La operación zapatos rotos - a face brasileira do condor - a aliança político-militar entre os regimes de exceção da América do Sul e a justiça de transição

AutorMauro Evely Vieira de Borba
Ocupação do AutorDoutorando em Direito da UFRGS. Juiz de Direito de Porto Alegre, RS. Professor Universitário. Presidente da Rede Estadual de Direitos Humanos do RS
Páginas123-139
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LA OPERACIón zAPATOS ROTOS –
A FACE bRASILEIRA DO COnDOR
– A ALIAnçA POLíTICO-MILITAR EnTRE
OS REGIMES DE ExCEçãO DA AMÉRICA
DO SuL E A JuSTIçA DE TRAnSIçãO
MAuRO E. V. DE bORbA1
Introdução
O presente trabalho está divido em duas partes. Na primeira, analisa,
ainda que perfujnctoriacamente, a aliança político-militar entre os regimes
de exceção da América do Sul, particularmente a conexão repressiva entre
Uruguai e Brasil. O foco nessa primeira parte é o chamado “Seqüestro dos
Uruguaios”, como cou conhecido no Brasil, o seqüestro de quatro cida-
dãos uruguaios (entre eles duas crianças), na chamada Operación Zapatos
Rotos, assim chamada pela repressão uruguaia e que consistiu num retum-
bante fracasso (para a repressão). A operação, executada por um comando
repressivo binacional, marca a atuação da Operação Condor em Porto Ale-
gre e é, até o momento, o caso mais exemplar de envolvimento do Brasil
na repressão regional e que desnudou a metodologia das operações que se
praticavam no cone sul.
1 Doutorando em Direito da UFRGS. Juiz de Direito de Porto Alegre, RS. Professor Uni-
versitário. Presidente da Rede Estadual de Direitos Humanos do RS.
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DIREITO MEMÓRIA E VERDADE: trajetórias democráticas
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Na segunda parte, o artigo abordará a Justiça de Transição, seus as-
pectos conceituais, bem como suas condições e posssibilidades de contri-
buir para a consolidação de uma democracia madura e justa.
1 – A aliança repressiva, o surgimento da Condor
A Operação Condor consistiu em um mecanismo de conexão repres-
siva regional, clandestino e terrorista, entre as comunidades de informações
das ditaduras do Cone Sul da América Latina entre os anos 70 e 80. A mesma
foi formalizada em 1975 no intuito de monitorar, perseguir e executar oposi-
tores políticos que estavam refugiados em outros países e engajados na ação
política de denúncia realizada desde o exílio. Para tanto, sosticados métodos
repressivos como: tortura, seqüestros, execuções e o desaparecimento das ví-
timas, foram utilizados para desarticular grupos de exilados que continua-
vam a se opor aos regimes autoritários de seus países de origem2.
A conexão repressiva regional foi a expressão da internacionalização
do terrorismo de Estado no cone sul. Foi pautada por uma coordenação
de ações de interesses econômicos e identidade de modelos políticos. O
eixo de seu centro doutrinário foi a segurança nacional, sob a inspiração/
orientação da School of America do exército dos Estados Unidos. A pro-
pósito, a 1ª Conferência dos Exércitos Americanos, organizada pelos Es-
tados Unidos, em 1960, na zona norte americana do Canal do Panamá
– discutiu “métodos não convencionais” no combate aos movimentos de
esquerda e na 10ª CEA, em Caracas, (setembro, 1973, 03), o general Breno
Borges Fortes, Chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro e seu repre-
sentante no evento propôs “(...) ampliar a troca de experiências ou de infor-
mações e ajuda técnica entre os companheiros de armas, na guerra contra o
comunismo”(...)3. O Condor começava a ganhar pena.
O vulto da operação, ainda sem nome começou a surgir, logo após
o bombardeio do Palácio de La Moneda, no golpe militar que derrubou
2 REIS, Ramiro. Por que Lilián Celiberti e Universindo Rodríguez foram sequestrados? Re-
sistência uruguaia em Porto Alegre no nal da década de 1970.In http://www.estudioshisto-
ricos.org/edicion_3/ramiro-reis.pdf, acessado em janeiro/2013
3 CUNHA, Luiz Cláudio. Operação Condor – O Seqüestro dos Uruguaios. Uma reportagem
dos tempos da ditadura. L&PM Editores, Porto Alegre, 2ª Ed. 2009, p. 388

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