Narrativas sobre a Conjuração Mineira: Pedro Américo, Portinari, João Câmara e Joaquim Pedro

AutorMaraliz Castro Vieira Christo
CargoProfª de História da Arte. Universidade Federal de Juiz de Fora
Páginas95-116
NARRATIVAS SOBRE A CONJURAÇÃO MINEIRA: PEDRO AME-
RICO, PORTINARI, JOÃOMARA E JOAQUIM PEDRO1
Maraliz de Castro Vieira Christo
Profª de História da Arte
Universidade Federal de Juiz de Fora
maraliz@acessa.com
Resumo
Comparando-se as narrativas propostas por artistas diferentes em períodos igual-
mente diversos sobre a Conjuração Mineira, buscou-se salientar as especificidades
de cada uma, assim como o diálogo que estabelecem. Privilegiou-se a obra de
Pedro Americo, o primeiro a expor o esquartejamento do herói, e seguiu-se, cote-
jando-a com as posteriores. Pedro Americo, Portinari, João Câmara e Joaquim
Pedro, ao se colocarem o problema das relações entre colônia e metrópole, inte-
lectuais e revolução, herói e povo, responderam a questões específicas dos res-
pectivos contextos de produção de suas obras.
Palavras-chave: Conjuração Mineira, Pedro Americo, Portinari, João Câmara,
Joaquim Pedro.
Narratives on the Conjuração Mineira: Pedro Americo, Portinari, João Câmara e
Joaquim Pedro
Abstract
Comparing the narratives proposals for different artists in equally diverse periods
on the Mining Plot, one searched to point out the especificidades of each one, as
well as the dialogue that establish. It was privileged workmanship of Peter Americo,
the first one to display the cutting of the hero, and was followed, it with the
posterior ones. Pedro Americo, Portinari, João Câmara and Joaquim Pedro, to if
placing the problem of the relations between colony and metropolis, intellectuals
and revolution, hero and people, had answered the specific questions of the
respective contexts of production of its workmanships.
Keywords : Mining plot, Pedro Americo, Portinari, João Câmara, Joaquim Pedro.
96 REVISTA ESBOÇOS Nº 19 — UFSC
Comparar obras sobre um mesmo tema é procedimento comum na Histó-
ria da Arte2. Não se trata de estabelecer qual verdadeiramente o representa; as
preocupações são outras. Comparando-as, percebe-se com maior nitidez suas
especificidades, o sentido diverso que cada uma constrói para o mesmo fato his-
tórico. Os pintores Pedro Americo, Cândido Portinari e João Câmara, assim como
o cineasta Joaquim Pedro, ao narrarem cada qual a sua versão sobre a Conjura-
ção Mineira, enfatizaram questões distintas, condizentes com o seu próprio tem-
po.
PEDRO AMERICO
A Proclamação da República (1889) e o centenário da morte de Tiradentes
(1892) reforçaram o empenho de se transformar Joaquim José da Silva Xavier
em herói de toda a nação3. 21 de abril foi declarado feriado nacional, em 1890. O
debate em torno de se erigir uma estátua, homenageando-o em seu centenário,
no lugar apontado como de sua execução, já ocupado pela estátua eqüestre de D.
Pedro I, acirrou os ânimos de monarquistas e republicanos, como também de
republicanos inclinados a outros mártires, a exemplo de Frei Caneca. Aceita ou
renegada, a Conjuração Mineira impunha-se como tema.
Em tal conjuntura, Pedro Americo, com 49 anos, aposentado da Escola de
Belas Artes do Rio de Janeiro e Deputado ao Congresso Nacional pela Paraíba,
dedica-se, por conta própria, ao projeto de criar uma série sobre a Conjuração
Mineira. O que, de imediato, nos faz questionar sobre os elementos basilares de
seu projeto iconográfico, seu processo de gestação e articulação com a conjuntu-
ra de origem, fazendo-se necessário historiar as escolhas de Pedro Americo.
A pintura histórica exige do artista uma atitude muito próxima à do histori-
ador. Procurou Pedro Americo cercar-se de informações, mantendo significativa
correspondência com seu amigo e membro do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, então em Pa-
ris4. Embora não simpático ao movimento, existe uma tênue possibilidade do Ba-
rão ter sugerido ao pintor o tema da Conjuração. Em carta datada de 27 de
agosto de 1889, vê-se que Pedro Americo costumava solicitar ao amigo temas
para seus quadros históricos: “Já pensou no assumpto brasileiro de tres ou quatro
figuras? Estou sempre á espera de seu achado, porque pretendo pintar nova téla
e prefiro causa patria, á seu gosto.” 5 Após essa data, o próximo projeto do artista
será, exatamente, sobre a Conjuração Mineira. Mas, de certo, podemos afirmar,
somente, a importância desse contato para o estabelecimento da série.
Pedro Americo retornara a Florença antes de finda a legislatura da Câma-
ra, em 1892, e Rio Branco encontrava-se em Paris. Três cartas trocadas entre
eles, datadas de 29 de outubro, 10 e 14 de novembro de 18926, são significativas

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