Movimento - por Giorgio Agamben

AutorSelvino José Assmann
CargoDoutor em Filosofia pela Università Lateranense, PUL, Itália
Páginas57-64
MOVIMENTO1
GIORGIO AGAMBEN
As reflexões que farei hoje nascem de um mal-estar, ou melhor, de uma série de
perguntas que me pus, assistindo, há algum tempo atrás, em Veneza, a um encontro em
que estavam presentes algumas pessoas que também estão aqui hoje (Toni, Casarini...).
Um termo era repetidamente usado pelos que falavam e discutiam: era o termo
“movimento”. Trata-se de um termo que, em nossa tradição, tem uma longa história.
Mesmo hoje, na intervenção de Toni (Negri), o termo movimento parece ter sido o mais
recorrente. Também no seu livro tem uma posição estratégica, toda vez que se trata de
definir o termo multidão, por exemplo, para escapar da falsa alternativa entre soberania
e anarquia. De onde vinha meu mal-estar, que se repete também hoje? Do fato de me dar
conta, pela primeira vez, de que este termo nunca era definido. Quem o usava
provavelmente não o poderia definir, ou em todo caso, nunca o definia. Eu mesmo não o
teria conseguido definir. No passado muitas vezes me servi, como regra implícita de
minha prática de pensamento, da fórmula: quando há movimento, fazer como se não
houvesse, e quando não há movimento, fazer como se houvesse. Agora me dou conta de
que não sabia o que significava o termo movimento, para além de toda a sua
genericidade. Trata-se de um termo que todos acham que entendem, mas que não se
define. Por exemplo: de onde provinha este termo? Por que se passa em certo momento
a chamar movimento uma instância política decisiva? Assim, as considerações que faço
1 Tradução portuguesa por Selvino José Assmann, Doutor em Filosofia pela Università Lateranense, PUL,
Itália, Professor do Departamento de Filosofia e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas,
CFH/UFSC, Setembro de 2005.
Tradução portuguesa da intervenção feita por Giorgio AGAMBEN, em italiano, em encontro realizado em
Veneza. Audio acessado em junho de 2005: http://www.globalproject.info/IMG/mp3/03_agamben.mp3.
Conservou-se em geral, na tradução portuguesa, o estilo da intervenção falada, embora se tenha cotejado
o áudio em italiano com a transcrição feita e traduzida para o inglês – por Arianna Bove - acessada, em
agosto de 2005, na revista eletrônica Multitudes: http://multitudes.samidzat.net/article.php3?id_article=1914

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