Piracicaba no século XIX: uma paisagem em mudança

AutorAdalmir Leonidio
Páginas101-122
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2013v20n30p101
PIRACICABA NO SÉCULO XIX: UMA PAISAGEM EM
MUDANÇA
PIRACICABA IN THE NINETEENTH CENTURY: A
LANDSCAPE IN CHANGE
Adalmir Leonidio*
Resumo: Busca-se com este artigo entender o processo de formação da
paisagem rural de Piracicaba, cidade do interior de São Paulo que se tem
destacado, desde o século XIX, por sua produção açucareira. Baseia-se em
ampla e variada fonte documental – dados estatísticos, narrativas de viagem,
manuais de agricultura, jornais e revistas – trabalhada de forma regressiva, isto

e tem por hipótese principal a relação dialética entre dinâmica agrária e
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interdisciplinar e temática, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
Palavras-chave: Paisagem. Agricultura. Piracicaba.
Abstract: Search with this article understand the process of training the rural
landscape of Piracicaba, town in the interior of São Paulo that has posted
since the nineteenth century, by its sugar production. It is based on broad and
varied documental source - statistical data, narratives of travel, manuals of
agriculture, newspapers and magazines - worked in a regressive method, that
is, from the late nineteenth century, when the information is more abundant and
has by main hypothesis the dialectical relation between dynamic agrarian and
dynamic patterns of landscape. Is part of a broader research, interdisciplinary,
the Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
Keywords: Landscape. Agriculture. Piracicaba.
* Professor associado no Departamento de Economia e Sociologia da Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Universidade de São Paulo (USP). E-mail:
leonidio@usp.br
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 20, n. 30, p. 101-122, dez. 2013.
INTRODUÇÃO
No senso comum e na literatura não especializada em história predomina
a ideia da existência de “áreas tradicionais” de cana e de pastagens, que
supostamente estão ali do mesmo modo que sempre estiveram.1 É bem verdade
   
que percorra a região de Piracicaba, realidade não muito diferente a outras
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se confunde, em velhos manuais escolares, com a história da cana. Ora, as
   
própria história.
Mas a despeito do que os olhos vêm e os manuais nos revelam, há um
outro paradoxo que circunda passado e presente de São Paulo. O avanço dos
cafezais obscureceu a memória dos canaviais. O orgulho paulista é o café. Bem
como tudo que a ele esteve associado: a presença imigrante, as ferrovias, a
indústria, o “espírito empreendedor” e, até, a devastação da vegetação nativa.
Parece que o açúcar era mesmo algo que se devia esquecer. Ligada aos atrasados
senhores nordestinos e à memória negra da escravidão, a atividade açucareira
estava inscrita no ostracismo dos tempos. Mas, talvez com algum exagero da
expressão, é difícil imaginar o que teria sido do café se não fosse o açúcar.
De fato, em muitas áreas, foi a lavoura canavieira que permitiu à cafeicultura
contar com capitais e infraestrutura necessárias à sua expansão.
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tem a nos dizer a história? O propósito deste trabalho, então, é muito simples,
pensar a mudança das paisagens na imensa região de Piracicaba, entre o início
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existente entre a dinâmica de uso da terra e a dinâmica de paisagem?
Os dados foram agrupados em oito tipos principais: área das propriedades,
área natural, caracterização das atividades agrícolas, caracterização da
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Compunham assim um conjunto muito variado, tanto qualitativo quanto
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recenseamentos, narrativas de viagem, manuais de agricultura, informativos
agrícolas, revistas, jornais, entre outros.
O tempo relativamente longo sobre o qual se debruça deriva de uma
necessidade quase “natural”. As paisagens se transformam muito lentamente.
Formar séries convenientes seria quase impossível se a escala temporal fosse
outra. O que não quer dizer que tenha sido fácil compor séries com o que se
tinha em mãos. As descontinuidades eram enormes e foi preciso recorrer, muitas

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