Mulheres quilombolas, violência e as interseccionalidades de gênero, etnia, classe social e geração

AutorPatricia Krieger Grossi - Simone Barros de Oliveira - Jairo da Luz Oliveira
CargoAssistente Social - Assistente Social - Assistente Social
Páginas929-947
Artigo recebido em: 15/03/2018 Aprovado em: 16/05/2018
MULHERES QUILOMBOLAS, VIOLÊNCIA E AS
INTERSECCIONALIDADES DE GÊNERO, ETNIA,
CLASSE SOCIAL E GERAÇÃO1
Patricia Krieger Grossi1
Simone Barros de Oliveira2
Jairo da Luz Oliveira3
Resumo
Este artigo discute sobre a violência contra segmentos sociais vulnerabilizados,
como mulheres negras, e estratégias de enfrentamento, considerando diferentes
eixos de opressão na perspectiva dos direitos humanos e da interseccionalidade.
Foram entrevistadas mulheres e homens quilombolas e pro ssionais que atu-
am em quilombos urbanos e rurais do Rio Grande do Sul. As narrativas foram
submetidas à análise de conteúdo. Os resultados apontam que essas mulheres
vivenciam opressões que  uem ao longo dos eixos de gênero, raç a/etnia, ge-
ração e classe social. Exper ienciam violência estrutural através da di culdade
de acesso às políticas públicas, racismo institucional e não reconhecimento de
1 Assistente Social, Doutora em Ser viço Social pela Universidade de Toronto, Professora
Adjunta do Curso de Serviço Social da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Email:
pkgrossi@pucrs.br
/ Endereço: Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS: Av. Ipiranga 6681, Partenon . Porto
Alegre-RS. CEP: 90619-900.
2 Assistente Social, Doutora em Serviço Social pela PUC-RS, Professora Adjunta do Curso
de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). E-mail:
simone.
oliveira@unipampa.edu.br
/ Endereço: Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA:
Rua Ver. Alberto Benevenuto, 3200 - Passo, São Borja – RS. CEP: 97670-000
3 Assistente Social, Doutor em Ser viço Social pela PUC-RS, Professor adjunto do Curso de
Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
jairo.oliveira@
ufsm.gmail.com
/ Endereço: Universidade Federal de Santa Maria - UFSM:
Rua
Marechal
Floriano Peixoto, 1184, centro,
Santa Maria
.
CEP
: 97105-900
MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS
VIOLÊNCIA, DIREITOS HUMANOS E AS INTERSECCIONALIDADES
DE GÊNERO,RAÇA/ ETNIA, CLASSE SOCIAL E GERAÇÃO:
desaÞ os para as políticas públicas
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Patricia Krieger Grossi | Simone Barros de Oliveira | Jairo da Luz Oliveira
sua identidade étnico-cultural nas escolas. Conclui que a resistência se efetiva a
partir da organização local para acessar os direitos de cidadania.
Palavras-chave: Mulheres quilombolas, interseccionalidades, violência.
QUILOMBOLA WOMEN, VIOLENCE AND THE
INTERSECCIONALITIES OF GENDER, ETHNICS, SOCIAL
CLASS AND GENERATION
Abstract
is article disc usses violence against vulnerable social segments such as black
women and coping strategies, considering di erent axes of oppression in the
perspective of human rights and intersectionality. Quilombola women and men
and professionals working in urban and rural quilombos in Rio Grande do Sul
were interviewed.  e narratives were submitted to content analysis.  e results
indicate that these women experience oppressions that  ow along the axes of
gender, race / ethnicity, generation and social class. ey experienced structural
violence through the di culty of access to public p olicies, institutional racism
and non-recognition of their ethnic-cultural identity in schools.  e resistance
is e ective from the local organization to access the rights of citizenship.
Key words: Quilombola women, intersectionalities, violence.
1 INTRODUÇÃO
O feminismo interseccional é uma abordagem teórica que tem
sido utilizada por muitas teóricas negras feministas (CRENSHAW,
2002; COLLINS, 2000) para compreender como as diferentes opres-
sões vivenciadas p elas mulheres negras cruzam seus caminhos, im-
pactando nos seus modos e condições de vida. Ao mesmo tempo em
que as opressões de gênero, raça/etnia e classe social incidem na vida
dessas mulheres, obstac ulizando o percurso de acesso aos direitos
de cidadania, também é p ossível visualizar estratégias de resistência
nesses processos vivenciados. A perspe ctiva do feminismo intersec-
cional possibilita analisar as múltiplas opressões vivenciadas pelas
mulheres, cujas identidades e experiências sociais são atravessadas
por diferentes marcadores sociais como gênero, raça/etnia, geração,
classe social, orientação sexual, entre outros.
Por interseccionalidades, adotamos o conceito de Kimberle
Crenshaw, no sentido de que as opressões vivenciadas pelas mu-
lheres quilombolas não se somam, mas se entrecruzam. Segundo
Crenshaw (2002), as interseccionalidades são formas de capturar as
conseqüências da interação entre duas ou mais formas de subordina-

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