Prefácio

AutorFrancesco Carnelutti
Ocupação do AutorAdvogado e jurista italiano
Páginas5-12

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A Voz de São Jorge parte do Centro de cultura e civilização da Fundação Giorgio Gini, que tem sua sede em Veneza, cidade maravilhosa, nessa ilha situada defronte da praça de São Marcos e do Palácio Ducal, os quais as arquiteturas de Buora, de Palladio e de Longhena, hoje ressurgidas em seu antigo esplendor, têm circundado de tanta maravilha.

O Centro propõe-se a fazer servir a cultura à civilização, ou seja, em simples palavras, o saber à bon-dade. Deveria ser este o destino do saber; mas nem sempre as coisas seguem como deveriam. Também o saber, para dar o exemplo da energia atômica, pode

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servir ao bem como ao mal, ou fazer com que os ho-mens passem a ser piores ou melhores, ou fazer com que possa levantar a cabeça em atitude de soberba ou incliná-la em ato de humildade.

O que, para tal objetivo, dever-se-ia fazer neste ano é pensar algo em torno do processo penal. Um tema científico, à primeira vista, pouco adequado para uma conversação com o grande público, o qual, especial-mente na rádio, tem vontade de se divertir. Mas aqui está precisamente o cerne da questão, em tema de civilização. Divertir-se quer dizer escapar da vida cotidiana, a qual é tão monótona, tão difícil, tão amarga, que faz com que resulte irresistível a necessidade de evasão. Não estou fora da realidade ao extremo de não reconhecer, ou de não experimentar esta modesta necessidade. Porém, existe outra saída para evadir-se, além da diver-são. É a saída oposta; diz o provérbio que os extremos se tocam. Esta saída é o recolhimento. Ao final de tudo, não há evasão mais completa que a prece, que é a forma esquisita de recolhimento. Muitas pessoas não o sabem porque não o provam. Mas aqueles que têm experimentado o consolo da prece sabem o que se tem de pensar a respeito da diversão e do recolhimento.

Um pouco em todos os tempos, porém na época atual cada vez mais, o processo penal interessa à

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opinião pública. Os jornais ocupam uma boa parte de suas páginas com a crônica dos delitos e dos processos. Quem os lê tem consigo a impressão de que neste mundo se produzem muito mais delitos do que boas ações. O que ocorre é que os delitos assemelham-se às papoulas, que quando há uma em um campo, todos se dão conta dela; e as boas ações se ocultam, como as violetas entre as ervas do prado. Se os jornais se ocupam com tanta assiduidade dos delitos e dos processos penais, é porque a gente se interessa muito por eles; sobre os processos penais chamados célebres...

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