As narrativas de fronteira e a construção de identidades

AutorDiogo da Silva Roiz
CargoDoutorando em História pela UFPR, bolsista CNPq. Mestre em História pelo programa de pósgraduação da UNESP, Campus de Franca. Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Campus de Amambaí. Endereço para correspondências: Rua José Luiz Sampaio Ferraz, 1133, Vila Gisel
Páginas303-308

Page 303

HARTOG, F. Memória de Ulisses. Narrativas sobre a fronteira na Grécia Antiga. Tradução de Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004, 273p.

A constatação de que vivemos em um mundo (a)diverso, a começar pelo próprio gênero humano, em que coexistem várias etnias, e que dentro dessa mesma diversidade se deveriam criar condições adequadas para a existência da espécie, ainda não é suficiente para coibir, ou mesmo minimizar, as interpretações bipolares, tais como: "o eu" e "o outro"; "o civilizado" e "o bárbaro"; "o negro" e "o branco"; "o homem" e "a mulher" . Talvez após o dito "11 de setembro de 2001" essa questão fronteiriça tenha ainda se tornado mais tênue, de modo a reacender àquelas bipolarizações e distribuí-las para outras esferas (que não apenas a cultural), a exemplo da religião, da justiça e da diplomacia internacional (arrefecida com a questão do combate ao terrorismo). Com as circulações instantâneas de informações por todo globo, as conseqüências de problemas como estes incidem numa questão ainda (hoje) primordial (principalmente se considerarmos as discussões sobre a globalização): como os homens (e mulheres), as sociedades e as nações criam suas identidades? Criação, que no passado, como também no presente, muitas vezes ocorre por intermédio de uma interpretação do que é o "eu" e o "outro" - tal como outrora gregos, e depois romanos, construíram suas identidades em comparação, e contraposição, ao bárbaro; ou o Ocidente, em oposição ao Oriente; ou ainda o Capitalismo, diferenciando-se do Socialismo. De modo que não seria exagero a constatação de muitos autores, para os quais questões fronteiriças e identitárias viriam à tona sempre que circunstâncias adversas (como conflitos culturais e guerras) eclodissem de modo repentino (e às vezes inesperado).

Page 304

Entre os vários estudiosos desse assunto, a obra de François Hartog, basicamente dedicada à historiografia antiga (e moderna) e a história intelectual, oferece uma análise precisa e minuciosa para os dilemas acima apontados para o caso de Grécia e Roma, na Antiguidade Clássica e Tardia. Tal interpretação nos impõe, de modo inesperado, uma reflexão sobre a forma como as sociedades contemporâneas ainda enfrentam aqueles dilemas. E o seu livro, recentemente traduzido no Brasil, Memória de Ulisses a desperta de maneira especial.

O texto é basicamente uma interpretação de narrativas sobre a fronteira, que no passado contribuíram para que os Gregos (como também os Romanos)...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT