Participação e sustentabilidade: reflexões sobre uma pesquisa-intervenção com jovens no semiárido cearense

AutorDomingos Arthur Feitosa Petrola - Verônica Salgueiro do Nascimento
CargoDoutorando em Psicologia na Universidade Federal do Ceará - Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará
Páginas156-175
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n1p36
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p. 36-55 Jan.-Abr. 2018
PARTICIPAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: REFLEXÕES SOBRE UMA PESQUISA-
INTERVENÇÃO COM JOVENS NO SEMIÁRIDO CEARENSE
Domingos Arthur Feitosa Petrola
1
Verônica Salgueiro do Nascimento
2
Resumo:
Participar social e politicamente da vida do país ainda é um grande desafio
democrático, principalmente no que se refere à juventude brasileira. Esta pesquisa
pretendeu, portanto, compreender a ação de participação social e política de jovens
no semiárido, analisando sua relação com a sustentabilidade. De caráter qualitativo,
foi desenvolvida entre maio e agosto de 2014, junto a um grupo de sujeitos, com
idades entre 15 e 30 anos, participantes de uma organização não governamental na
cidade de Arneiroz, interior do Ceará. O tipo de pesquisa se expressa na pesquisa-
intervenção, que assume caráter político-metodológico, e foram usados também os
círculos de cultura como espaços-instrumentos de coleta de dados. No campo dos
resultados, os jovens demonstraram que apesar do reconhecimento a importância da
ação e do papel político na transformação da realidade, através dos mecanismos de
participação, eles não se sentem convidados a ocupar esse lugar, tendo em vista o
modelo tradicional e tecnocrático de controle social, e, portanto, demonstram-se
pouco interessados na efetiva ação participativa. Torna-se urgente a construção de
metodologias que promovam e alcancem uma participação comprometida e crítica, e
que se estruturem em um ideal sustentável e ético de políticas públicas e que
estimulem formas mais criativas de emancipação.
Palavras-chave: Juventude. Sertão. Sustentabilidade. Participação. Política Pública.
1 PALAVRAS INICIAIS
Diversas pesquisas foram realizadas ao longo dos últimos anos sobre
juventude e participação. Algumas destacaram o envolvimento dos jovens com
instrumentos diretos, relatando experiências bem-sucedidas, mas algumas vezes
algumas não encontraram eco na vivência desses sujeitos (MENEZES; COSTA,
2012). Essas investigações se costuram na compreensão que os modos participativos
formais ou informais trazem inúmeros desafios para a sua execução. Desde uma
1
Doutorando em Psicologia na Universidade Federal do Ceará. Mestre em Desenvolvimento Regional
Sustentável pela mesma Universidade. Professor Substituto do curso de Psicologia da Universidade
Estadual do Ceará e Professor Titular da Faculdade Maurício de Nassau em Fortaleza - CE, Brasil. E-
mail: arthurfpetrola@gmail.com
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Pós-Doutorado no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Avaliação de Políticas Públicas na Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
Brasil. E-mail: vesalgueiro@gmail.com
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p. 36-55 Jan.-Abr. 2018
maior inclusão de sujeitos nos processos, seja instigando o interesse pela
participação, seja construindo metodologias acolhedoras, como também na
legitimação desses espaços perante a compreensão institucionalizada, e por vezes
cristalizada, de democracia no Brasil.
Nesse azo, ao falarmos do semiárido cearense, adensa-se a problematização,
pois ainda é um espaço pouco privilegiado quando se fala sobre participação,
principalmente no que se refere a pouca abertura das gestões públicas para a
sociedade civil, que em alguns casos se reflete na inexistência da dimensão
participativa. Chacon (2007) afirma que todo o sertão foi paulatinamente
desprivilegiado por parte do Estado na execução de políticas públicas, pois esse lócus
era tratado somente a partir do problema técnico da seca, excluindo o sujeito sertanejo
do planejamento, implementação e execução das políticas, ainda que este fosse
sempre impactado direta ou indiretamente por elas.
Silva (2004) afirma que esse projeto de sociedade para os jovens do sertão é
mais complexo ainda, pois a “rurbanidade”, uma mistura de valores do campo e do
urbano, em um contexto de conflitos, ambiguidades e incertezas, faz com que o jovem
viva a contradição de desejar estar fora desse espaço para ter uma vida melhor,
criando-se um conflito com os laços de pertencimento com território de origem que
poderia os conduzir à permanência.
Ao passo que os governos pouco planejam e executam as políticas públicas de
modo a chegar até a juventude rural, acabam por não permitir que esses jovens
entrem em contato e conheçam os projetos que lhes são destinados
3
. A formação
cidadã prevista nos programas governamentais, atreladas à renda e inclusão
produtiva, é sinônimo de adequação para a vida adulta. Segundo o Weisheimer (2013,
p. 23), “não é exagero dizer que os jovens rurais não gozam do direito à cidadania
quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores políticos, com direito de
participar das decisões que afetam sua vida e seu futuro”.
Dessa forma, diante dessas reflexões, uma inquietação se configura: Como a
juventude no sertão, aqui pensada como constituída de sujeitos de direitos, invisível
3
Sobre a execução dos programas para os jovens rurais, todos são frutos de parcerias interministeriais e a
Secretaria Nacional de Juventude, com foco na inclusão produtiva, na capacitação para geração de renda e
formação cidadã. Os três grandes programas são o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), o
Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar Jovem (PRONAF Jovem) e o Programa Nossa
Primeira Terra (GUIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE, 2013).

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