Políticas na exterioridade ? notas sobre o exílio de escritores latinoamericanos

AutorAna Brancher - Fábio Francisco Feltrin de Souza
CargoPPGHST/UFSC - Doutorando PPGHST/UFSC
Páginas205-221
POLÍTICAS NA EXTERIORIDADE – NOTAS SOBRE O EXÍLIO
DE ESCRITORES LATINOAMERICANOS
Ana Brancher*
PPGHST/UFSC
Fábio Francisco Feltrin de Souza**
Doutorando PPGHST/UFSC
Resumo: O artigo analisa alguns escritores latinoamericanos obrigados a deixar
seus países por perseguições políticas nos séculos XIX e XX. O exílio como
imposição política é notadamente distinto da emigração, esta última geralmente
decorrente de conjunturas econômicas mas também por opção pessoal. A condição
de escritor exilado constituiu uma dupla exterioridade: Ao mesmo tempo em que
interferiu na atuação política e na vida privada destes escritores, o exilio também
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Palavras chave: Exílio; escritores; América Latina.
Politics in exteriority – notes about Latin-American exile
Abstract: The article analyzes some Latin American writers that were forced to
leave their countries for politics persecutions during the 19th and the 21st century.
The exile as a politic imposition is notoriously dis tinguished of emigration, this one
usually resulting from economic circumstances and also personal choice. The condition of
exiled writer established a double exteriority: at the same time that interfered in the politic
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production and publi cizing Latin-American literature.
Keywords: Exile; writers; Latin America.
Julio Cortázar, o renomado escritor argentino autor de Rayuela,
prognosticou certa vez: “Virá o dia em que as histórias da literatura latinoamericana
comportarão um capítulo exclusivamente dedicado à literatura do exílio”.1 Cortázar
bem sabia de onde e do que falava: Morando, por opção própria, em Paris desde
1951, ele vivenciou de forma intensa o exílio dos escritores latinoamericanos que,
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* Parte deste artigo é resultado do Pós-doutoramento realizado em 2007, na Université Paris X, Nanter-
re, com bolsa de estudos propiciada pela CAPES.
** Bolsista CAPES.
206 REVISTA ESBOÇOS Nº 20 — UFSC
Durante os séculos XIX e XX, boa parte dos países latinoamericanos
passou por governos ditatoriais. Uma das primeiras providências que os governos
ditatoriais adotaram foi silenciar as pessoas que faziam oposição política, seja
através de prisões, submissões, exílios e, nos casos extremos mas não raros, através
da morte. O silenciar as pessoas implicou também em eliminar projetos políticos
e pessoais de gerações inteiras que se opunham a determinado governo.2 Todavia
o recurso do exílio foi, como diz o adágio popular, uma faca de dois gumes, tanto
para os governos quanto para os exilados.
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também das relações afetivas, dos pertencimentos cotidianos, das práticas culturais.
Para Edward Said, o exílio é uma fratura incurável entre o ser humano e seu lar;
para Giorgio Agamben, ele é “o exercício de uma vida nua” que transcende a
uma relação jurídico-política marginal. Como imposição política, o exílio é
notadamente distinto da emigração, esta geralmente decorrente de conjunturas
econômicas mas também por opção pessoal. Um exemplo deste último caso,
dentre os muitos, é o fato de inúmeros escritores, do mundo inteiro e em diferentes
épocas, terem optado por viver em Paris simplesmente pelo clima intelectual que a
cidade propiciava.3
Os itinerarios do exílio latinoamericano se deram principalmente
para a Europa, Estados Unidos e Africa, mas também entre os próprios países
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se no Brasil, Chile e Uruguai fugindo das perseguições políticas; da mesma
forma, escritores brasileiros refugiaram-se no Chile, Argentina, Uruguai durante
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Latina também foi terra de asilo. No século XX, por exemplo, exilados espanhóis,
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Argentina; da mesma forma europeus que sofreram perseguição buscaram abrigo
na América Latina, como foi o caso do escritor Stephan Zweig.
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intelectuais foi se formando tanto no sentido de organização da resistência e
combate quanto na discussão de correntes estéticas e difusão de obras literárias.
Não é raro depoimentos de escritores hispanoamericanos que ‘descobriram’ o
Brasil durante o exílio, e vice versa.
Trataremos de comentar a seguir, em dois movimentos distintos, alguns
escritores latinoamericanos4 que foram obrigados a deixar seus países por
perseguições políticas.
* * *

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