A perspectiva dos pais diante da gestação na adolescência

AutorAna Cristina Garcia Dias - Naiana Dapieve Patias - Marilia Reginato Gabriel - Marco Antonio Pereira Teixeira
CargoDocente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS - Aluna do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria - Aluna do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, ...
Páginas143-164
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 46, Número 1, p. 143-164, Abril de 2012
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* The perspective of parents on teenage pregnancy
1 Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, RS. Endereço para correspondências: Rua Floriano Peixoto 1750, Sala 308, Santa Maria,
RS, 97015-372 (anacristinagarciadias@gmail.com).
2 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria.
3 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
4 Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A perspectiva dos pais diante da gestação na adolescência*
Ana Cristina Garcia Dias1
Naiana Dapieve Patias2
Universidade Federal de Santa Maria
Marília Reginato Gabriel3
Marco Antônio Pereira Teixeira4
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
A família é considerada o primeiro e
principal ambiente de desenvolvimento dos
filhos. Durante a de gestação na adolescên-
cia ela pode servir como fonte de apoio ou
de estresse para a gestante. O objetivo des-
se estudo foi descrever as percepções e
sentimentos de pais de adolescentes ges-
tantes atendidas em um hospital público de
Porto Alegre – RS. Foram entrevistados
nove mães e quatro pais com idades varian-
do entre 33 e 55 anos, de diferentes estratos
sócio econômicos da população (baixo e
médio). Esses pais foram entrevistados atra-
vés de um roteiro semiestruturado. As aná-
lises das entrevistas foram desenvolvidas
através do enfoque fenomenológico. Os re-
sultados indicam a multiplicidade de rea-
ções, percepções e sentimentos dos pais
diante da notícia e da vivência da gestação
das filhas adolescentes. Através do apoio
parental (ou sua ausência), os pais influen-
ciam na forma como as adolescentes viven-
ciam essa experiência, tendo um papel im-
portante nesse processo.
Palavras-chave: Adolescência – Gestação
– Família.
The family is considered the first
and most important context of develop-
ment for children. During adolescent preg-
nancy it may function as a source of
stress or support for the pregnant ado-
lescent. The aim of this study was to des-
cribe the perceptions and feelings of pa-
rents of pregnant adolescents attending
a public hospital in Porto Alegre/RS. Nine
mothers and four fathers, aged between
33 to 55 years, from low and middle socioe-
conomic status, were interviewed using a
semi-structured interview guide. A phe-
nomenological approach was used to
analyze the data. Results show that pa-
rents experience a multiplicity of reactions,
perceptions and feelings when they dis-
cover that their daughters are pregnant
and have to deal with this experience.
Through parental support (or its absen-
ce), parents influence the way adolescents
experience pregnancy, playing an impor-
tant role in this process.
Keywords: Adolescence – Pregnancy –
Family.
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Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 46, Número 1, p. 143-164, Abril de 2012
Introdução
A adolescência é considerada por muitos autores um momento de tensão
para o sistema familiar. As relações familiares se transformam com a
chegada do filho na adolescência porque a definição de um novo status identi-
tário para o jovem implica na redefinição dos papéis e das posições dos mem-
bros dentro do sistema familiar. A relação entre pais e filhos na adolescência é
frequentemente entendida como uma relação conflituosa, tanto em função das
novas necessidades apresentadas pelo adolescente como devido às novas exi-
gências e adaptações existenciais experimentadas pelos pais, que podem estar
vivenciado a “crise” da meia-idade (BOCK, 2007; CERVENY & BERTHOUD,
2009; PRETO, 1995).
Cerveny e Berthoud (2009) sugerem que as dificuldades encontradas
nas relações entre o jovem e seus pais podem ser decorrentes da sobreposi-
ção de crises presentes em cada etapa do desenvolvimento desses indivíduos,
que ocorrem simultaneamente durante esse momento do ciclo vital e familiar.
Considera-se que o “sistema familiar adolesce”, ocorrendo um “alinhamento
de crises evolutivas”, que podem provocar crises na família. O jovem expe-
rimentaria uma série de transformações físicas, emocionais, cognitivas e
sociais que lhe convocariam a reestruturar a sua identidade. Os pais, por sua
vez, também poderiam estar em um momento de reestruturação da própria
identidade, uma vez que, por se encontrarem na meia idade, estão vivencian-
do um processo de reavaliação de suas escolhas pessoais, nas diversas esfe-
ras de suas vidas.
Preto (1995) considera que mesmo que a metamorfose familiar nesse
período possa despertar sentimentos de confusão e de perturbação nos momen-
tos iniciais, posteriormente a maioria das famílias consegue se organizar e se
adaptar às novas tarefas presentes nesse momento do ciclo vital e familiar. Essa
reorganização de papéis e funções tanto dos indivíduos como do grupo familiar
possibilita que a família entre em uma nova etapa e o adolescente realize sua
passagem para o mundo adulto, buscando sua autonomia e independência.
Contudo, algumas situações, passíveis de ocorrer durante a adolescên-
cia, podem alterar o funcionamento familiar de uma forma mais marcante.
Uma dessas situações diz respeito à gravidez na adolescência. Esse fenôme-
no é comumente considerado como um problema social e de saúde pública
que gera diferentes conseqüências biopsicossociais para a adolescente e sua
família. O fenômeno é frequentemente associado a menores níveis de esco-
laridade, pobreza, subemprego, estresse, maus tratos infantis, problemas de
saúde e ônus econômico para os serviços de saúde, entre outras conseqüên-
cias tidas como adversas (CHALEM et al., 2007; FREITAS & BOTEGA,
2002; GAMA et al., 2002; YAZLLE et al., 2002). Porém, esse fenômeno é

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