Práticas de comunicaão como forma de emancipaão social: três possibilidades de encontro com a diversidade social

AutorFlávia de Almeida Moura, Larissa Leda Fonseca Rocha, Letícia Conceião Martins Cardoso, Patrícia Azambuja, Ramon Bezerra Costa
Páginas617-634
PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO COMO FORMA DE EMANCIPAÇÃO SOCIAL: três possibilidades
de encontro com a diversidade social1
Flávia de Almeida Moura2
Larissa Leda F. Rocha 3
Letícia Conceição Martins Cardoso4
Patrícia Azambuja5
Ramon Bezerra Costa6
Resumo
Pensar a comunicação para além da sua materialidade tecnológica, portanto como processo de conexão humana, é crucial
para compreender como indivíduos relacionam-se e são transformados culturalmente, em diferentes realidades sociais.
Refletir sobre eventos recentes, em muitos casos, reverberados a partir das práticas comunicacionais, passa a ser
fundamental para o desenvolvimento das relações humanas e da própria noção de sociedade, logo, da existência coletiva.
O presente artigo apresenta três estudos exploratórios de natureza qualitativa com o objetivo de demonstrar hipóteses sobre
fenômenos contemporâneos sintomáticos nos atravessamentos entre confiança, verdade, memória, identidade cultura
popular e possibilidades de projetos emancipatórios baseados na utilização do conhecimento como ferramenta de
visibilidade para diversidade em nosso país.
Palavras-chave: Comunicação. Emancipação. Cultura.
COMMUNICATION PRACTICES AS A FORM OF SOCIAL EMANCIPATION: three possibilities of meeting social
diversity
Abstract
Thinking of communication beyond its technological materiality, therefore as a human connection process, is crucial to
understand how individuals relate and are culturally transformed, in different social realities. Reflecting on recent events, in
many cases, reverberating from communicational practices, becomes f undamental for the development of human relations
and the very notion of society, therefore, of collective existence. This article presents three exploratory studies of a qualitative
nature in order to demonstrate hypotheses about symptomatic contemporary phenomena in the crossings between trust,
truth, memory, identity, popular culture and possibilities of emancipatory projects based on the use of knowledge as a
visibility tool for diversity in our country.
Keywords: Communication. Emancipation. Culture.
Artigo recebido em: 11/11/2019. Aprovado em: 29/01/2020
1 Os três artigos estão, em suas versões completas, disponíveis nos Anais da IX Jornada Internacional de Politicas Publicas:
Civilizacao ou Barbarie: o futuro da humanidade: AZAMBUJA, P. K.; COSTA, R. B; MOURA, F.; ROCHA, L. L. F.;
CARDOSO, L.C.M. Práticas de comunicação como forma de emancipação social. In: IX Jornada Internacional de Politicas
Publicas. Sao Luis: Universidade Federal do Maranhao, Programa de Pos G raduacao em Politicas Publicas, 2019. Acesso
pelo ink: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2019/images/trabalhos/326.pdf
2 Doutora em Comunicação pela Pontifícia U niversidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora adjunta do
Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: flaviaalmeidamoura29@gmail.com
3 Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora adjunta do
Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: larissaleda@gmail.com
4 Doutora em Comunicação (2016) pela PUC -RS. Professora Adjunta do Departamento de Comunicação Social da UFMA.
E-mail: leticiaufma@gmail.com
5 Doutora em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Professora Adjunta da Universidade Federal
do Maranhão . E-mail: patriciaazambuja@yahoo.com.br
6 Doutor em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGCOM/UERJ). Professor do Departamento de
Comunicação Social e do Programa do Pós-Graduação em Comunicação (Mestrado Profissional) da Uni versidade Federal
do Maranhão (UFMA).E-mail: ramonbzc@gmail.com
Patrícia Azambuja, Ramon Bezerra Costa, Flávia de Almeida Moura, Larissa Leda F. Rocha e Letícia Conceição Martins
Cardoso
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1 INTRODUÇÃO
Se algo parece incontestável nos dias atuais, talvez seja o fato de que compartilhamos um
momento de prementes reflexões sobre o presente ou sobre viáveis consequências de nossas
escolhas. Em meio à presunção de falha das instituições, crise no jornalismo, invisibilidades e
apagamentos intencionais de grupos humanos, memórias, temas e debates, parte -se do entendimento
que algumas ideias alardeadas como verdades absolutas sejam o reflexo do imbricamento passional e
superficial em torno de uma complexa rede de relações, dentro da qual as práticas de comunicação
corroboram e sustentam posições. Partindo do entendimento que práticas de comunicação permeiam
nossas mais desavisadas ocupações diárias e, fundamentalmente, pressupõem seu uso consciente e
articulado como base para o desenvolvimento humano e social, propomos no artigo que se segue
reflexões sobre possíveis fragilidades degradantes e inventividades emancipatórias.
Pesquisadores do campo da Comunicação são impelidos, cada vez mais, a compreender
estas etapas fundamentais para o desenvolvimento da humanidade, sempre ponderando sentidos,
intencionalidades e reverberações. Logo perscrutam transversalmente acerca de métodos de análise
cultural, relativos à economia política, memória e (r)existência, produção de sentidos, assim como
afetos e emoções envolvidos na trama complexa que estrutura as interações sociais. Afinal, os
processos de comunicação estabelecem "o palco para um tipo de jogo de informação, um ciclo
potencialmente infinito de encobrimento, descobrimento, revelações falsas e redescobertas"
(GOFFMAN, 1985, p.17), isto é, são indispensáveis para a manutenção das relações humanas
permanentes e mutáveis. As diversas possibilidades e modos de conexão entre as pessoas permitem
e mesmo exigem que sejam muitos os campos que atravessem a comunicação contemporânea (ou
por ela sejam atravessados). Entretanto, alguns dos objetos relatados aqui nem sempre tiveram sua
representatividade claramente demarcada pela mídia. Buscam resistir à invisibilidade também como
objeto de estudo, como componente social e humano ou elemento de transformação.
Como reflexão inicial, o termo "pós-verdade", que vem ocupando muitos dos debates em
torno da comunicação contemporânea, pode ser entendido como a decisão da opinião pública em
sobrepor crenças pessoais, contraditórias e de recorte puramente emocional aos argumentos objetivos
e práticas baseadas na lógica dedutiva. Este processo, que muitas vezes reverte a lógica do
pensamento científico, conhecido e legitimado, passa a ser questão preponderante que interfere
diretamente em nosso desenvolvimento como seres humanos racionais e, consequentemente, como
sociedade organizada. Se tecnologicamente atingimos um patamar nunca antes observado, em termos
de velocidade e capacidade de armazenamento, observa-se que pouco desenvolvemos em termos
cognitivos humanos de processamento. Se temos acesso a um universo complexo de informações,

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