A prosa não quixotesca de Bandeira: ficção ou poesia

AutorJoão Paulo Zarelli Rocha
Páginas39-52
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 19, n. 31, p. 39-52, 2019|
doi:10.5007/1984-784X.2019v19n31p39 39
A PROSA NÃO QUIXOTESCA DE BANDEIRA
ficção ou poesia
João Paulo Zarelli Rocha
UFSC – CNPq
RESUMO: Bandeira, sem ter escrito um conto sequer, conta inúmeras histórias. Em carta a João
Cabral, reclama de redondilhas jogadas por seu amigo, como celebração natalina, a um cartão que
mais pareciam pulgas de Anatole France. As pulgas provinham de Les matinées de la Villa Saïd,
onde um professor Brown, conversando com o próprio Anatole-personagem, retomava os “percevejos
que eram como este mahométane!” do Sancho do Quixote de Avellaneda. Já as pulgas de Bandeira,
“quisera [ele, Bandeira,] que fossem feitas assim!”, não passadistas como o próprio sujeito de
Anatole ou como aqueles versos jogados. Como a própria personagem de Anatole, de Avellaneda
e o percevejo / a pulga de Bandeira surgem de um espaço insólito compõe a questão deste artigo,
dando continuidade à iluminação de Sílvio Elia ao denominar Bandeira de “prosador maior”, dada
a estranheza da(s) crônica(s) e sua mobilização nessas prosas do poeta e também em sua poesia.
Finalmente, lemos o insólito não dado por estórias como devir, apesar da lamentação do Itinerário
“Mas eu é que sei que não nasci com bossa para isso [para a prosa]. Bem que o tentei várias vezes.”
PALAVRAS-CHAVE: Filologia; Periodismo; Narrativa; Insólito; Crônica.
THE NON-QUIXOTIC PROSE OF BANDEIRA
fiction or poetry
ABSTRACT: Bandeira, without writing a single short story, tells countless histories. In a letter to João
Cabral, he complains about septenaries laid out by his friend as Christmas celebration in a postcard
that seemed Anatole France’s fleas. The fleas came from Les matinées de la Villa Saïd, where a
professor Brown, chatting with the Anatole-character himself, remembered Sancho’s “bug beds that
were like this Mahometan!” from Avellaneda’s Quixote. On the other hand, Bandeira’s fleas, he
expected, “were done like that!”, outdatedly, like Anatole himself, or those laid out verses. How
Anatole’s own character, Avellaneda and how the flea / bed bug from Bandeira hint a space that
arises uncannily compose this essay’s question, carrying on Silvio Elia’s illumination: Bandeira as
a distinguished prose writer; given the defamiliarization in his stories and in his poetry. Finally, the
uncanny in such non-short stories is read as becoming, though Bandeira weeps in the Itinerário: “But
I know I wasn’t born with bossa for prose. Though I tried it many times.”
KEYWORDS: Philology; Periodical studies; Narration; Uncanny; Crônica.
João Paulo Zarelli Rocha é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade
Federal de Santa Catarina.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT