Portugal e a guerra civil de Espanha (1936-1939): uma introdução

AutorRuben Serem
CargoEarly Career Fellow da Leverhulme Trust, London, England
Páginas204-223
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p204
PORTUGAL E A GUERRA CIVIL DE ESPANHA (1936-
1939): UMA INTRODUÇÃO
PORTUGAL AND THE SPANISH CIVIL WAR (1936-1939): AN
INTRODUCTION
Ruben Serem1
“Portugal tem o seu salvador nacional. Este gentleman, tal como os seus
parceiros Franco, Mussolini e Hitler, também ambiciona salvar a civilização
e entende, claramente, que o caminho mais rápido e, por essa razão,
misericordioso, para a salvação da civilização é através da sua destruição. O
seu nome é Oliveira Salazar […] ditador virtual de Portugal.”1 – Ralph Fox
Resumo: A Guerra Civil de Espanha (1936-1939), identicada por César
Oliveira, o mais reputado hispanista português, como “a última das guerras
político-ideológico-religiosas da Europa”2, teve profundas repercussões
internacionais, de Lisboa a Moscovo e, se incluirmos a participação das
*Early Career Fellow da Leverhulme Trust, London, England.
E-mail: ruben.serem@hotmail.co.uk
205
Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 204-223, out. 2015.
Brigadas Internacionais, de Havana a Xangai.3 Uma opinião partilhada
pelo ditador português António de Oliveira Salazar, que famosamente
deniu o conito como “uma guerra internacional num campo de batalha
nacional”.4 De facto, para Salazar, a Guerra de Espanha apresentou-se como
uma oportunidade única para radicalizar o Estado Novo, nascido de uma
ditadura militar cuja génese foi o golpe de estado de 28 de Maio de 1926.
Concomitantemente, o segundo (e não menos importante) objetivo do regime
era substituir a jovem democracia espanhola, implantada em 1931, por
um governo ideologicamente compatível com o Estado Novo. A vitória da
autodenominada fação Nacionalista (uma nomenclatura que pressupunha que
a República Espanhola era antipatriota), caudilhada pelo General Francisco
Franco Bahamonde, foi fator determinante para a consolidação das ditaduras
salazarista e franquista, que viriam a sobreviver ao colapso do fascismo
europeu no pós-Segunda Guerra Mundial e perdurar até 1974, em Portugal, e
1975, em Espanha.
Palavras-chave: Guerra Civil de Espanha (1936-1939), Estado Novo,
António de Oliveira Salazar, Francisco Franco Bahamonde, relações luso-
espanholas.
Abstract:The Spanish Civil War (1936-1939), described by the foremost
Portuguese hispanist, César Oliveira, as “the last of the political-ideological-
religious war in Europe”, had profound international ramications, from Lisbon
to Moscow, and, if we include the participation of the International Brigades,
from Havana to Shanghai. An opinion shared by Portuguese dictator António
de Oliveira Salazar, who famously dened the conict as an “international war
fought in a national battleeld”. In truth, the civil war in Spain presented itself
as an unique opportunity to radicalise the Estado Novo, born out of a military
dictatorship that emanated from the 28 May 1926 coup d’état. Concomitantly,
the second (and equally important) objective of the Portuguese regime was to
overthrow and replace Spanish democracy, established in 1931 and therefore
still in its infancy, with a form of government ideologically compatible with
the Estado Novo. The triumph of the self-proclaimed Nationalist faction (a
choice of name that implied that the Republic was, somehow, antipatriotic),
headed by General Francisco Franco Bahamonde, played a decisive role in
the consolidation of Salazarism and Francoism, both of which would survive
the collapse of European fascism and endure until 1974 in Portugal and 1975
in Spain.
Keywords: Spanish Civil War (1936-1939), Portuguese New State, António
de Oliveira Salazar, Francisco Franco Bahamonde, Portuguese-Spanish
relations.
“A TARA DO PATRIOTISMO PORTUGUÊS”

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT