Pedro Vidal Neto: o herói invisível

AutorJorge Luiz Souto Maior - Luís Carlos Moro - José Fernando Moro
Páginas166-167
22.
pedro vidAl neto: o herói inviSível
Jorge Luiz Souto Maior
(1)
Luís Carlos Moro
(2)
José Fernando Moro
(3)
(1) Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da
15ª Região.
(2) Advogado trabalhista.
(3) Advogado Graduado pela Universidade Mackenzie São Paulo Brasil-1987. Master em Emprego, Relações de Trabalho e Diálogo
Social na Europa pela Faculdade de Direito da Universidade Castilla la Mancha, Espanha – 2010. Professor de Direito do Trabalho e
Processo do Trabalho da Faculdade de Direito da UNIFMU SP 1989-1991. Professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito
da UNIFMU SP 1989-1991. Professor de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho da Faculdade de Direito da UNIP SP 1990-2001.
Professor da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Professor da Escola Superior da Advocacia Trabalhista
de São Paulo. Secretário Geral do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo – 1992/1996. Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho
Concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho – 1993. Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Concedida pelo Tribunal Regional do
Trabalho da Segunda Região 2009. Titular da Cadeira n. 19 da Academia Paulista de Direito do Trabalho.
A década: 1990. O país: Brasil. O local: Faculdade de
Direito da USP. O objeto: Direito do Trabalho.
No contexto histórico supra os personagens progra-
mados para se tornarem heróis seriam aqueles que se in-
serissem no projeto neoliberal de extinção do Direito do
Trabalho, ou, ao menos, da destruição da consciência so-
cial que se integrara, até então, ao Direito do Trabalho,
pois era a época da difusão, em larga escala e sem peias, da
teoria da flexibilização, apoiada pelas retóricas da moder-
nidade e da globalização econômica. Naquele momento,
estava proibido falar em hipossuficiência e o princípio da
proteção jurídica do trabalhador estava posto em xeque.
Surge, então, um personagem inesperado. Um herói
improvável: o prof. Pedro Vidal Neto.
O que, paradoxalmente, faz ressaltar a figura do prof.
Pedro entre os alunos era a ausência de um projeto para se
tornar evidente. De fato, o prof. Pedro preocupava-se com
algo muito menos ambicioso: dar aulas.
Mas não eram aulas para dar conta do programa. Na
qualidade de um autêntico professor, Pedro Vidal Ne-
to, mesmo no contexto da burocratização do raciocínio,
questionava, duvidava e incentivava seus alunos a pensar
criticamente sobre a linha argumentativa que vinha sendo
imposta a todos de cima para baixo.
Estávamos, por certo, influenciados pela pregação neo-
liberal, que não se apresentava enquanto tal. O fetiche da
modernidade entorpecia as mentes e não fosse o convívio
com o prof. Pedro Vidal Neto, nas célebres aulas em que
terminávamos repletos de dúvidas, abalados em nossas
convicções, não se teria construído no seio da Faculdade
de Direito da USP o senso crítico que acabou contribuindo
para a revitalização do Direito do Trabalho.
Pedro Vidal Neto estava sempre à disposição, tanto na
Faculdade quanto em sua residência, para receber e ouvir
os alunos. Mas, nunca lhes dava uma resposta conclusiva.
A situação era complexa porque o considerávamos uma
fonte quase inesgotável de conhecimentos, que se inicia-
vam no Direito do Trabalho e perpassavam para vários
outros ramos do Direito e do conhecimento em geral, fi-
losofia, história, sociologia etc., e quando íamos, com a
impaciência intelectual, típica da juventude, queríamos
uma resposta definitiva sobre as questões postas. Quería-
mos a via fácil de beber a água direto da fonte, da fonte da
sabedoria... No entanto, ele sempre vinha como uma no-
va proposição, um novo questionamento, que destruía a
própria pertinência do questionamento, conduzindo-nos
a outro patamar, de novas dúvidas, de novas perplexida-
des. Definitivamente, ele não se mostrava nenhum pouco
ansioso para chegar a uma conclusão e quase sempre o
debate terminava com sua risada marota, de canto de bo-
ca, enigmática, que nós, carinhosamente, apelidávamos
de sorriso de Monalisa.
Às vezes era angustiante, confesso. Mas, foi somen-
te por esse processo complexo de indagações seguidas de
novas dúvidas que conseguimos, seus alunos e seguidores,
sair das prisões mirabolantes e alegóricas que o Direito nos
reservava, principalmente naquela época em que as inexo-
rabilidades econômicas eram determinantes, favorecendo
a construções retóricas para a defesa de interesses quase
sempre não revelados.

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