Percepções de violência na escola

AutorMarcelo Firmino dos Reis
Páginas451-464

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Apresentação

Busca-se neste trabalho problematizar a igualdade existente entre os indivíduos resguardada perante a lei e a Constituição Federal do País e pensar como a Instituição Escola deve promover este empoderamento, propiciando mecanismos para que o estudante seja capaz de apropriar-se do conhecimento adquirido na escola para afirmar seus direitos dentro da sociedade. Embora seja evidente que, no dia a dia, os estudantes tragam para dentro dos muros da escola seus anseios, mazelas e frustrações sociais, pensamos que o espaço escolar seja culminante para que este indivíduo encontre possíveis caminhos para conciliar diferenças, questionandoas por meio de diálogos, debates, leituras e estudos, minimizando os conflitos arraigados em si. Tentamos expor que o termo violência apregoa em seu significado um teor de negatividade, que suscita ao indivíduo a incapacidade de administrar sua razão, que pode ser perceptível em duas vertentes: 1) incapacidade ou 2) superioridade. Percebemos que no ambiente escolar a maior incidência da violência se dá por meio da violência psicológica e moral, que causam agressão física, comportamentos estes que ressoam, em suas práticas, o conceito de bulliyng. Não obstante, problematizamos como ações de intervenção escolar podem incidir na retração de sintomas psicossomáticos, alterações afetivas e emocionais, comprometendo a harmonia do grupo e na evolução acadêmica do aluno e apaziguar as ações de violência acontecidas, instigando a ele exercer seu direito de igualdade perante a lei.

1 Introdução

A História da Humanidade é cercada por lutas humanas de sobrevivência em consequência das intempéries da vida. Entre os mecanismos de

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sobrevivência, o homem desenvolve, como ferramenta de autodefesa, a sua caracterização enquanto ser racional, produzindo, assim, possibilidades adversas de se sobressair perante o outro. Pensamos que as particularidades racionais de cada indivíduo produzam disciplinas peculiares e que, embora o homem tenha nascido para viver em sociedade, estas diferenças são evidentes desde a formação das primeiras civilizações, demarcando suas caracterizações de poder.

A constante busca instintiva pela convivência em sociedade e a luta pelo direito de igualdade pode acarretar frustração e impossibilidade, já que a presença da diferença nos espaços sociais enseja ao homem a ausência de rumo e objetivos de vida. Esta incapacidade de percepção produz no indivíduo, de certa forma, a condição de inferioridade, ocasionando a angústia, desenvolvendo inquietações e podendo gerar sintomas depressivos.

Para discorrer sobre o assunto é necessário trilhar alguns caminhos filosóficos e sociológicos, na qualidade de formar jovens estudantes autônomos que consigam enfrentar as diferenças, sejam mais tolerantes a ela, e que se concentrem na ideia de alteridade, pois acreditamos que este dispositivo pode conduzir a todos na afirmação de seus direitos. Para tanto, a organização desse pensamento deve partir da problematização das ocorrências que cerceiam a vida escolar. Diante disso, não é possível sairmos do crivo do "vazio existencial", algo que traz a inquietação e torna o homem vulnerável a qualquer desafio imposto pela vida.

Tratando desse problema, pensamos que o desenvolvimento do homem, na sua singularidade, afirma consequências por ele viver em grupo, consequências essas que não podemos equacionar. O essencial da problemática que almejamos construir é partir da necessidade do homem de enfrentar o desconhecido, para tanto, é necessário que ele se humanize, produza e desenvolva a ideia democrática de direito.

O enfrentamento é, a princípio, um conceito pedagógico. Percebemos que entre os diferentes, a qualidade de inclusão na competência de igualdade é impactante nas condições sociais que vive o homem. Sabe-se que a insatisfação foi o ensejo que levou filósofos assumirem o legado em suas vidas, criando teorias que pudessem explicar que o buscar respostas aos diversos questionamentos encontrados pelo ser humano durante a vida ainda é o fator essencial da espécie humana. Portanto, os conflitos internos e coletivos fazem parte da própria existência. Este trabalho, a princípio, parte do pressuposto das questões da existência, fundamentadas no teórico Martin Heidegger.

