Proposta para a estimação da corrupção regional no Brasil

AutorAndré Carraro - Isis Born Machado - Mário Duarte Canever - José Luis Serafini Boll
CargoDoutor em Economia pela UFRGS - Mestra em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Doutor em Administração pela Wageningen University - Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS)
Páginas326-352
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2015v14n31p326
326 326 – 352
Proposta para a estimação da
corrupção regional no Brasil
André Carraro1
Isis Born Machado2
Mário Duarte Canever3
José Luis Seraf‌ini Boll4
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar uma metodologia alternativa de estimação da corrupção
regional no Brasil. Sabe-se que a corrupção afeta negativamente a ef‌iciência dos ser viços públi-
cos, e mesmo sendo um problema antigo, somente há pouco tempo têm sido aprofundados os
estudos nessa área. São poucos, e muitas vezes inconsistentes os índices com dados objetivos
para calcular a corrupção. Para este novo índice, utilizamos como a principal fonte de dados a
base de dados do Cadastro de Responsáveis com Contas Julgadas Irregulares (Cadirreg), já que
esta se fundamenta em análise multivariada, mais especif‌icamente no método dos componentes
principais. A análise deste índice torna possível identif‌icar os estados mais, ou menos, corruptos,
para, então, o governo ter possibilidade de tomar medidas preventivas a este problema. Encontra-
mos como estados brasileiros mais corruptos Bahia, São Paulo e Maranhão; já Acre, Rondônia e
Santa Catarina apresentaram os menores índices de corrupção.
Palavras-chave: Corrupção Regional. Método dos componentes principais. Economia política.
1 Introdução
Tendo como referência o ano da primeira divulgação dos dados do Índice
de Corrupção Percebida da Transparência Internacional (ICP-TI), a linha de
pesquisa em economia da corrupção está atingindo a sua maioridade. Desde
1 Doutor em Economia pela UFRGS. Professor Associado da UFPel. Membro docente e pesquisador do Programa
de Pós-Graduação em Organizações e Mercados (PPGOM/UFPel). E-mail: andre.carraro@gmail.com
2 Mestra em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Administradora no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul). E-mail: isisbmachado@gmail.com
3 Doutor em Administração pela Wageningen University. Membro docente e pesquisador do Programa de
Pós-Graduação em Organizações e Mercados (PPGOM/UFPel). E-mail: canever@ufpel.edu.br
4 Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS). Auditor na Controladoria Geral da
União. E-mail: joseluisboll@gmail.com
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 14 - Nº 31 - Set./Dez. de 2015
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então, expandiu a pesquisa empírica na busca de determinantes e consequên-
cias para a incidência de corrupção em uma sociedade. A contribuição no
entendimento dos fatores associados ao problema de corrupção ajudou no
desenvolvimento de políticas anticorrupção por parte de países ou de órgãos
internacionais. Por exemplo, somente o Banco Mundial auxiliou no desenvol-
vimento de 600 programas anticorrupção desde o ano de 1996 (BANERJEE;
HANNA; MULLAINATHAN, 2012).
Apesar dos avanços obtidos, a linha de pesquisa em economia da corrup-
ção possui dois grandes desaos. Em termos teóricos, os primeiros modelos
econômicos (ROSE-ACKERMAN, 1975, 1978) associavam corrupção com
o crime privado, seguindo a linha de argumentação do modelo tradicional
de crime de Becker (1968). Esses modelos estão fortemente fundamentados
em punições que desencorajem a prática do crime. Em um segundo momen-
to, esses modelos evoluíram para a aplicação do problema de moral hazard
(ESKELAND; THIELE, 1999) como um caso genérico do caso de corrup-
ção. Apesar dos avanços teóricos, esses modelos econômicos possuem os seus
limites no entendimento dos diferentes conceitos de corrupção, e de sua in-
cidência em instituições distintas. Por exemplo, utilizando o conceito clássico
de corrupção como o rompimento de uma regra para ns de um proveito
privado de um agente público (JAIN, 2001), o desao teórico está no desen-
volvimento de modelos que consigam explicar o processo político de escolhas
das regras que serão quebradas.
Acompanhando a evolução teórica, a mensuração da corrupção evoluiu
signicativamente desde as primeiras metodologias baseadas em denúncias
publicadas na imprensa5. A partir da década de 1980, empresas de avaliação
de risco de investimento incluíram o termo corrupção dentro de suas análises
com a utilização da informação passada por “experts” do país6. No entanto, foi
na década de 1990 que ocorreu a consolidação da metodologia de mensuração
da corrupção baseada na percepção dos participantes sobre a incidência e im-
portância desta variável em seu país. Notadamente, o índice disponibilizado
5 Alan Doig, um pesquisador no campo da corrupção, e começou seu trabalho a partir de dados do jornalismo
investigativo (SPECK, 2000).
6 Entre esses índices, o ICGR foi o que ganhou maior destaque, sendo utilizado como base de dados para o
trabalho pioneiro de Mauro (1995).

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