A mulher negra professora e seus lugares de pertencimento

AutorClaudia Moreira Costa - Maria de Fátima Di Gregorio
CargoMestre em Relações Étnicas e Contemporaneidade na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, BA - Doutora em Família na Sociedade Contemporânea na Universidade Católica de Salvador
Páginas73-90
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.2, p.70-91 Set.-Dez. 2018
ISSN 1807-1384 DOI: 10.5007/1807-1384.2018v15n3p73
Artigo recebido em: 29.03.2017 Revisado em 28.06.2018 Aceito em: 30.07.2018
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
A MULHER NEGRA PROFESSORA E SEUS LUGARES DE PERTENCIMENTO
Claudia Moreira Costa
1
Maria de Fátima Di Gregorio
2
Resumo:
Este artigo é o resultado de uma investigação realizada com um grupo de mulheres
negras professoras de um programa de formação continuada, promovido pelo Órgão
de Educação e Relações Étnicas (ODEERE), da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia (UESB). Focaliza a construção dos saberes profissionais, privilegiando as
identidades de gênero e étnica. Para tanto, objetivou-se investigar como professoras
negras egressas do Curso de Extensão em Educação e Culturas Afro-brasileiras do
ODEERE têm articulado as questões de gênero e etnicidade aos seus saberes
profissionais, buscando compreender os percursos e dilemas desse processo.
Nesse sentido, analisou-se as categorias gênero, identidade étnica e saberes
profissionais. Trata-se de uma pesquisa empírica, de natureza qualitativa, ancorada
na História Oral. Os achados apresentam elementos para pensar os sentidos
atribuídos ao curso de formação continuada na percepção, reconhecimento e/ou
embasamento teórico para a identidade de gênero e afirmação do pertencimento
étnico, assim como a mobilização de saberes profissionais para lidarem com
questões dessa natureza em suas práxis.
Palavras-chave: Professoras Negras. Gênero. Identidade Étnica. Saberes
Profissionais.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo resulta de uma investigação realizada com um grupo de mulheres
negras professoras egressas de um programa de formação continuada, promovido
pelo Órgão de Educação e Relações Étnicas (ODEERE), da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Jequié, tendo como objetivo investigar
como estas professoras têm articulado as questões de gênero e etnicidade aos seus
saberes profissionais, tomando como parâmetro o ingresso no Curso de Extensão
1
Mestre em Relações Étnicas e Contemporaneidade na Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, Jequié, BA. Pesquisadora do Grupo de Estudos Hermenêuticos sobre Família, Territórios,
Identidades e Memórias. Professora da rede municipal de ensino de Jaguaquara, BA, Bras il E -mail:
cmclaudia3@gmail.com
2
Doutora em Família na Sociedade Contemporânea na Universidade Católica de Salvador.
Coordenadora do Grupo de Estudos Hermenêuticos sobre Família, Territórios, Identidades e
Memórias. Professora de História da Educação na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Campus Jequié e do Mestrado em Relações Étnicas e Contemporaneidade na Universidade do
Sudoeste da Bahia, Jequié, BA, Brasil E-mail: f_digregorio@hotmail.com
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em Educação e Culturas Afro-Brasileiras. As atividades desse órgão fomentam a
pesquisa nas áreas das relações étnicas, diversidade sexual e gênero, favorecendo
a inserção de professores/as da Educação Básica a estarem em contato com as
questões e conteúdos relacionados às temáticas.
As tramas históricas, às quais fazem parte do desenvolvimento profissional de
professoras-negras, evidenciam as questões de gênero e pertencimento étnico
como fontes de identidades que trazem à tona vivências, questionando posturas e
afirmando lugares. Destarte, a carreira do magistério permite às mulheres o acesso
a um espaço público anteriormente frequentado por homens, mas, dentro dos
moldes patriarcais, trazendo referências ao trabalho praticado por elas no lar,
reforçando/naturalizando a docência como uma profissão dotada de estereótipos
ligados aos “papéis femininos” construídos socialmente, como cuidado, amor,
sensibilidade.
Importa, ainda, considerar que as mulheres negras foram as últimas a
ingressarem no magistério, por conta de alguns marcadores, dentre eles os de
gênero e etnia e esta inserção, de acordo com Gomes (1995), rompeu com o
imaginário social de incapacidade intelectual dos negros; no entanto, a partir da
inserção na carreira docente, tiveram que lidar constantemente com o desafio de
lidar com preconceitos e mostrar-se competente.
Nesse sentido, a presença da mulher-negra na carreira docente traz à tona a
necessidade de compreensão do contexto sócio-histórico-cultural como referencial
de seu processo identitário. No caso deste estudo, tais processos importam
especificamente no que tange à experiência social construída por essas professoras
a respeito de gênero e identidade étnica em intersecção com suas experiências
como professoras.
A perspectiva de gênero traz reflexões acerca do processo histórico
engendrado no magistério, evidenciando as contingências, descontinuidades,
permanências e rupturas. À luz das contribuições Joan Scott (1995), Guacira Louro
(1997; 2008), Cláudia Vianna (2002; 2013), Nilma Lino Gomes (1995) e Heleieth
Saffioti (1976), são apresentados elementos que contribuem para pensar como se
produziu a mulher professora, ao mesmo tempo em que contribui para pensar a
posicionalidade da mulher negra nesse processo.
A identidade étnica é tratada recorrendo ao enfoque presente nos estudos de
Fredrik Barth (2011), Poutignat e Streiff-Fenart (2011) e Carneiro da Cunha (2009),

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