Redes sindicais: as novas formas de organização da classe trabalhadora

AutorLilian Arruda
CargoMestre em Ciências Sociais, doutoranda em Ciências Sociais PUC-SP, pesquisadora do Instituto Observatório Social.
Páginas426-435

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Introdução

Objetivo* principal deste artigo é discutir as redes sindicais, abordando as transformações ocorridas na classe trabalhadora e no movimento sindical, em função do aprofundamento da globalização, a partir da década de 1990. Essas transformações envolvem novas formas de organização do movimento sindical, que estão inseridas em um movimento mais amplo, o movimento antiglobalização. Trata-se, também, de compreender a globalização como um movimento múltiplo, de várias faces. Para isso, são utilizados os conceitos, de Boaventura de Souza Santos (2002), de globalização hegemônica e globalização contra-hegemônica. Ao levantar essa questão, abordam-se as redes sindicais são abordadas como forma original de organização dos trabalhadores, cuja implantação deve enfrentar desafios e resistências no próprio meio sindical.

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As faces da globalização

O século XX foi um período no qual o capitalismo se desenvolveu aberta e acentuadamente. Esse desenvolvimento acelerou-se após a Segunda Guerra Mundial e exacerbou-se com a crise do socialismo, no final da década de 1980. Esse processo, também chamado globalização, desencadeou profundas mudanças sociais, econômicas e políticas. A globalização expandiu-se nos países socialistas e em países em desenvolvimento, na Ásia, na África e na América Latina, mas de forma desigual e contraditória. Esse processo não é unívoco, não se restringe apenas à instância econômica, pois engloba também a cultural, social, religiosa, jurídica e política.

Na concepção de Souza Santos (2002, p.260):

[...] a globalização, longe de ser consensual, é, como veremos, um vasto e intenso campo de conflitos entre grupos sociais, Estados e interesses hegemônicos, por um lado, e grupos sociais, Estados, e interesses subalternos por outro; e mesmo no interior do campo hegemônico há divisões mais ou menos significativas.

Esse autor conceitua globalização hegemônica e globalização contra-hegemônica ( Idem , p.750, grifo nosso ):

No campo das práticas capitalistas globais, a transformação contra-hegemônica consiste na globalização das lutas que tornem possível a distribuição democrática da riqueza, ou seja, uma distribuição assente em direitos da cidadania, individuais e coletivos, aplicados transnacionalmente. [...] Finalmente, no campo das práticas sociais e culturais transnacionais, a transformação contra-hegemônica consiste na construção do multiculturalismo emancipatório, ou seja, na construção democrática das regras de reconhecimento recíproco entre identidades e entre culturas distintas.

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A globalização contra-hegemônica é fragmentada internamente, pois assume, predominantemente, formas de iniciativas locais de resistência à globalização hegemônica. Essas iniciativas locais assumem dimensões globais e, assim, articulam-se translocalmente com outras iniciativas ou com organizações e movimentos que partilham pelo menos parte dos seus objetivos.

Já a globalização hegemônica, sobretudo quando se fala em globalização econômica, apresenta várias características: o princípio de mercado prevalece sobre o de Estado, há financeirização da economia mundial, sujeição completa dos interesses do trabalho ante os interesses do capital, protagonismo das empresas multinacionais, recomposição territorial das economias em que o espaço nacional perde sua importância, os compromissos nacionais são eliminados e substituídos pelos compromissos globais. Essas características não são homogêneas no mundo, pois cada país apresenta sua especificidade e responde de maneira diferente à globalização, portanto, pode-se dizer que há várias globalizações.

No entanto, acima das divisões internas, o campo hegemônico atua na base de um consenso entre os seus mais influentes membros. Esse consenso dá à globalização as suas características dominantes, como também legitima essas últimas como as únicas possíveis ou as únicas adequadas.

O consenso hegemônico é também conhecido como consenso neoliberal, no qual o campo hegemônico sustenta a globalização econômica. O ideário neoliberal, resumidamente, defende a estabilidade monetária como meta prioritária de qualquer governo, ou seja, um rígido controle da inflação. Para isso, os governos devem ter grande disciplina orçamentária, contendo os gastos sociais e realizando reforma fiscal, o que significa, também, elevar as taxas de juros e implementar programa de privatizações.

A aplicação do ideário neoliberal garantiu relativo sucesso no controle da inflação, mas o crescimento econômico dos países que o adotaram estancou. Com efeito, a taxa de desemprego cresceu vertiginosamente, criando, portanto, sociedades mais desiguais.

Um dos fatores que colaborou com a manutenção do...

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