Novas fronteiras de pesquisa na sociologia do trabalho

AutorJosé Ricardo Ramalho
CargoProfessor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da UFRJ.
Páginas229-249
Dossiê
Novas fronteiras de pesquisa
na sociologia do trabalho
José Ricardo Ramalho*
Um conjunto de novos temas e a exigência de novas interlocuções
tem obrigado a sociologia do trabalho a repensar sua tradição
teórica e disciplinar. O estudo das transformações resultantes do
processo de globalização, em especial aquelas voltadas para a orga-
nização produtiva e para a flexibilização das relações de trabalho,
colocou em questão a capacidade explicativa do seu corpo concei-
tual ao mesmo tempo em que abriu janelas de diálogo com outras
perspectivas analíticas anteriormente consideradas distantes ou não
pertinentes a esta área do conhecimento. A proposta deste texto
é identificar e problematizar as novas fronteiras da interpretação
sociológica, tomando como exemplo a pesquisa que venho realizan-
do sobre relações de trabalho e sindicato em distritos industriais
brasileiros ligados ao setor automotivo1.
Pesquisar o trabalho industrial em contextos políticos e
econômicos reestruturados pelas exigências do mercado mundial
transformou-se em um desafio, porque a sociologia do trabalho
consolidou-se teoricamente na investigação do universo produ-
* Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e An-
tropologia (PPGSA) da UFRJ. Publicou recentemente as seguintes coletâneas
Trabalho e Sindicato em Antigos e Novos Territórios Produtivos, com Iram Jácome
Rodrigues (São Paulo: Annablume, 2007) e Trabalho e Desenvolvimento Regional –
Efeitos Sociais da indústria automobilística no Rio de Janeiro, (Rio de Janeiro: Mauad
X, 2006). Endereço eletrônico: jramalho@ifcs.ufrj.br.
1 Este texto foi elaborado a partir de resultados parciais de projetos de pesquisa
apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNPq e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ,
através do Programa Cientistas do Nosso Estado e do Projeto Pensa Rio.
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Nº 13 – outubro de 2008
tivo que agora está em xeque - o de padrão fordista. Assuntos
obrigatórios como processo de trabalho, estratégias gerenciais e
mecanismos de controle fabril, relações entre empresas, avanço
tecnológico, mercado de trabalho, participação operária no chão
de fábrica e organização sindical, permanecem na ordem do dia,
mas o instrumental acumulado não dá mais conta de explicar de
forma convincente o que está acontecendo nesse ambiente em-
presarial marcado pelo princípio da flexibilização das relações de
trabalho e da relação entre firmas. O caso de pesquisa tomado
como referência para este texto trata de questões surgidas com
as mudanças na organização industrial brasileira, que, embora
tardiamente, em comparação com outros países industrializados
(somente nos anos 1990), teve que se reestruturar para enfrentar
a competição do mercado globalizado (RAMALHO & SANTANA,
2006; RODRIGUES & RAMALHO, 2007). Observar sociologicamente
essa experiência permitiu ao pesquisador fazer um percurso que
passou pelos conceitos tradicionais, mesmo que para revê-los e
pela incorporação de outras perspectivas e argumentos teóricos
exigidos pela nova realidade social.
1. O debate sobre reestruturação produtiva
O estudo da implantação de novas estratégias produtivas no
setor industrial automobilístico brasileiro e mundial tem oferecido
uma oportunidade bastante proveitosa para alargar o debate teóri-
co em torno do que se denominou, de modo mais genérico, como
“reestruturação produtiva”, mas que nos seus detalhes tem a ver
com a ampliação das cadeias produtivas (agora com características
globais), com a constituição da “empresa em rede” (com alterações
no modelo de fábrica fordista e no relacionamento interfirmas), com
a horizontalização da produção e o crescimento da subcontratação
de empresas e com a re-divisão de trabalho entre elas (que no Brasil
recebeu o nome de “terceirização”). Nesse contexto, por exemplo,
está o caso emblemático do “consórcio modular” da empresa
Volkswagen na cidade de Resende (RJ), que resumiu em uma fábrica
a experiência mais ousada de “produção enxuta” e “terceirização”,
transformando-se em um paradigma de novo modelo produtivo.

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