Notas sobre educação popular

AutorCláudio Perani
Páginas92-100
NOTAS SOBRE EDUCAÇÃO POPULAR
Cláudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º106, nov.-dez. 1986, p. 74-81.)
Reuniram-se em Salvador, Bahia, de 4 a 9 de agosto, mais de 250 participantes do
Congresso organizado pelo Movimento Leigos para a América Latina (MLAL) sobre o
tema: A contribuição das experiências de Educação Popular para a transformação das
instituições e da sociedade civil. Na grande maioria, eram voluntários italianos
trabalhando na América Latina mais alguns representantes de experiências de Educação
Popular e assessores de vários países da América Latina e da Itália. Os voluntários
italianos são um grupo bem definido de cristãos pertencentes a um movimento que se
define - nas palavras de seu Presidente, Amedeo Piva - através de três referências
fundamentais: centralidade e primado da pessoa, pluralismo exigido pela inspiração
cristã e o popular.
Os objetivos do Congresso eram ambiciosos: confrontar as experiências de Educação
Popular, avaliar e aprofundá-las teoricamente, estimular intercâmbios e articulações... A
heterogeneidade das situações e das experiências, o grande número de participantes e o
pouco tempo de um Congresso não permitiram avançar muito na linha desejada. De
outro lado, a própria homogeneidade dos participantes cristãos, agentes ou assessores
em Educação Popular, representava um potencial e um limite.
Isso não elimina a importância do Congresso, que - além de outros merecimentos -
serviu para constatar a contribuição que os voluntários italianos estão dando ao
movimento popular latino-americano.
Não pretendo apresentar uma síntese do desenvolvimento e dos resultados dos
trabalhos, menos ainda uma avaliação global do encontro: seria difícil pela
complexidade e diversidade das colocações. O encontro revelou sem dúvida, uma
grande riqueza de experiências educativas estimuladas pela colaboração dos voluntários
italianos, juntamente com um bom nível de reflexão.
Em relação ao Congresso, algumas críticas já apareceram: lamentam sobretudo o pouco
espaço dado à voz dos voluntários e, ao contrário, a excessiva confiança na palavra dos
assessores. Retomo isso porque revela uma certa contradição com a perspectiva da
educação popular e porque pretendo sobre isso fazer umas reflexões.
Minha intenção se limita, em primeiro lugar, a apresentar e comentar parte do conteúdo,
utilizando uma síntese feita por Luís Alberto Gomes de Souza. Em segundo lugar,
aproveito a ocasião para acenar a duas questões que vão além do Congresso e que, pelo
menos no Brasil, estão presentes na problemática da Educação Popular: a questão da
consciência popular e a questão da organização. Duas partes bem definidas e
diferenciadas.
1. EDUCAÇÃO POPULAR
Sob esse nome estavam representadas, no Congresso, várias experiências: Cooperativas
Agrícolas, Grupos de Camponeses, Trabalhos com Sindicatos, Formação de Base e de

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