O movimento dos trabalhadores e a CUT

AutorCláudio Perani
Páginas60-67
O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES E A CUT
Cláudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º 80, jul.-ago. 1982, p. 13-21)
A partir da evolução da conjuntura política dos últimos 3-4 anos, colocam-se novos desafios para o
movimento popular. A aparente facilidade - ao lado, evidentemente, de dificuldade diante da repres-
são etc. - que parecia existir, antes da tal de "abertura", para reconhecer o caminho a ser percorrido e
conduzir uma ação unitária, veio menos pelas novas exigências de organização postas ao
movimento popular pela conjuntura econômico-política e, também, pela maior visibilidade de várias
tendências ideológico-partidárias presentes no movimento.
Nesta situação é necessário aprimorar a análise, sem perder a referência fundamental que continua
sendo em qualquer conjuntura o dado objetivo e histórico da luta concreta das classes populares em
seus diferentes níveis.
Pretendemos aqui simplesmente expor umas reflexões, necessariamente limitadas e genéricas pela
complexidade do tema, a propósito da conjuntura em que se encontra o movimento popular,
focalizando porém unicamente o movimento dos trabalhadores, considerado a partir das iniciativas
para constituir a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o que limita ainda mais nosso trabalho.
1. SURGIMENTO DA CONCLAT
Diante da dispersão das lutas dos trabalhadores e pela exigência de debater questões como a política
econômica e salarial do governo, a organização nacional dos trabalhadores, a luta pela democracia,
no final dos anos 70 surgiu, a partir de alguns sindicalistas a idéia de uma Conferência Nacional das
Classes Trabalhadoras (CONCLAT). É claro que não surgiu de improviso, mas foi exigência
discutida em vários encontros regionais. prévios, sobretudo de trabalhadores participantes de
Oposições Sindicais. Também sabemos que se trata de uma luta antiga: já o I Congresso Operário
Brasileiro (1906) criou uma Confederação, que de fato começou a funcionar em 1908.
O que aqui mais nos interessa, em primeiro lugar, é constatar que o lugar econômico onde surge
hoje a idéia de CONCLAT é fundamentalmente São Paulo (incluindo ABC), coração industrial do
capitalismo do Brasil, sede da realização das mais altas taxas de exploração monopolista. Nesta
região existe uma classe operária que, além de uma antiga tradição de lutas, possui
atualmenteum grande nível de qualificação profissional, tem formação e relativamente alto nível de
consciência. Diferente é a situação de outras regiões.
Em segundo lugar , diante da fraqueza do movimento dos trabalhadores para se constituir hoje numa
alternativa de poder, mas também diante do entusiasmo suscitado pelas mobilizações e pelas greves,
sobretudo no ABC, e que se alastraram no Brasil inteiro nos anos de 78-79, recoloca- se com grande
força e urgência o problema da UNIDADE dos trabalhadores. Não é um problema novo. Podemos
lembrar a história recente antes de 1964, quando - num período de mobilização - a classe
trabalhadora conseguiu criar algumas entidades como o PUA (Pacto de Unidade e Ação) e o CGT
(Comando Geral dos Trabalhadores), que não rompiam com a estrutura vertical e corporativista do
sindicato, mas que de certa forma conseguiram romper com a estrutura oficial pois nio eram
organizações ligadas ao Ministério do Trabalho.
Hoje, no contexto das lutas populares, constatando sua dispersão e, por isso, sua relativa eficácia,
coloca-se com grande frequência e unanimidade a necessidade de juntar as forças, de fazer um salto
qualitativo, de politizar mais as lutas... São afirmações que expressam uma realidade objetiva, mas

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