Nem leigos nem peritos: o semeador e as mudanças climáticas no Brasil

AutorPedro Henrique Campello Torres, Pedro Roberto Jacobi, Ana Lia Leonel
CargoPesquisador do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Universidade de São Paulo (USP)/Professor Titular Sênior no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam)/Doutoranda em Planejamento e Gestão do Território (PGT), na Universidade Federal do ABC (UFABC)
Páginas17-38
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2020v19n44p17
1717 – 38
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer f‌im, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer f‌im, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
Nem leigos nem peritos: o semeador
e as mudanças climáticas no Brasil1
Pedro Henrique Campello Torres2
Pedro Roberto Jacobi3
Ana Lia Leonel4
Resumo
A agenda das mudanças climáticas e suas relações com lutas e mobilizações sociais tem crescido
nas últimas décadas em escala global. No campo sociológico, o tema tem recebido interesse cres-
cente, tanto em sua produção científ‌ica como no engajamento social. A partir de levantamento
da produção sociológica brasileira em periódicos nacionais, buscou-se verif‌icar como esse proces-
so está em andamento no Brasil. Em seguida, buscando ref‌letir sobre a relação entre a produção
científ‌ica e a mobilização das ruas, analisam-se, de forma comparativa, as manifestações da greve
climática ocorridas em setembro de 2019. Tanto a produção acadêmica quanto a mobilização
social foram extremamente pouco representativas no caso analisado.
Palavras-chave: Mudanças climáticas. Antropoceno. Greve pelo clima. Fridays for future. Justiça
climática.
Introdução
Ao passo que eventos climáticos severos passam, cada vez mais, a fa-
zer parte da realidade das cidades e seus residentes – com a tendência a
tornarem-se ainda mais frequentes (AMBRIZZI, et al., 2017) –, aumenta
1 Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), processos 2018/06685-9,
2015/03804-9, 2019/05644-0, 2018/02464-8 e 2019/18462-7. Agradecemos à Beatriz Pereira Silva pelo apoio
fundalmental na coleta de dados e informações para a presente pesquisa.
2 Pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Universidade de São Paulo (USP). E-mail: pedrotorres@
usp.br. https://orcid.org/0000-0002-0468-4329
3 Professor Titular Sênior no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam), Instituto de Energia e
Ambiente (IEE), Universidade de São Paulo (USP). https://orcid.org/0000-0001-6143-3019
4 Doutoranda em Planejamento e Gestão do Território (PGT), na Universidade Federal do ABC (UFABC). https://
orcid.org/0000-0003-4914-143X
Nem leigos nem peritos: o semeador e as mudanças climáticas no Brasil | Pedro Henrique Campello Torres, Pedro Roberto Jacobi,
Ana Lia Leonel
18 17 – 38
a percepção da necessidade de ações concretas de planejamento e gover-
nança para se enfrentar as mudanças climáticas. Aprender com as tragédias
têm sido mote frequente nos discursos políticos pós-desastres ambientais
no Brasil, o que não tem signicado, na prática, melhores gestões para
preveni-los (NOGUEIRA; CANIL, 2018; SULAIMAN; ALEDO, 2016).
Tragédias e crises podem compor o que Kingdon (1995) considera
como uma “janela de oportunidade” para uma mudança de paradigma em
relação às políticas públicas. Quanto aos pós-desastres, não é o que tem se
vericado no Brasil em eventos recentes, como o Ciclone Catarina (MAR-
CELINO et al., 2005), os deslizamentos e enchentes na região serrana do
Rio de Janeiro (COATES, 2019) e na região do ABC paulista (TRAVAS-
SOS et al., 2020), entre tantos outros casos recentes.
Do ponto de vista dos processos de aprendizagem e articulação de
saberes para a gestão da adaptação às mudanças climáticas, as instituições
públicas, bem como a academia, são cada vez mais desaadas a irem além
da abordagem convencional top-down e assumirem uma losoa de apren-
dizagem mútua (ADGER; ARNELL; TOMPKINS, 2005). Nesse con-
texto, emergem modelos participativos, como a pesquisa-ação, bem como
os conceitos da coprodução de conhecimento (SCHMIDT; GOMES;
JACOBI, 2019).
No entanto, a implementação dessa agenda não é clara e a extensão de
um redirecionamento de resposta da produção de conhecimento em Ciên-
cias Sociais, mais especicamente na sociologia, é ainda marginal, embora
ascendente, dentro de seu próprio campo disciplinar. Não se trata aqui
de uma reexão sobre qual o papel da sociologia nesse processo, o que já
foi feito por Ferreira (2004), Yearley (2009), Urry (2009), Brulle e Riley
(2015), entre outros. O objetivo aqui é duplo e interconectado. De um
lado, reetir sobre como o campo da sociologia no Brasil tem trabalhado a
questão, a partir da produção cientíca em periódicos nacionais de maior
excelência de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes). Por outro lado, analisar como a conjuntura do
Brasil, e sua articulação como país do Sul Global, reverbera no aumento do
engajamento da sociedade civil sobre o tema.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT