O pragmatismo estético e social de John Dewey

AutorClóvis Falcão
CargoProfessor da Faculdade Damas da Instrução Cristã. Doutor em Direito pela UFPE
Páginas278-315
Revista Acadêmica, Vol. 85, Nº1, 2013
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O PRAGMATISMO ESTÉTICO E SOCIAL JOHN
DEWEY
óvis Falc
Professor da Faculdade Damas da Instruç ão
Cristã. Doutor em Direito pela UFPE.
Resumo: Numa divisão tradiciona l, a estética, a epistemologia e as questões
sociais ocupam campos teóricos distintos. Embora esses campos se
relacionem com frequência na literatura, poucas vezes são tão unidos
quanto na filosofia de John Dewey. Para este autor, um iluminista no
sentido mais poético do termo, a compreensão do mun do é estética, e o
conhecimento científico pressupõe, em última instância, a intuição típica
do artista. N essa visão unitária do conhecimento e da natu reza humana, a
estrutura socioeconômica é a grande responsável pela cisão, na filosofia e
na cultura em geral, entre verdade e beleza. Este texto é um breve resgate
da filosofia de Dewey e, indiretamente, da união intuitiva que caracteriza
as primeiras décadas do pragmatismo filosófico.
Palavras-chave: Pragmatismo - John Dewey - Estética - Ética -
Epistemologia
Abstract: In a traditional division, aesthetics, epistemology and social issues
are different theoretical fields. Although these fields relate fre quently in
literature, they are seldom as united as in the philosophy of John Dewey.
For this author, the Enlightenment more poetic sense, understanding of the
world is aesthetic, and scientific knowledge presupposes ultimately, the
typical artist's intuition. In this unitary v iew of knowledge and of human
nature, the socio-economic structure is largely responsible for the
breakup, in philosophy and culture in general, between truth and beauty.
This text is a brief review of Dewey's philosophy and, indirectly, the
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intuitive unity that characterizes the early decades of philosophical
pragmatism.
Keywords: Pragmatism - John Dewey - Aesthetics - Ethics Epistemology
Introdução
John Dewey é, por ordem cronológica, o terceiro dos
mais importantes pragmatistas clássicos. Ele foi responsável
pelo amadurecimento da filosofia pragmática e também pela
sua expansão para âmbitos sociais e políticos. Sendo um
libertário convicto, traz a epistemologia para a praça pública,
defendendo uma ordem social que rejeita dogmas e tolera a
mudança. Essa associação entre filosofia e ideias libertárias
sugere o pragmatismo como uma filosofia do Estado liberal;
nem sempre essa associação é elogiosa, mas tem fundamento.
Os ideais da filosofia pragmática, especialmente com James e
Dewey, pregam o pluralismo e tolerância em assuntos
públicos e privados, valorizando a intuição e a prudência da
prática e do senso comum. 1 Embora seja possível uma
associação dos valores pragmatistas a outras formas de
sociedade, a democracia liberal e o pragmatismo filosófico se
alinham harmoniosamente. Não obstante, a democracia é vista
1 Para uma compreensão histórica do pragmatismo filosófico, o premiado
livro de Louis Menand, “The metaphysical club” (2001).
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por Dewey como um processo de construção de consenso e
liberdade, e não uma ferramenta da prosperidade econômica.
Um consumismo hegemônico que transforme o cidadão em
produto é o oposto do liberalismo que ele defende. Ele é um
libertário iluminista, não um defensor do liberalismo
econômico.
A obra do autor é vasta e, em muitos momentos,
densa. Quando escreve filosofia, 2 não é um escritor claro
como William James, e sua argumentação raramente é linear,
volta constantemente aos mesmos assuntos e beira a
monotonia. Somado a isso, não é um autor que se preocupe
em definir os termos centrais de sua argumentação,
preferindo que o leitor (e ele próprio) descubra o significado
enquanto a ideia é exposta. Em um texto como "
Art as
experience
", cada capítulo parece trabalhar toda a
problemática do livro, posto que elementos centrais se
repetem em toda a extensão da obra (experiência,
compatibilidade entre utilidade e prazer, insuficiência do
racionalismo para avaliar a arte, a crítica política das
dicotomias). Essas considerações são uma crítica, mas não
necessariamente negativa: assim como a informalidade de
2 Seus ensaios políticos, especialmente os ma is curtos, possuem uma
linguagem mais direta, mas não se trata primordialmente deles aqui.

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