Prológo - quem pode falar pelos subordinados?

AutorAdilson José Moreira
Páginas21-27
21
PRÓLOGO
QUEM PODE FALAR PELOS
SUBORDINADOS?
Meu pai me contava muitas histórias quando eu era criança. Devo
dizer que gostava de ouvir aqueles casos; era uma das poucas oportunidades
que tinha de ter contato mais próximo com um homem que ainda
trabalhava muito, mesmo após sua aposentadoria. Confesso, porém, que
essas histórias começaram a me incomodar quando atingi a adolescência.
Não porque elas tivessem deixado de ser significativas para mim ou
porque estivesse mais interessado em interagir com os garotos da minha
idade. Muitos casos eram relatos de situações discriminatórias, de
obstáculos pessoais, de desestruturação familiar, de perda de vidas. Quase
todas mostravam de uma forma ou de outra como a raça impede o acesso
das pessoas a oportunidades necessárias para uma vida digna. O
amadurecimento também aumentou meu constrangimento. Antes eu
achava que eram apenas histórias sobre experiências de pessoas
imaginárias. Percebi depois que ele falava sobre a própria vida. Meu
coração ficava repleto de tristeza por perceber que meu pai teria tido
uma vida profissional de grande sucesso se as dificuldades contadas nessas
histórias não tivessem ocorrido. Ele teria sido uma pessoa mais realizada,
poderia ter contribuído para a sociedade brasileira como poucos.
Suas narrativas demonstravam que ele era uma pessoa de grande
inteligência analítica, um indivíduo muito disciplinado, um sujeito

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