Novos rumos da pastoral popular

AutorClaudio Perani
Páginas46-56
NOVOS RUMOS DA PASTORAL POPULAR
Claudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º 107, jan.-fev. 1987, p. 37-46.)
É freqüente, neste período de transição política, ouvir de vários lados que se esgo¬tou
um caminho da pastoral popular e que é necessário inovar, procurar outros mo¬delos.
Isto, aliás já está sendo ensaiado, repetindo esquemas velhos ou experimen¬tando novas
aberturas.
Nos últimos anos, apareceram vários estudos procurando dar conta da transformação, da
igreja nas décadas mais recentes e de sua influência na caminhada da libertação.
Desejo dar minha contribuição refletindo sobre algumas questões debatidas hoje no
âmbito da pastoral popular, sem pretensão de indicar soluções e assumindo a visão
limitada de uma análise mais localizada na região nordestina e influenciada pela
dinâmica da pastoral popular neste espaço geográfico A complexidade e diversidade de
situações é tão grande, no Brasil, que é muito difícil poder colocar orientações gerais. E
fundamental avaliar cada situação na sua especificidade para poder concluir sugestões
para uma prática concreta. Tento aqui levantar algumas questões que de¬verão ser
aprofundadas, sem deixar de dar uma opinião pessoal.
1. HISTÓRIA DAS CEBs
Em julho de 1986, realizou-se em Trindade (GO) o 6.º Encontro Intereclesial de CEBs,
contando com a participação de 1647 pessoas, 742 das quais eram representantes da
base. Só o número dos presentes é indicativo do crescimento das CEBs. A problemática
tratada - o jeito novo de toda a Igreja ser; a luta pela nova sociedade; terra de Deus, terra
de irmãos - mostra o avanço na renovação da igreja e na contribuição para uma mudança
política.
É necessário, porém, visitar as comunidades em seu trabalho cotidiano para poder
avaliar melhor sua consistência atual e suas dificuldades. Aí, em vários lugares, ouve-se
com freqüência a palavra crise. Penso tratar-se de uma crise de crescimento. Diante da
caminhada percorrida e dos desafios da nova conjuntura, o modelo de pastoral até então
utilizado não dá mais conta do recado: deve ser repensado e atualizado.
Vou apresentar uma situação idealizada, juntando diferentes experiências nordestinas de
CEBs, sobretudo do interior.
Faz 10 a 15 anos que surgiram grupos de cristãos, nas roças, nos pequenos povoados,
nas periferias das cidades, que se reuniam para rezar, comentar a bíblia, colocar em
comum suas vidas. Surgiram a partir do interesse pela Palavra de Deus ou motivados
por situações de conflitos, como a necessidade de se defender da grilagem. Tais
iniciativas significaram uma descentralização da igreja em sentido geográfico e social.
Aumentou o número das pessoas comprometidas, formou-se um grupo de animadores,
desenvolveu-se uma prática religiosa muito comprometida com ações concretas, no
nível sócio-político, envolvendo um círculo maior de pessoas. Tudo, porém, centrado na
Comunidade Eclesial de Base.

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