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2 Angústia

A angústia é o caráter típico e próprio da vida, segundo ao pensamento filosófico do existencialista Martin Heidegger. Para o filósofo, não tem como o homem não indagar a si mesmo sobre a sua condição. Nesta visão "o ser humano é lançado ao mundo, sem saber por que" e ao despertarmos para esta condição, tomamos consciência da vida e da necessidade de sobreviver, estabelecendo relações com o mundo, com a sociedade em que estamos imersos.

A busca permanente pela sobrevivência obviamente gera conflitos e provê ao homem a capacidade de arquitetar condições favoráveis, que superem o temor de estar sozinho. Diante de uma condição nem sempre favorável, criamos expectativas que nem sempre são as almejadas, portanto não é possível desvencilhar-se desse vazio (medo), dessa necessidade de superar os anseios. Na luta de resistência é comum errarmos e reproduzirmos uma sucessão de equívocos na necessidade de tentar dissolver preocupações que são humanas.

O sentimento mais profundo que faz o homem despertar-se dessa "fuga", revela o quanto nos dissolvemos em atitudes impessoais e o quanto nos anulamos como ser racional. Esse fator pode ser, em algumas situações, irreversível, já que pode fazer com que o indivíduo perda todo o seu senso de orientação, causando estresse emocional. Segundo Martin Heidegger1, a partir desse "estado de angústia", abre-se para o homem uma alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão profunda, isto é, o ser. Como eminência, ao homem cabe retornar ao cotidiano ou superar a própria angústia, "manifestando seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo".

É fato que o transcender do homem é atingir o nível de capacidade racional e compreender a relevância dos desafios que são impostos. Só assim iremos atingir a condição de homem integral. Destarte, a angústia caracteriza-se como condição de superação do limite do "eu"; da vontade incessante de existir e das condições impostas pela vida. A tomada de consciência, de "estar aqui" nesta realidade, por si só, produz condições adversas e coloca o homem em teste (conflitos). Nesse espaço, a existência não é mais importante do que a sobrevivência, a existência humana só será válida se o indivíduo transcender os sentimentos e criar condições que estabeleça um elo entre o ser e a sua essência.

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3 A angústia no decorrer da história

Desde a antiguidade, os gregos debruçaram sobre os questionamentos e indagações a respeito do Universo e da vida. Buscar caminhos que levassem o homem à superação por meio da razão, levando o homem a condição de estranhamento e a resposta sobre si era característico dos ideais de vida dessa civilização.

Com a Idade Média e a ascensão do Cristianismo, as grandes barbáries se acentuaram entre homem e a instituição igreja. Por um lado, a igreja estabelecia a obediência como sagrado e a rebeldia como profano, grosso modo propagando os conflitos entre as classes dominantes e dominadas. O Cristianismo, por sua vez, fundamentado na fé e nas verdades reveladas por Deus e escritas na Bíblia, propagava que a verdade só poderia ser estabelecida pela fé católica e que o descumprimento das verdades expostas pela igreja por vias de resistência eram uma afronta aos dogmas católicos. A partir desse relato histórico, percebe-se o quando a ideia de violência está presente na vida em sociedade.

Durante a Idade Moderna, é retomado o racionalismo no âmbito científico, tendo sido este criado por filósofos gregos, sendo eles Sócrates, Platão e Aristóteles. A retomada desses filósofos caracterizou a Idade Moderna como sendo uma época antropocêntrica, naturalista e racionalista. A revalorização do ser humano e da natureza garante consideráveis conquistas, dissipando a ideia de segregação de homens pela classe, princípio e crença.

Considerando os aspectos culturais, políticos e sociais que perpassam a historia ocidental, é possível compreender as mudanças ocorridas nas várias esferas da sociedade, reduzindo, grosso modo, os conflitos, ou seja, a violência. Os grandes movimentos que ocorreram no âmbito cultural como o Renascimento, inspirado no Humanismo, prova o quanto o homem pode voltar-se "para si" e redescobrir dentro das ideias de exaltação do próprio ser humano, a razão e a...

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