Sobre a noção de Paradigma e seu uso nas ciências humanas

AutorJosé D'Assunção Barros
CargoProfessor-adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em História.
Páginas426-444
426
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 426-444, jan/jun. 2010
Sobre a noção de Paradigma e seu uso nas ciências humanas
About the notion of de Paradigm and its use in humans sciences
José D‟Assunção Barros1
RESUMO
Este artigo busca discutir as possibilidades de aplicação, para as Ciências
Humanas, do conceito de “paradigma”. São discutidas, em um primeiro momento, as
clássicas definições e abordagens propostas por Thomas Kuhn no ensaio A
Estrutura das Revoluções Científicas (1962). Em um segundo momento, é discutida
a necessidade de adaptações do conceito no âmbito das Ciências Humanas,
considerando que ciências como a História, a Sociologia, a Antropologia e a
Geografia são multiparadigmáticas. A articulação entre os conceitos de “Matriz
Disciplinar” e “Paradigmas” pode ser apresentada como uma alternativa teórica
interessante. O exemplo da História é trazido para ilustrar uma situação que pode
ser estendidas às outras ciências humanas.
Palavras-chave: Ciências Humanas. Paradigma. Matriz Disciplinar. História.
ABSTRACT
This article aims to discuss de possibilities of application, to the Human Sciences, of
the concept of “paradigm”. They are discussed, in a first moment, by their classical
definitions and approaches proposed by Thomas Kuhn in his essay Structure of
Scientific Revolutions (1962). In a second moment, is discussed the necessity of
adaptations of the concept in the ambit of the Human Sciences, considering that
sciences as History, Sociology, Anthropology and Geography are multiparadigmatics.
The articulation between the concepts of “Disciplinary Matrix” and “Paradigms” may
be presented as an interesting theoretical alternative. History is presented as an
example to illustrate a situation that may be extended to all disciplines of the Human
Sciences.
Key-Words: Human Sciences. Paradigm. Disciplinary Matrix. History.
1 Professor-adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, nos cursos de Graduação e
Pós-Graduação em História. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em História
Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em História pela Universidade
Federal Fluminense. Autor dos livros O Campo da História (2004), O Projeto de Pesquisa em História
(2005), Cidade e História (2007) e A Construção Social d a Cor (2009), todos publicados pela Editora
Vozes.
427
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 426-444, jan/jun. 2010
O conceito de Paradigma alcançou extraordinário sucesso na “história das
ciências”, em especial na história das chamadas ciências “duras” e no âmbito das
“ciências naturais”. Gostaríamos de indagar, neste artigo, pela aplicabilidade deste
conceito nas ciências sociais e humanas. Seria tal conceito e as idéias que
normalmente a ele se associam aplicáveis a ciências como a História, a
Sociologia, a Antropologia? Que adaptações devem ser feitas às definições mais
habituais deste conceito para que ele s e mostre útil às ciências sociais e humanas,
no sentido de favorecer uma compreensão da própria história destas ciências?
Buscaremos refletir sobre estas questões, e sobre os problemas que elas nos
colocam.
Em um ensaio de 1962 sobre a Estr utura das Revoluções C ientíficas, o físico
e historiador da ciência Thomas Kuhn (1922-1996) define o que seria um
“paradigma” na História das Ciências. À parte o sentido filosófico, que se refere a um
modelo de tratamento com relação a determinado aspecto ou questão singular,
Kuhn define o paradigma no sentido s ociológico, que é o que estará mais
interessando aqui como “conjunto de crenças, valores e técnicas comuns a um
grupo que pratica um mesmo tipo de conhecimento”. É verdade que Kuhn priorizava
em sua análise as ciências exatas e naturais, e por vezes se refere ao paradigma
como uma espécie de macroteoria, marco ou perspectiva que se aceita de forma
geral por toda a “comunidade científica” relacionada a determinado campo de saber
(por exemplo, a Física, a Química, ou a Astronomia). A análise funciona
particularmente bem para o caso de boa parte da história da Física que
apresentou um grande paradigma dominante desde Newton e até a emergência de
novos paradigmas no século XX ou para a Astronomia, a Química, e outros
campos.
Para Kuhn, um paradigma sempre apresenta o interesse de criar e reproduzir
condições para ampliar o conhecimento, respondendo aos problemas que são
colocados pela sua época. Na verdade, as próprias definições dos problemas ou dos
tipos de problemas que a ciência deve resolver, fariam parte do paradigma. De todo
modo, até certo momento de seu desenvolvimento, o paradigma vigente parece se
mostrar apto a resolver todos os problemas que são considerados pertinentes e
dignos de atenção pela comunidade científica. A c erta altura, contudo, o paradigma
depara-se com seus próprios limites, e começa a se apresentar como inadequado.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT