Prefácio

AutorRodrigo Chagas Soares
Ocupação do AutorMestre e Especialista em Direito do Trabalho, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
Páginas11-12

Page 11

O trabalho que tenho a honra de prefaciar retoma, com elegância e competência, uma importante linha de trabalho e de pesquisa, que gravita em torno da organização e da negociação sindical no local do trabalho.

É bem provável que iniciativas de atuação sindical no ambiente de trabalho sejam, talvez, tão antigas, quanto a própria história do ativismo operário.

Foi, porém, apenas nas primeiras décadas do século XX, que essa atuação adquiriu grandeza programática e doutrinária, incorporando-se de modo permanente ao repertório de bandeiras e de estratégias da luta sindical, chegando até nossos dias.

Suas primeiras formulações são, em geral, creditadas ao pensamento anarquista e à seminal contribuição da doutrina "conselhista" de orientação marxista, presente em autores tão diversos como Karl Korsch, Anton Pannekoek, Herman Gorter e no mais marcante entre deles: o pensador italiano Antonio Gramsci.

A ênfase na luta pelo poder no interior do local do trabalho sempre correspondeu - e ainda corresponde - a um feixe muito variado e polêmico de propósitos e de estratégias políticas.

Interessa aqui destacar aquele que seria mais tarde incorporado ao repertório da doutrina jurídica; em especial, do direito sindical: a perspectiva de democratização da empresa e de conquista do direito de organização, de manifestação e de negociação no local de trabalho.

Em outros termos: permitir que o oxigênio virtuoso da democracia contamine o ar respirado no interior dos muros da fábrica.

Ocorre que o conceito de "local de trabalho" sofrerá inúmeras transformações no curso do século XX e mesmo no início deste século.

Da noção de "chão de fábrica", desenhado à imagem do estabelecimento estrita ou predominantemente fabril, transitamos para novos espaços de aglutinação de numerosos trabalhadores, tais como os estabelecimentos de empresas de serviços, de comércio, de financeiras e até mesmo aquele das novas "repartições públicas" criadas a partir da ampliação do plexo de "serviços" caudatária do estado de bem-estar social.

Mas não é quanto à natureza da atividade que o velho "chão de fábrica" cederá lugar a novas figuras.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a expansão dos processos comunicativos de computação e rede, o "chão" ou o locus, em que historicamente se organizou a prestação social do trabalho humano em escala industrial desde meados do século XIX, torna-se, crescentemente, abstrato e "virtual".

Refiro-me aqui a algo bem mais amplo e radical...

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