Perspectivas da complexa relação entre saúde e ambiente

AutorKelly Daiane Savariz Bôlla - Geraldo Milioli - Jeverson Rogério Costa Reichow
CargoMestre em Ciências Ambientais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil - Doutor em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina - Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Páginas310-333
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2013v10n2p310
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
PERSPECTIVAS DA COMPLEXA RELAÇÃO ENTRE SAÚDE E AMBIENTE
Kelly Daiane Savariz Bôlla
1
Geraldo Milioli2
Jeverson Rogério Costa Reichow3
Resumo
Saúde e ambiente, ambos muito debatidos atualmente, foram por muito tempo
olhados de modo reducionista através das “lentes” do paradigma cartesiano-
newtoniano, que deixou de lado a complexidade de cada um e a inter-relação
existente entre os dois. Os objetivos deste artigo são investigar os impactos à saúde
humana oriundos da degradação socioambiental e correlacionar saúde e ambiente
baseando-se na visão transdisciplinar holística. A pesquisa enquadra-se como
teórica e bibliográfica, utilizando o método quali-quantitativo, de abordagem
exploratória. Sob a perspectiva do paradigma transdisciplinar holístico, saúde e
ambiente são concebidos em sua multidimensionalidade, complexidade e inter-
relação. A saúde, nessa abordagem, é a harmonia entre as dimensões física,
psicológica, emocional, espiritual, sendo que a condição de estar saudável está
intrinsecamente ligada às esferas socioeconômica e ambiental, nas quais o ser está
inserido.
Palavras-chave: Saúde ambiental. Saúde integral. Paradigmas. Abordagem
transdisciplinar holística.
INTRODUÇÃO
A busca pelo crescimento econômico desenfreado, difundida por quase todos
os países do mundo e amparada no desenvolvimento tecnológico e em pouca
reflexão e consciência sobre suas consequências, favoreceu a ideia de que o ser
1 Mestre em Ciências Ambientais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. E-mail: kellybolla@hotmail.com
2 Doutor em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Coordenador do
Laboratório de Sociedade, Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. E-mail: geramil@unesc.net
3 Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor do Curso de
Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. E-mail: jrr@unesc.net
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.10, n.2, p. 310-333, Jul./Dez. 2013
humano tem total poder sobre a natureza e que, portanto, explorá-la e subjugá-la a
seu bel prazer não resultaria em qualquer prejuízo à humanidade.
De modo contrário ao que se esperava, o planeta vem apresentando, dia
após dia, implicações de um estilo de vida humano insustentável e comprometedor
da permanência da vida humana na Terra. A crescente destruição da camada de
ozônio, o aumento do efeito estufa, as profundas alterações climáticas, o
desmatamento acentuado, a degradação de ecossistemas e a poluição do ar, da
água e do solo, são alguns dos sinais alarmantes de que os seres humanos, que
vivem numa lógica industrialista e consumista, estão destruindo sua própria casa
maior o planeta, no qual compartilha sua existência com outras milhares de
espécies vivas, sem estar imune aos efeitos provocados.
Concomitantemente à degradação do ambiente natural, efeitos
correspondentes estão acontecendo na saúde humana em forma de doenças, que
não param de exibir aumento em seus índices mundiais. São elas: as enfermidades
físicas, como o câncer e o acidente vascular cerebral; as psicológicas, como a
depressão e as sociais, caracterizadas por violência, suicídio, alcoolismo,
acompanhadas de anomalias econômicas, como a distribuição grosseiramente
desigual da renda e da riqueza, tanto em nível nacional quanto global (CAPRA,
2012).
Inter-relacionar a saúde do ambiente com a saúde do ser humano e da
sociedade leva à percepção de que a insustentabilidade do estilo de vida baseado
no imediatismo, na descartabilidade das coisas e das relações e na ideia de sucesso
como status, dinheiro e consumo, precisa ser transposta por uma nova visão de
mundo que comporte a ética do cuidado e da preservação da vida, seja ela humana
ou não.
Guiadas por essa perspectiva ecológica profunda que engloba as três
ecologias - o cuidado consigo mesmo, com o outro e com toda a natureza -, o
entendimento da saúde humana passa a requerer olhares mais amplos e
transdisciplinares, bem como a inclusão de outras variáveis, antes não vistas como
influenciadoras de sua promoção ou propiciadoras de danos.
A saúde, que a partir do século XVI recebeu explicações e tratamentos
unidimensionais propostos pelo modelo biomédico desenvolvido segundo os
moldes do paradigma cartesiano-newtoniano -, aos poucos foi ganhando diferentes
olhares, e hoje não pode ser vista senão como algo complexo, multidimensional,

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