Primeira entrevista com o ministro Marco Aurélio Mello

AutorPedro Jimenez Cantisano/Thomaz Henrique Pereira/Michael Freitas Mohallem
Páginas36-88
36 HISTÓRIA ORAL DO SUPREMO [VOLUME 18]
Primeira entrevista
com o ministro Marco Aurélio Mello
PROJETO > História Oral do Supremo (1988-2013)
ENTREVISTADO > Marco Aurélio Mendes de Farias
Mello
LOCAL > Brasília, DF
ENTREVISTADORES > Michael Mohallem, Pedro
Cantisano, Thomaz Pereira
TRANSCRIÇÃO > Lia Carneiro da Cunha
DATA DA TRANSCRIÇÃO > 08 de dezembro de 2016
CONFERÊNCIA DE FIDELIDADE > Leonardo Sato
DATA DA CONFERÊNCIA > 28 de junho de 2017
1ª ENTREVISTA > 28 de setembro de 2016
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Escola de Direito do Rio de Janeiro (FGV
DIREITO RIO), o Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea
do Brasil (CPDOC) e a Escola de Direito de São
Paulo (Direito GV).
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MARCO AURÉLIO MELLO
Apresentação pessoal, de sua família e memórias
da infância
[PEDRO CANTISANO > PC] Como o senhor sabe, o projeto
tem interesse na sua trajetória, então a gente costuma começar
perguntando o seu nome completo, de onde o senhor veio, o nome
de seus pais, quando o senhor nasceu. A gente começa por aí.
[MARCO AURÉLIO MELLO > MAM] Inicialmente, que-
ro registrar a valia dessa iniciativa da Fundação Getulio Vargas.
O país precisa de memória. E, evidentemente, deve abranger a
última trincheira da cidadania, que é o Supremo Tribunal Fe-
deral. O acesso ao Supremo mostrou-se algo inimaginável em
minha vida acadêmica. Sinto-me à vontade para expressar as-
pectos de minha vida judicante. Sou Marco Aurélio Mendes de
Farias Mello, brasileiro, carioca, torcedor do Flamengo,  lho de
advogado, Plínio Affonso de Farias Mello, e de Eunice Mendes
de Farias Mello. Estou em Brasília desde 1981, já que fui desloca-
do da Cidade Maravilhosa, onde era juiz, para o Planalto visando
assumir o cargo de ministro do Tribunal Superior do Trabalho.
[PC] Conta para a gente a sua infância. O senhor nasceu... ?
[MAM] No Rio de Janeiro, de pai nordestino, advogado, que
deixara Alagoas aos 16 anos de idade para vencer no Rio de Ja-
neiro. Buscou nos transmitir a concepção da realidade que se
tem no Brasil e nos manteve o tempo todo em contato com a na-
tureza, dado importantíssimo para aguçar a sensibilidade huma-
nística que todo e qualquer julgador deve ter.
[PC] O que o senhor quer dizer com contato com a natureza?
[MAM] Meu pai, a vida inteira, buscou implementá-lo. To-
cou fazenda, algo interminável, em termos de aprimoramento do
que você cria, do que você cultiva. E a lembrança que tenho é do
deslocamento, na década de 50, do Rio de Janeiro para a Região
dos Lagos. Meu pai foi pioneiro na região de Araruama, Iguaba
38 HISTÓRIA ORAL DO SUPREMO [VOLUME 18]
Grande e São Pedro da Aldeia, comprando propriedades no local.
Adquiria salinas, aterrando-as para abrir loteamentos. E, ao lado
desse empreendimento econômico, da imobiliária – a família
mantém a imobiliária até hoje –, cuidava da fazenda. Portanto,
mexia com a natureza, com a criação de animais e com a agricul-
tura. Acredito que isso contribuiu muito para a minha formação
humanística.
[PC ] E no Rio de Janeiro, vocês moravam onde?
[MAM] Moramos, inicialmente, onde fui criado, em Jacare-
paguá – mas quando Jacarepaguá era Jacarepaguá. Era um local
aprazível e, acima de tudo – o que não se tem hoje no Brasil em
geral e, especialmente, no Rio de Janeiro –, seguro. Lembro que
morávamos na estrada do Gabinal, que ainda não era asfaltada.
Íamos do sítio, percorrendo distância de cerca de um quilôme-
tro a pé, até o Largo da Freguesia para pegar o bonde – e não sei
por que acabaram com o bonde na cidade do Rio de Janeiro – e
chegar a Cascadura, onde estava o Colégio Souza Marques, que
cursei do jardim da infância até o início do ginásio.
[PC] Isso era em que ano, mais ou menos?
[MAM] Nasci em 1946; logo, a vida educacional começou na
década de 50. Nos anos 60, porque precisávamos aprimorar os
estudos, papai mudou-se para mais perto do Centro do Rio de Ja-
neiro, para a Tijuca. Passei por alguns colégios, estive, inclusive,
no Pedro II. Minha formação como adolescente foi, em grande
parte, na Tijuca e, também, na Região dos Lagos, em Araruama,
em Iguaba Grande e em São Pedro da Aldeia.
[PC] E, ali, a família, como veio de outro estado, imagino... f‌i ze-
ram amigos no Rio de Janeiro? Como era?
[MAM] Meu pai chegou muito cedo ao Rio de Janeiro,
como disse, aos 16 anos, casou com minha mãe, carioca,  lha de
portugueses, surgindo a família. Somos cinco irmãos e sempre
estivemos centrados nessa mola mestra da sociedade, a família.

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