dito, foram os profissionais (especialmente os cientistas sociais, ainda que se tenha observado casos entre os das ciencias exatas e naturais) que suscitaram primeiro a necessidade da insercao ao processo historico em varios niveis, especialmente o local ou comunal, como forma de romper com os moldes de explicacao e acao inadequados. Este foi um dos pontos de partida da Rosca. Com efeito, alguns de nos abandonamos os recintos universitarios ou colocamos em quarentena os marcos de referencia da ciencia ortodoxa e parcelada transmitida pela universidade tradicional (a inspirada por Scheler e trazida a nos, a especializada e departamentalizada em interesses criados academicos). Saimos ao campo, entao, a constatar teorias com feitos, a descarta-las se...

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