A Importância dos Clássicos na Formação do Pesquisador: o que nos diz os conceitos de socialização, identificação e campo intelectual como campo de poder

AutorJuliana Cristina Teixeira - Eduardo José Zanoteli - Alexandre de Pádua Carrieri
CargoDoutoranda em Administração pelo CEPEAD/UFMG. Professora Assistente. Universidade Federal de São João Del-Rei. Belo Horizonte, MG. Brasil - Doutorando em Administração pelo CEPEAD/UFMG. Professor do Departamento de Ciências Contábeis da UFES. Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES. Brasil - Professor Titular da Pós-Graduação e da ...
Páginas154-171
Artigo recebido em: 20/12/2012
Aceito em: 15/07/2013
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
A IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS NA FORMAÇÃO DO
PESQUISADOR: O QUE NOS DIZ OS CONCEITOS DE
SOCIALIZAÇÃO, IDENTIFICAÇÃO E CAMPO INTELECTUAL COMO
CAMPO DE PODER
The Importance of Classics in the Formation of the Researcher:
what says to us the concept of socialization, identification and
intellectual field as field of power
Juliana Cristina Teixeira
Doutoranda em Administração pelo CEPEAD/UFMG. Professora Assistente. Universidade Federal de São João Del-Rei. Belo
Horizonte, MG. Brasil. E-mail: julianacteixeira@yahoo.com.br
Eduardo José Zanoteli
Doutorando em Administração pelo CEPEAD/UFMG. Professor do Departamento de Ciências Contábeis da UFES. Universidade
Federal do Espírito Santo. Vitória, ES. Brasil. E-mail: eduardo.zanoteli@ufes.br
Alexandre de Pádua Carrieri
Professor Titular da Pós-Graduação e da Graduação em Administração do CEPEAD/UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais.
Belo Horizonte, MG. Brasil. E-mail: alexandre@face.ufmg.br
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n38p154
Resumo
O objetivo deste ensaio teórico é defender a importância
da leitura dos clássicos no processo de formação e de
constituição do sujeito como pesquisador. Constrói-se
essa defesa por meio de abordagens teóricas relacionadas
aos conceitos de socialização; de identificação (que se
relaciona ao conceito de identidade); e por meio da
noção bourdiesiana de que o campo intelectual é um
campo de poder. Ao longo da discussão, analisa-se
como, por intermédio da socialização, há uma influência
tanto da estrutura quanto do próprio sujeito em sua
constituição como pesquisador. Por meio do conceito de
identificação, percebe-se a influência da subjetividade
do sujeito pesquisador ao se identificar ou não com os
clássicos que lê, escolhendo aqueles que serão os “seus”
clássicos. E, por meio da noção de campo intelectual
como campo de poder, considera-se a existência de
uma ciência que não é desinteressada e defende-se o
perigo dos apuds e da leitura de traduções dos clássicos.
Palavras-chave: Clássicos. Pesquisador. Socialização.
Identificação. Campo de Poder.
ABSTRACT
The objective of this theoretical article is defend the
importance of reading of the classics in the process of
formation and constitution of the subject as a researcher.
We construct this defense by means of theoretical
approaches related to the concepts of socialization,
identification (which relates to the concept of identity);
and by means of Bourdieusian notion of that intellectual
field is a field of power. Throughout the discussion,
we analyzed how, by means of socialization, there is
an influence of the structure how of the subject itself
in their constitution as researcher. By means of the
concept of identification, we perceive the influence of
the subjectivity of the researcher subject to the identify
yourself or not with the classics that reads, choosing
those who will be “their” classics. And, by means of
the notion of the intellectual field as a field of power,
we consider the existence of a science that is not
disinterested and we defend the danger of “apuds” and
reading of translations of the classics.
Keywords: Classics. Researche. Socialization.
Identification. Fiel of Power.
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Revista de Ciências da Administração • v. 16, n. 38, p. 154-171, abr. 2014
A Importância dos Clássicos na Formação do Pesquisador: o que nos diz os conceitos de socialização, identificação e campo intelectual como campo...
