Planejamento Urbano, Democracia e Movimentos Sociais: Um Panorama de Trajetórias EntreCruzadas

AutorFelipe Nunes Coelho Magalhães e Jupira Gomes de Mendonça
Páginas195-207
PLANEJAMENTO URBANO,
DEMOCRACIA E MOVIMENTOS SOCIAIS:
UM PANORAMA DE TRAJETÓRIAS
ENTRECRUZADAS
Felipe Nunes Coelho Magalhães(1)
Jupira Gomes de Mendonça(2)
(1) Professor Adjunto do Instituto de Geociências/UFMG.
(2) Professora Associada da Escola de Arquitetura/UFMG.
1. INTRODUÇÃO
A grande cidade ocupa um terreno político de
importância fundamental no mundo contemporâ-
neo. Tendo se tornado na história moderna um local
de enorme concentração, densidade e diversidade de
agentes e eventos, a metrópole, ao gerar encontros e
formas diversas de interação, tem uma grande capaci-
dade criadora de novos processos sociais (econômicos,
políticos, culturais). A história da metrópole brasilei-
ra desde meados do século passado constitui um rico
acervo de casos e trajetórias que demonstram tais pro-
posições de formas diversas, sendo um destes o per-
curso dos movimentos sociais que atuam em torno das
questões próprias da cidade, das condições que afetam
a vida cotidiana na metrópole. Apresentando uma in-
tensidade marcante desde o início da década de 1960,
estes movimentos urbanos tornam-se agentes impor-
tantes do cenário político nacional, aglutinando forças
significativas no âmbito da sociedade civil organizada,
muitas vezes em interação com outras organizações po-
líticas, atuando diretamente na conformação da agenda
democrática do país.
Estas histórias interagem diretamente com outras
trajetórias também sediadas na metrópole, e que depen-
dem diretamente destas localidades como plataformas
que permitem sua expansão e reprodução. Foi este o ca-
so da industrialização ao longo do século XX, e passa a
ser também a história das economias contemporâneas,
mais relacionadas à expansão e à complexificação do
setor de serviços, que também depende fundamental-
mente da grande cidade como provedor de condições
diversas para a realização de suas atividades. Estas for-
mas que a esfera da produção e da acumulação de ca-
pitais assumem influenciam diretamente o modo com
que o poder público atua nas cidades, que muitas vezes
entra em conflito com as demandas e ânsias dos mo-
vimentos organizados. Na metrópole contemporânea,
trata-se de uma necessidade de arranjo e estruturação
espacial alinhada às necessidades e premissas de uma
economia neoliberal, que muitas vezes cria dinâmicas
que geram e aumentam as reivindicações e lutas daque-
les que se veem prejudicados diante de processos exclu-
dentes gerados nestes modelos de atuação hegemônica
sobre a cidade – como é o caso das ocupações urbanas
construídas pela ação de movimentos populares na úl-
tima década na grande Belo Horizonte.
Este capítulo aborda este universo empírico a partir
de uma leitura histórica da dinâmica dos movimentos
sociais voltados para a questão urbana desde a década de
1960. Tratando-se de um universo de grande amplitude,
propomos uma abordagem exploratória e panorâmica
desta trajetória, trazendo nas referências bibliográficas
uma série de indicações para os leitores mais interes-
sados em maiores aprofundamentos nestas discussões.
Na primeira parte, discutimos o surgimento da chamada
reforma urbana, no início da década de 1960, a partir
do crescimento explosivo das metrópoles brasileiras, e
como ela se torna uma agenda que pautaria os movi-
mentos organizados atuando sobre a cidade e o planeja-
mento urbano no país. A segunda sessão apresenta uma
experiência de planejamento participativo realizado re-
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