Previna-se quem puder!? Epidemiologia dos desastres e gestão hiperpreventiva de riscos catastróficos

AutorLuis David Castiel
Páginas116-136
Cad. de Pesq. Interd isc. em Ci-s. Hum-s. , Florianópolis, ISSN 1984-8951
v.15, n.107, p. 116-136, ago/dez 2014
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1 Considerações iniciais: a epidemiologia dos desastres
Vulcões explodem e lançam cinzas ao ar e lava a seu redor, terremotos e
maremotos destroem cidades e matam pessoas. Furacões, tornados e tempestades
também. Asteroides e meteoritos caem na superfície da Terra e provocam danos.
Tantas desgraças (não é à toa a conotação religiosa desta expressão) parecem
fazer parte, mais popularmente, das “coisas da vida” ou das “fatalidades da
natureza”, ou mesmo de “desígnios divinos”.
Mesmo assim, conforme as contingências de cada situação calamitosa, a
responsabilidade tende a recair como sendo do próprio ser humano e de suas ações
indevidas em seu planeta. Mas, a queda e o desaparecimento de grandes aviões de
carreira, por exemplo, ou a morte de pessoas que trabalham em mineração profunda
ou numa plataforma de prospecção de petróleo, ou, ainda a conta minação ambiental
de ar, solos e recursos hídricos já torna as avaliações e atribuição de
responsabilidades sob outros critérios e outras alçadas jurídicas.
A preocupação cada vez maior com a dimensão preventiva, então, se apresenta
em um processo de expansão aparentemente ilimitada e, também, o estado de
hiperprevenção aos riscos catastróficos – seja para muitos ou para o indivíduo - vai
assumindo uma feição onipresente. Foucault ressaltou a ausência de limites quanto
às funções da atuação preventiva estatal. Afirmava que uma força externa não
possui condições de se contrapor à governamentalidade no Estado moderno
(FOUCAULT, 2008).
Mesmo assim, o âmbito da racionalidade da saúde pública atual para o
enfrentamento dos riscos catastróficos torna imprescindível uma epidemiologia dos
desastres. Como definir epidemiologia dos desastres? Pode-se aventar que o
presente formato assumido por este campo se localiza no início da década de 1990.
Trata-se, em termos esquemáticos, de uma epidemiologia intervencionista, onde se
destacam desde esta época os trabalhos de Eric K. Noji. Atualmente, é Professor de
Epidemiologia da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e Diretor
Executivo da Noji Global Health & Security LLC, conhecido pelo trabalho pioneiro
acerca do uso das redes globais de comunicação e mídia social para tratar de
desastres, ajuda humanitária e outras crises em saúde pública (HOPKINS , 2013).

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