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste ensaio teórico é, por meio de
uma releitura da obra de Ítalo Calvino1, Por que ler
os clássicos, defender a importância da leitura dos
clássicos no processo de formação e de constituição
do sujeito como pesquisador. Para tal, foram utilizadas
abordagens teóricas relacionadas aos conceitos de
socialização, identificação (e identidade) e a noção do
campo intelectual como um campo de poder. Sendo
assim, foram acionados diferentes constructos teóricos
que auxiliam na discussão da importância de se ler os
clássicos, principalmente em contraposição a leituras
orientadas apenas para autores contemporâneos ou
“leitores” dos clássicos (tais como os famosos apuds).
Importante ressaltar também a pertinência de
se fazer tal discussão aliada à relação que existe entre
estrutura e sujeito nas ciências sociais. Cada um dos
conceitos aqui trabalhados auxilia a pensar a influência
de ambos na formação do pesquisador, bem como
a influência de jogos de poder existentes no campo
intelectual.
A formação do pesquisador e seu estabelecimen-
to no campo estão significativamente relacionados
à trajetória que acompanha esse pesquisador desde
sua inserção no campo acadêmico (até mesmo ante-
riormente), trajetória essa influenciada por processos
de socialização e de identificação, em que o sujeito
continuamente se constrói como pesquisador, modifi-
cando-se ao longo do tempo. Em sua interação com
os outros (o próprio clássico é um desses outros), em
seu processo de identificação ou não com esses outros,
o pesquisador vai se constituindo. Nesse processo, os
clássicos adquirem um papel importante, e por maiores
que sejam “[...] as leituras de formação de um indiví-
duo, resta sempre um número enorme de obras que
ele não leu”. (CALVINO, 1999, p. 9)
Essa formação é também influenciada pelos inte-
resses e pelas tomadas de posições políticas por parte
dos escritores, estudiosos ou pesquisadores no campo
intelectual, o que se reverte em um alerta para que não
se leia de forma ingênua os clássicos e, principalmente,
os leitores desses clássicos. Pois ser pesquisador é ser
político, já que assumir uma posição estética dentro
do campo intelectual implica também em assumir uma
tomada de posição política. (BOURDIEU, 2006)
Como forma de estruturar as discussões, o ensaio
foi organizado em seis seções. Esta que ora se encerra
(Seção 1) apresentou o tema proposto e o contextuali-
zou aos conceitos que serão discutidos. Na Seção 2, é
feito um convite à leitura dos clássicos a partir da obra
de Ítalo Calvino. Nas seções seguintes, discutem-se os
conceitos de socialização (Seção 3), identificação e
identidade (Seção 4) e campo intelectual como campo
de poder (Seção 5), os quais são associados à leitura
dos clássicos e à formação do pesquisador. Por fim,
na Seção 6, são apresentadas as considerações finais,
nas quais reafirma-se a defesa pela importância dos
clássicos na constituição do ser-pesquisador.
2 POR QUE LER OS CLÁSSICOS, POR ÍTALO
CALVINO
Os pesquisadores poderiam se questionar: por
que ler os clássicos se é possível consultar uma litera-
tura intermediária e otimizar o tempo, concentrando a
leitura em temas atuais e contemporâneos? Ou, ainda,
por que envidar esforços em desbravar os clássicos se
outros já o fizeram? Algumas das possíveis respostas se
iniciam com outros questionamentos, como por exem-
plo: será que Marx foi adequadamente compreendido
e estudado pelos que se dizem marxistas? Será que
não tem mais nada a dizer? Será que seus seguidores,
simpatizantes e críticos conseguiram captar em essência
as suas ideias e pensamentos e exploraram todas as
perspectivas possíveis? O mesmo se poderia questionar
sobre Durkheim, Weber, Kant, Hegel, Freud, Bourdieu,
Berger e Luckmann, Foucault, Popper, Markowitz,
Modigliane e Miller e tantos outros clássicos. A simples
dúvida quanto às respostas para essas questões, por
si só, já seria um convite à leitura dos clássicos, mas
muitos outros motivos se somam a estes, os quais serão
discutidos neste ensaio.
Um aspecto para o qual se quer chamar atenção
na defesa que se faz em relação à leitura dos clássicos
é que, por haver uma tendência de que eles sejam con-
siderados atemporais, corre-se um risco muito grande
de se cair no anacronismo conceitual. Ler os clássicos
não deveria ser um simples exercício de captura de
conceitos, de cópia de trechos que possam explicar
temas e discussões que se queira hoje realizar, como
se fosse possível acionar atemporalmente. Os clássicos

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