Primeiros Clientes. 'DENARC' - menores - curadoria

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas35-39

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Tudo começou no "Denarc" - Departamento de Narcóticos - situado na Rua Brigadeiro Tobias, quando fui atender um rapaz de nome Adelino Cremonese, detido por estar portando pequena quantidade de maconha, sendo certo que o padrasto desse preso era Investigador de Polícia e atendia pelo sugestivo apelido "Bate-Estaca".

O nome dessa Rua encarna homenagem, deferida ao "Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar", criador da Polícia Militar.

A indicação partiu do Delegado de Polícia Luis Rubens Russo, que atuava no 5º Distrito, no bairro da Aclimação, perto do meu "apertamento", repartição que passei a frequentar, algumas noites, no intuito de "pescar" clientes.

Numa dessas "pescarias", bem me lembro, chegou preso, conduzido por militares, um senhor alto, negro, magro, de cabelos brancos.

Tratava-se de conhecido traficante, que atuava no "Parque da Aclimação".

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Ao ser revistado, antes de ser posto no "corró", ou seja, numa saleta onde os presos aguardam a confecção do auto de prisão, "eu vi, porque eu estava lá", um soldado "plantar" um pacotinho de cocaína nas vestes do velho.

O preso olhou para mim e, com os olhos, sinalizou que "havia visto que eu havia presenciado o momento e a ação criminosa do "plantio" do entorpecente.

Dois dias após, voltei ao Distrito e pedi ao Delegado para falar com aquele preso.

Autorizado, conversei e me ofereci para defendê-lo, gratuitamente.

Com procuração, defendi e absolvi o "Nego Veio".

"Negão, Cabo Eleitoral":

Não imaginava cuidasse o "Negão" de antigo "piolho de cadeia", super conhecido no "Carandirú" e, menos ainda, que esse "cliente" fosse contar para todo mundo acerca do meu gesto, gritando para todo o Pavilhão meu nome e a "minha vitória".

Aquele processo correu junto à 17a Vara Criminal.

O Juiz chamava-se Jarbas Coimbra Mazzoni, fumava cachimbo, e o Promotor era o Doutor Júlio César Ribas, mencionado mais adiante.

Depois disso, o meu escritório começou ser procurado por familiares de presos da Casa de Detenção, o mais das vezes pobres.

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Iniciante, obstinado pela advocacia criminal, SEM PADRINHO e SEM CLIENTES, assim como vários colegas, ofereci-me para a função gratuita de "Curador", de acompanhamento de interrogatórios de menores, o que me ensejou a conhecer Escrivães, Investigadores e Delegados da Polícia Civil.

Muitas vezes, em verdade, essa "ajuda" à polícia acabava por encarnar dissimulada "captação de clientela".

Não raro, maiores de idade, da "classe média" e até da "alta" eram...

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