A "trajetória intelectual" de Fernand Braudel (1902-1985)

AutorDiogo da Silva Roiz
CargoDoutorando em História pela UFPR, bolsista CNPq. Mestre em História pelo programa de pósgraduação da UNESP, Campus de Franca
Páginas599-602

Page 599

A"história biográfica" originou-se na Antiguidade Clássica, tendo como pioneiros Suetônio e Plutarco. Nos séculos XVIII e XIX, a "história biográfica" (que no período medieval não deixou de existir, principalmente, na forma de estudos hagiográficos) permaneceu como um gênero de pesquisa, preocupado com os feitos e acontecimentos, sintetizados no papel desempenhado pelos chamados "grandes homens", que ocupavam posições de destaque nas instituições religiosas e no Estado. Descartada durante décadas no século XX, em função de seus limites conceituais, restrições metodológicas e hierarquia de fontes e personagens selecionados, a "história biográfica" retorna, a partir dos anos de 1980, como uma forma (entre outras possíveis) de se analisar as relações do indivíduo com a sociedade no tempo, de modo a configurar suas relações mútuas, tal como efetuada por François Dosse, ao analisar as trajetórias de Pierre Chaunu (1923-), Paul Ricoeur (1913-2005) e Michel de Certeau (1925-1986), ou por Jacques Le Goff, em seu livro São Luis de 1996.

Com o objetivo de escrever a "biografia intelectual" de Fernand Paul Braudel (1902-1985), Aguirre Rojas, propõem-se neste livro (Braudel, o mundo e o Brasil) a rever o itinerário do biografado. O livro se compõe de três capítulos, originalmente escritos como conferências, e publicados em seguida em revistas especializadas entre 1992 e 1996. A versão em livro foi consideravelmente revista pelo autor, de modo a excluir principalmente as repetições.

Para o autor é complexa a aproximação deste gênero de análise histórica, que é a biografia, com outros campos ou gêneros de pesquisa. Pela sua "especificidade inerente ao fato de que não se trata de uma biografia pessoal, mas de uma biografia intelectual, o que redefine a hierarquia dos elementos a serem considerados, mas também o modo de tratá-los", pois, conforme observa o autor "esse projeto tem de enfrentar a condição especial que essa problemática biográfica possui na atual conjuntura historiográfica, na qual um conjunto do que se denominou 'retornos' diversos das velhas temáticas [...] pareceria ser uma das notas dominantes dessa produção histórica recente" (2003a, p. 8).

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Partindo desse pressuposto, o autor analisa as contribuições de Arnaldo Momigliano e Giovanni Levi para a discussão do tema, oscilando em alguns momentos nas observações de Georges Plekhanov, Jean-Paul Sartre, François Dosse e Jacques Le Goff sobre...

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