Namoro: uma relação de afetos ou de violência entre jovens casais?

AutorMarlene Almeida de Ataíde
CargoDoutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Páginas248-270
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n1p248
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
NAMORO: UMA RELAÇÃO DE VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS CASAIS
1
Marlene Almeida de Ataíde
2
Resumo:
O presente artigo resulta de uma pesquisa qualitativa, ancorada pela metodologia da
história oral, enquanto suporte investigativo. Teve como objetivo conhecer a partir
das narrativas de duas jovens universitárias o fenômeno da violência nas relações
de namoro. Nesta perspectiva desvelar os argumentos que defendem para
submeter-se a uma relação de violência pressupõe apreender os significados que
atribuem ao (s) tipo (s) da (s) violência (s) sofrida (s). Assim, esta pesquisa buscou
investigar a violência de gênero, ou seja, as ações ou condutas, baseadas no
gênero, que podem causar a morte, além do dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, pois, tais eventos dessa natureza podem ocorrer tanto no
espaço público como no privado. A violência de gênero expressa as relações de
poder historicamente desiguais entre homens e mulheres.
Palavras chave: Juventude. Namoro. Gênero. Violência de gênero. História Oral.
1 INTRODUÇÃO
1.1 A INVISIBILIDADE DA VIOLÊNCIA NO NAMORO
Preliminarmente é necessário lembrar que discorrer sobre a categoria
juventude(s), nos remete ao reconhecimento da sua historicidade para então,
questionar a sua universalidade, pois, essa categoria possui variações não apenas
nas idades cronológicas, mas também, nas expectativas que as sociedades
constroem sobre esses sujeitos. Por outro lado, viver a condição juvenil na
perspectiva de gênero é também diferenciar-se “[...] em função de desigualdades de
gênero, de preconceitos e discriminações que atingem diversas etnias” (NOVAES,
s/d, p. 2). Desta forma pode-se inferir que “[...] diferentes segmentos juvenis formam
um complexo caleidoscópio no qual se entrelaçam indicadores sociais reveladores
(NOVAES, s/d, p. 2).
1
Parte deste artigo foi apresentado oralmente no X Encontro Regional Sudeste de História Oral
“Educação das Sensibilidades: violência, desafios contemporâneos" no período de 10 a 13 de
setembro de 2013, na Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.
2
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora do Curso
de Serviço Social da Faculdade Tijucussu - São Caetano do Sul, SP e Universidade de Santo Amaro,
São Paulo, SP. E-mail: maataide@yahoo.com.br
249
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.12, n.1, p.248-270, Jan-Jun. 2015
Dentre os indicadores sociais reveladores há a violência de gênero enquanto
um fenômeno que atinge todas as classes sociais, independente do nível de
instrução e recursos socioeconômicos. Neste paper a discussão centra-se numa das
dimensões da violência de gênero que envolve a(s) juventudes(s), ou seja, aquela
que ocorre no âmbito das relações amorosas entre jovens casais de namorados.
Nos últimos tempos, parece que o Brasil descobriu que namoro, violência e
juventude se cruzam e entrecruzam na dinâmica de diferentes casais de namorados,
uma vez que notícias sobre violências cometidas por ex-namorados ou namorados
têm sido amplamente exploradas na mídia impressa e televisiva.
Importante ressaltar que no Brasil a violência de gênero surge enquanto
categoria de estudos para desmascarar as gritantes desigualdades entre homens e
mulheres no final dos anos 90. (GOMES, 2111).
Considera-se por outro lado que esse fenômeno da violência entre jovens
casais de namorados faz parte de um contexto amplo de relações que são
constituídas culturalmente e a mídia se coloca enquanto um importante fator de
socialização que influencia na construção da violência e nas subjetividades dos
jovens no mundo contemporâneo. Para Almeida et. al. (2008, p. 4), a violência pode
ser compreendida como “[...] um dado cultural e societário, com uma grande
variação em suas formas de manifestação, em função do contexto sociocultural em
que ocorre, e da diversidade e complexidade dos valores que assume, em cada um
destes contextos particulares”.
Nos últimos anos pesquisas e estudos divulgados demonstram que a
violência de gênero juvenil na fase do namoro é um acontecimento que ocorre de
forma ininterrupta e habitual demonstrando que essa violência não surge apenas no
casamento, mas se inicia nas relações de namoro.
Por outro lado há uma banalização de certos atos de agressão entre os
jovens namorados que não são percebidos como violentos e se tornam invisíveis e
que de acordo com Gomes (2011, p. 140), “[...] Parte-se do pressuposto de que
essas relações se inserem em contextos que, influenciados por certos modelos
hegemônicos de gênero, tanto podem se relacionar à produção de violências quanto
podem contribuir para a invisibilidade da própria vida”

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT