O odio a democracia e o rechaco da politica.

AutorBeveder, Monica Brun

RANCIERE, Jacques. O Odio a Democracia. Sao Paulo: Boitempo, 2014.

Jacques Ranciere, um dos filosofos mais importantes da atualidade, nasceu no ano 1940 em Argel, capital da Argelia. Formou-se em filosofia na Ecole Normale Superieure na decada de 1960, onde conheceu o marxista Louis Althusser, tornando-se um de seus mais destacados discipulos ate os acontecimentos de 1968, em Paris, quando Ranciere distanciase e rompe intelectual e politicamente com Althusser. Em artigo publicado no ano 1969 por Ranciere, o filosofo insiste que os limites do althusserianismo, principalmente a critica da ideologia, tornaram-se evidentes com os desdobramentos de 1968.

Os motivos que levaram Ranciere a romper com Althusser parecem estar articulados aos argumentos e teses--especialmente o que o filosofo entende por politica--presentes no livro que e objeto desta resenha. Em O Odio a Democracia (traducao literal do original, intitulado La Haine de la Democratie e publicado na Franca em 2005), evidencia-se a preocupacao de Ranciere em recolocar o potencial subversivo da democracia com base na politica, conectando o odio a democracia ao rechaco da politica. Nesse sentido, escreve Ranciere: "a paixao democratica que incomoda tanto os 'candidatos de governo' [...] e simplesmente o desejo de que a politica signifique mais do que uma escolha entre oligarcas substituiveis" (p. 96-97) e, portanto, o odio a democracia se identifica com o odio a politica.

O sentimento antidemocratico alimentado pela intelligentsia dominante nao e algo recente. Isso se torna evidente no proposito do livro de apresentar, numa perspectiva historica, os principais eixos ou aspectos do discurso antidemocratico que expressam e conduzem o odio a democracia ainda hoje. A critica a democracia parte da ideia de que ela significa uma "crise da civilizacao que afeta a sociedade e o Estado atraves dela" (p. 10), porque dela transbordaria o principal mal contra o "universalismo republicano", que se expressa pelo respeito das diferencas, pelo direito das minorias, pelas acoes afirmativas.

O governo democratico [...] e mau quando se deixa corromper pela sociedade democratica que quer que todos sejam iguais e que todas as diferencas sejam respeitadas. Em compensacao, e bom quando mobiliza os individuos apaticos da sociedade democratica para a energia da guerra em defesa dos valores da civilizacao, aqueles da luta das civilizacoes (p. 10). O odio a democracia e, em verdade, o odio ao povo e ao "governo da multidao" que...

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