Ortega y Gasset: Universidade e Ciência
| Autor | José Maurício de Carvalho - Mauro Sérgio de Carvalho Tomaz |
| Cargo | Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, MG, Brasil |
| Páginas | 4-19 |
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DE CARVALHO, José Maurício; TOMAZ, Mauro Sérgio de Carvalho. Ortega y Gasset: universidade...
Ortega y Gasset: universidade e ciência
Ortega y Gasset: University and science
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2015v49n2p4
José Mauricio de Carvalho e Mauro Sérgio de Carvalho Tomaz
Universidade Federal de São João Del Rei, São João Del Rei, MG, Brasil
Neste artigo investiga-se como o lósofo es-
panhol Ortega y Gasset associa os limites da razão
cientíca com a crise de cultura que ele enxerga na
Europa. Indica-se que este será o tema da célebre
conferência de Husserl intitulada A crise da humani-
dade europeia e a Filosoa. Porém, ca esclarecido
que a análise de Ortega é mais ampla que a realiza-
da por Husserl. Ortega avalia que a vida inautêntica
é o outro aspecto da crise de cultura que decorre,
além do entendimento inadequado da ciência, do
comportamento infantil e gozo irresponsável do ho-
mem massa. Logo, a análise orteguiana tem pontos
comuns com a feita por Husserl, mas é mais ampla
por incluir um elemento ontológico, ligado à condi-
ção do homem, à raiz da crise de cultura que então
se experimentava.
Palavras-chave: Universidade; Conhecimento; Ci-
ência; Ortega y Gasset.
This article investigates how the Spanish
philosopher Ortega y Gasset associates the limits
of the scientic reason with the culture crisis that
he sees in Europe. This theme is indicated to be the
theme of Husserl`s famous talk called The European
Humanity Crisis and the Philosophy. However,
Ortega`s analysis is wider than the one made by
Husserl. Ortega evaluates that the unauthentic life
is another aspect of the culture crisis that happens
in addition to the inadequate understanding of the
science, of the childish behavior and the irresponsible
enjoyment of mass-man. So, the orteguian analysis
has common points with the made Husserl, but it is
broader because it includes an ontological element
linked to the human condition, as a result of the
crisis of the culture that was then being experienced.
Keywords: University; Knowledge; Science;
Ortega y Gasset
Considerações iniciais
A preocupação de Ortega y Gasset com o papel da universidade no en-
frentamento da crise de seu tempo não é inédita na tradição ocidental. Ela re-
corda o projeto de Johann Fichte que associou a reconstrução da nação alemã,
depois da invasão napoleônica no início do século XIX, à reorganização da
sua universidade. Desde o texto de Fichte, Por uma universidade orgânica, a
universidade germânica tornou-se centro de pesquisa cientíca, organização
essencial para o desenvolvimento cultural do país e modelo para as institui-
ções universitárias do ocidente.
Mais de um século depois, em 1930, Ortega escreveu dois livros impor-
tantes: La rebelión de las masas e Misión de la universidad. O início daque-
la década signicou, em sua trajetória intelectual, uma alteração de rumo da
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Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 49, n. 2, p. 4-19, jul-dez 2015
meditação losóca, conforme observou Jaime de Salas na apresentação de
La última losoa de Ortega y Gasset. Os dois livros de Ortega representam
a abertura de nova fase, que mesmo sem romper com as teses iniciais do ra-
ciovitalismo, centra a investigação na cultura ocidental, pela inserção da vida
na história e construção da chamada razão histórica. La rebelión de las masas
e Misión de la universidad propiciam compreensão mais clara da intenção de
Ortega, na trilha apontada por Fichte, de enfrentar a crise de seu tempo com a
reforma da Universidade.
Em La rebelión de las masas o lósofo concluiu que o fenômeno mar-
cante de seu tempo, a inautenticidade da vida, não era exclusivamente espa-
nhol, como acreditara uma década antes em España Invertebrada (1921), mas
uma crise ampla, europeia e ocidental. Em España Invertebrada escrevera:
“Quando numa nação a massa se nega a ser massa - isto é, a seguir a minoria
diretora -, a nação se desfaz, a sociedade se desmembra, e sobrevêm o caos
social, a invertebração histórica” (ORTEGA Y GASSET, 1994a, p. 93).
Do que trata mesmo La rebelión de las masas? Do mesmo tema de Es-
paña Invertebrada, porém ampliado o problema da crise de cultura para a
Europa e todo o ocidente, como se lê em Ortega y Gasset: crise da Espanha
e problemas políticos: “A obra (...) trata a crise da Europa e dos sistemas tota-
litários surgidos naquele tempo. O livro investiga ainda a raiz moral da crise
e dos problemas políticos que emergiam naquele momento histórico” (CAR-
VALHO; BESSA, 2012b, p. 120). O tema das massas era essencial naqueles
dias, investigar e esclarecer o propósito da massa que pretendia dirigir a cena
pública através de sistemas fechados e de um estilo próprio de vida.
E como seus comentaristas interpretam as duas obras de 30? A maneira
usual é associar a preocupação pedagógica de Ortega y Gasset e o eixo nu-
clear de sua Filosoa. E qual é este eixo? O fato de a vida de cada homem ser
única e seu sentido constituir-se na realização do núcleo íntimo nela presente,
projeto que ele denomina autenticidade. Procuram, então, seus comentaristas
demonstrar que o programa educacional exposto em Misión de la Universi-
dad não contradiz as exigências de vida autêntica, tema central da ontologia
orteguiana, construída desde as primeiras obras. Pode-se dizer que seja mes-
mo o contrário, a Universidade deve promover a vida autêntica. Foi essa, por
exemplo, a linha de reexão de Margarida Amoedo em seu extenso livro José
Ortega y Gasset: a aventura losóca da educação (2002).
Amoedo mostrou que vencer a crise de civilização da primeira metade do
último século exigia a superação do tipo de homem que então existia e só se
podia fazê-lo com uma mudança cultural originada na reforma educacional.
Ortega y Gasset propõe superar a crise de cultura com um programa educa-
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