Entre o real e o ficcional: uma análise do romance A Casa Verde (1898-1899)

AutorDeivid Aparecido Costruba
CargoDoutorando em História e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras, UNESP - Universidade Estadual Paulista, Assis/SP, Brasil
Páginas335-357
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer m, desde que atribua a
autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n40p335
Entre o real e o ccional: uma análise do romance A Casa
Verde (1898-1899)
Between the real and the ctional: an analysis of the novel A Casa
Verde (1898-1899)
Deivid Aparecido Costruba*
Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir os limites entre o real
e o ccional no romance A Casa Verde, escrito pelo casal Filinto de Almeida
(1857-1945) e Julia Lopes de Almeida (1862-1934), publicado em folhetim no
Jornal do Comercio, entre 1898 e 1899. O título da obra foi motivado pelo da
residência dos cônjuges, situada no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro,
conhecida pela intelectualidade da época como o “Salão Verde”. Na escrita
do romance foram abordados alguns temas caros aos escritores, que procuram
não só examinar a imagem da mulher na sociedade daquele momento, como
também o de estruturar o texto em torno de aspectos da anglolia.
Palavras-chave: Filinto de Almeida; Julia Lopes de Almeida; literatura;
romance; A Casa Verde.
Abstract: The present article aims to discuss the boundaries between the real
and the ctional in the novel A Casa Verde, written by the couple Filinto de
Almeida (1857-1945) and Julia Lopes de Almeida (1862-1934) and published
in a book in the Jornal do Comércio, between 1898 and 1899. The title of the
work in question has a name similar to the residence of the spouses, located in
the district of Santa Tereza, in Rio de Janeiro, known by the time of the time
as “Salão Verde”. In the writing of the novel were addressed some expensive
themes for writers who seek not only to examine an image of women in society
at the time, as well as to structure the text around Anglophilia.
Keywords: Filinto de Almeida; Julia Lopes de Almeida; literature; novel; A
Casa Verde.
* Doutorando em História e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras, UNESP - Universidade
Estadual Paulista, Assis/SP, Brasil. E-mail: costrubahistunesp@hotmail.com
Artigo
336
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 40, p. 335 - 357, dez. 2018.
Introdução
Este artigo tem como mote problematizar o romance A Casa Verde,
escrito pelo casal Filinto de Almeida e Julia Lopes de Almeida. A obra foi
primeiramente publicada em folhetins no Rio de Janeiro pelo Jornal do
Comercio, entre 18 de dezembro de 1898 e 16 de março de 1899. Trinta e três
anos mais tarde, o volume também foi publicado em livro pela Companhia
Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato, em 1925. O título da obra
faz clara referência à residência dos cônjuges localizada no bairro de Santa
Tereza, no Rio de Janeiro. O famoso “Salão Verde” era, nas palavras de João
Luso, escritor luso-brasileiro e amigo do casal, um ambiente ao mesmo tempo
patriarcal e de culto às artes.
Antes de se avançar na análise, é preciso trazer as reexões teórico-
metodológicas de autores que discutiram a fonte literária e seus suportes,
cujos ensinamentos servirão de balizas para esta investigação. No que diz
respeito aos documentos literários, de acordo com Antonio Celso Ferreira,
o historiador deve-se pautar pela “interpretação das fontes em determinadas
circunstâncias sociais, isto é, nos contextos, que só podem ser reconstruídos,
ainda que de modo parcial, lacunar e aproximado, pela mediação de outros
textos”.1 Dessa forma, no decorrer da presente análise, serão empregados outros
textos para reconstruir o universo sócio intelectual da conhecida residência
dos Almeida. Também no exame aqui proposto, as considerações de Ferreira
serão ponderadas, tendo em conta algumas das problemáticas no uso da fonte
literária, processo habitual em uma investigação histórica.
Pode-se partir de perguntas elementares tais como: quem
eram os escritores selecionados para a pesquisa... Em que
realidade social ou econômica, política e cultural eles
viviam, como e por que se lançaram à criação ccional?...
Que signicados atribuíram à literatura e que signicados
históricos podem ser lidos em suas obras? Que representação
do mundo social eles criaram? Que desejos, angústias,
utopias ou frustações expressaram e o que isso tinha a ver
com a vida coletiva da época? 2
Se a trajetória do “salão verde” foi artisticamente agitada, servindo até
mesmo, segundo Michele Fanini, como a “antessala” da Academia Brasileira
de Letras, o pano de fundo da obra A Casa Verde confundia-se, muitas vezes,
com o cenário real do Rio de Janeiro. Ao descrever a atividade de um guarda-
livros3, os autores armaram:
Comprazia-se no movimento de grandes volumes, as
pesadas pipas de vinho, os fardos de fazendas grossas, os
caixões de ferragens, os gigos de louça, as sacas de café,

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT