Política Monetária, Macroprudencial e Bancos: Evidências Empíricas usando VAR em Painel

AutorFernando da Silva Vinhado - José Angelo Divino
CargoDoutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Católica de Brasília, PPGE/UCB - Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Católica de Brasília, PPGE/UCB, Brasília, DF, Brasil
Rev. Bras. Finanças (Online), Rio de Janeiro, Vol. 13, No. 4, October 2015, pp. 691730
ISSN 1679-0731, ISSN online 1984-5146
©2015 Sociedade Brasileira de Finanças, under a Creative Commons Attribution 3.0 license -
http://creativecommons.org/licenses/by/3.0
Política Monetária, Macroprudencial e
Bancos: Evidências Empíricas usando
VAR em Painel
(Monetary and Macroprudential Policies and Banks: Empirical
Evidences from Panel-VAR)
Fernando da Silva Vinhado *
José Angelo Divino **
Resumo
O objetivo desse artigo é investigar as relações entre as políticas monetárias e
macroprudenciais e o setor bancário da economia brasileira, explorando a
estrutura cross-section como fonte de inter-relações entre aspectos sistêmicos
daquelas políticas e o comportamento dos bancos. Funções impulso-respostas
são computadas por estimações VAR em painel para 56 instituições que atuaram
no mercado bancário brasileiro entre 2001 e 2013. Dentre os resultados, pode-se
destacar a influência das políticas monetária e macroprudencial sobre os níveis
de exposição a riscos financeiros, capital e estabilidade financeira dos bancos.
uma co mplementaridade entre os instrumento s daquelas políticas e a
estabilização da inflação. As relações envolvendo métricas bancárias revelam
preferência por liquidez em c ontextos de maior risco, indícios d e uma estrutura
bancária competitiva e a formação de buffers de capital que favorecem a
Submetido em 03 de junho de 2015. Reformulado em 18 de dezembro de 2015.
Aceito em 18 de dezembro de 2015. Publicado on-line em 25 de janeiro de 2016. O artigo
foi avaliado segundo o processo de d uplo anonimato além de ser avaliado pelo editor.
Editor responsável: Márcio Laurini.
* Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Católica de Brasília PPGE/UCB e Pesquisador na Diretoria de Gestão de Riscos do
Banco do Brasil S.A, Brasília, DF, Brasil. E-mail: fernando.vinhado@catolica.edu.br.
** Professor e Pesquisador do Programa de P ós-Graduação em Economia da
Universidade Católica de Brasília PPGE/UCB, Brasília, DF, Brasil. E-mail:
jangelo@ucb.br.
Este artigo não reflete a opinião do Banco do Brasil S.A e/ou dos seus membros. Os
autores agradecem a dois pareceristas anônimos pelos comentários e sugestões. Pelo apoio
financeiro, Fernando da Silva Vinhado agradece à CAPES e José Angelo Divino agradece
ao CNPq.
Vinhado, F., Divino, J.
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estabilidade financeira. Isso ratifica a importância da exigência de capital como
instrumento para manutenção de um sistema financeiro estável.
Palavras-chave: política monetár ia; política macroprudencial; bancos; VAR em
painel.
Códigos JEL: E44; G21; G28.
Abstract
The objective of this pap er is to investigate the relationship between monetary
and macroprudential policies and the banking sector of the Brazilian economy,
exploiting its cross-section structure as a source of i nterrelations between
systemic aspects of those policies and the behavior of banks. Impulse -response
functions are computed from the estimation of panel -VAR for 56 institutions that
were active in the Brazilian banking sector between 2001 and 2013. Among the
results, we can highlight the influence of monetary and macroprudential policies
on levels of exposure to financial risk, capital and financial stability of b anks.
There is a complementarity between the instruments of those policies and the
stabilization of inflation. The relationships involving banking metrics reveal
preference for liquidity in contexts of higher risks, evidence of a competitive
banking structure, and formation of capital buffer that lead to financial stability.
This confirms the importance of capital requirements as a tool to maintain a
stable financial system.
Keywords: monetary policy; macroprudential policy; banks; panel-VAR.
1. Introdução
Bancos são instituições complexas, compreendidas tanto como
intermediários financeiros como criadores de meios de pagamento que
irrigam de liquidez a economia. Dessa forma, são percebidos como
instituições com comportamento decisivo capaz de influenciar o nível de
gastos dos agentes e, consequentemente, as variáveis reais da economia.
Ainda sob o aspecto macroeconômico, a moderna teoria monetária
enfatiza o papel da taxa básica de juros como o principal instrumento de
política monetária, sendo que uma parcela da transmissão dessa política
ao setor real da economia ocorre via canal do crédito bancário. Dessa
forma, os bancos assumem uma posição central para essa dinâmica, uma
vez que são instituições ofertantes do maior volume de crédito na
economia, tanto aos indivíduos quanto às firmas. Taylor (1995) foi o
pioneiro a identificar o uso da taxa de juros como o principal instrumento
da política monetária.
Política Monetária, Macroprudencial e Bancos: Evidências Empíricas usando VAR em Painel
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Adicionalmente, conforme aponta Galati & Moessner (2011), tem-se
o papel da autoridade regulatória que busca evitar riscos sistêmicos e
custos de uma crise, bem como controlar expansões excessivas mediante
intervenções para manutenção da estabilidade da oferta de crédito,
suavização de ciclos e contenção de bolhas especulativas. Tal papel,
especialmente após a crise americana do subprime, vem sendo realizado
por meio do desenvolvimento de um arcabouço regulatório denominado
política macroprudencial. O uso de requerimentos de reservas sobre
depósitos bancários, como destaca Tovar et al. (2012), assim como as
ações de Basiléia, especialmente via definição de níveis mínimos de
capital, são os principais exemplos de política macroprudencial
atualmente em uso no Brasil.
Cecchetti & Kohler (2012) destacam o grau de relacionamento entre
as políticas monetária e macroprudencial, ressaltando que elas não devem
ser vistas isoladamente devido a elementos comuns que afetam o canal
bancário por meio da concessão de crédito. Há uma complementariedade
entre medidas monetárias e macroprudenciais, cujos efeitos sobre o lado
real da economia devem ser tomados conjuntamente considerando o canal
do crédito como um dos mecanismos de transmissão.
Nesse contexto, em que não se pode negar a influência dessas
decisões monetárias e regulatórias no cotidiano das instituições
financeiras, ressalta-se que os bancos, sob uma perspectiva
microeconômica, exercem suas atividades empresariais como firmas que
buscam a otimização racional dos seus lucros. A gestão e o desempenho
microeconômico dos bancos, que envolvem basicamente perspectivas de
liquidez, solvência, exposição a riscos e geração de resultados, são
fortemente influenciados pelas orientações das políticas monetária e
macroprudencial.
Hirtle & Lopes (1999) consideram que as principais métricas para
expressar o desempenho microeconômico dos bancos estão contidas na
metodologia CAMELS, utilizada na definição de ratings entre instituições
financeiras por órgãos de supervisão bancária. Essa sigla deriva dos
aspectos definidos como chave no desempenho dos bancos, quais sejam:
Capital adequacy (C), Asset quality (A), Management (M), Earnings (E),
Liquidity (L) e Sensitivity to market risk (S).
Diante da intensiva utilização, relevância e impacto das medidas de
políticas monetárias e macroprudenciais sobre a atividade bancária, tem-
se como problema de pesquisa saber como e em que intensidade choques
exógenos nessas políticas são transmitidos para o setor bancário da

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