Prefácio

AutorFlávio Saliba Cunha, Roberto Dutra Torres Júnior
Páginas7-10
Prefácio
Flávio Saliba Cunha e Roberto Dutra Torres empreendem, neste
excelente ensaio, “O Diálogo dos Clássicos: Divisão do Trabalho e
Modernidade na Sociologia”, uma reflexão crítica sobre o que
pareceria o fio condutor das obras aparentemente contrastantes de
autores como Marx, Durkheim, Weber e Simmel, ao mesmo tempo
em que tecem considerações sobre a adequação do pensamento
clássico no que concerne a uma interpretação do sistema capitalista
contemporâneo, fundado em relações de mercado hegemônicas. Os
autores identificam tal comunalidade no processo de divisão social
do trabalho, ainda que com diferentes apreciações pelos clássicos,
como uma tendência inexorável da modernidade e como inerente à
lógica de expansão do sistema capitalista.
A importância da reflexão aqui empreendida fica evidente
quando se tem em conta a centralidade do processo de divisão
social do trabalho no âmbito de relações de mercado que se
universalizaram com a integração progressiva da ordem capitalista
num sistema globalizado. Por essa razão mesma, ao apontar a
divisão do trabalho como fio condutor na produção teórica da
sociologia, o texto também ajuda a compreender a maneira pela
qual a ideologia pró-mercado, consubstanciada nas teorias e
práticas neoliberais, atingiu a estatura de pensamento hegemônico,
quase dogmático, em décadas recentes. Desta forma, mais do que
novamente salientar o papel fundador dos clássicos da sociologia
em termos de sua acuidade em identificar tendências básicas que
vieram a se constituir na trajetória mesma da sociedade moderna,
Cunha e Torres, na verdade, convidam os leitores a repensar certos
traços do contexto contemporâneo como desdobramentos da
referida trajetória. Em outras palavras, no processo de diferenciação
crescente, determinado pela divisão social do trabalho, residiria a
chave para a compreensão de sua contrapartida, isto é, o processo
inverso de equalização crescente promovido pela expansão das
relações de mercado.
Este aparente paradoxo é explorado de maneira competente
pelos autores neste ensaio. Partindo da identificação do eixo comum

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