A morte do leiteiro e outras mortes

AutorMônica Sette Lopes
Páginas39-43
A morte do leiteiro
e outras mortes
A verdade é que tinha me esquecido da combinação
com os dois alunos. Eles queriam que lesse um poema para
ilustrar seu trabalho sobre o realismo jurídico americano. Eles
queriam que uma juíza lesse o poema. E nem sabiam que esta
juíza especicamente lê esses americanos realistas com um
gosto enorme. Que esta juíza especialmente não se cansa de
repetir a frase de Jerome Frank que alerta sobre o risco das
provas e arma que juízes também são testemunhas. Teste-
munhas do testemunho das testemunhas. E que repete essa
frase em cada aula. E que lembra dela em cada audiência. E
que sabe, de pensar com outras pessoas, que testemunhas são
sempre sobreviventes. E que sobrevivem para contar o que vi-
ram e como viram. E que por serem sobreviventes nem sempre
podem dizer o tudo dos fatos que se foram, das muitas mortes
já morridas. Mortos não podem testemunhar. Que esta juíza
entende o que o autor americano quer dizer quando fala da
moderna mágica do direito (modern legal magic) que incute
a ideia de que leis e direito sejam automáticos. Abracadabra.
Olho de cabra. E a justiça se faz. Algo que não é. E talvez nunca

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