Mitologia contemporânea

AutorWladimir Novaes Martinez
Ocupação do AutorAdvogado especialista em Direito Previdenciário
Páginas122-123

Page 122

"Conjunto de crenças de um povo primitivo no tocante à sua origem, his-tória antiga, heróis, divindades e assim por diante, como distinta dos relatos verdadeiros que ele inventou depois", são palavras de Ambroise Bierce.

A partir do Iluminismo, quando se julgava que o obscurantismo da Idade Média cederia um espaço aos lentos avanços da ciência e o advento da tecnologia ofereceria conforto real ao homem - daí o aumento da expectativa média de vida - descobriu-se que a par do crescimento da natural capacidade e inata de evoluir moralmente, ela se decompôs ética e culturalmente.

Domínio dos espertos

Segundo voz popular corrente, o mundo se divide entre espertos e otários, convindo sempre icar no primeiro grupo e aproveitar dos pacóvios.

Essa ética imoral dos malandros militantes é tida como inerente ao sistema, dele se servindo mui-tos vitoriosos.

No que diz respeito à política, sob o império da estupidez do ser humano, é retorno ao tempo das cavernas: um salve-se quem puder, o império dos mais fortes sempre em detrimento dos mais fracos.

A esperteza é elogiada no âmbito coletivo como uma virtude, bela sabedoria pragmática, ainda que o superávit da relação implique em perdas imensas dos pobres açoitados que não detêm esse instrumental ludibriador.

Uma prestação de serviços, inocentemente, se dá bem com esses embustes: a publicidade. E, pior ainda, a voz quase vitoriosa dos marqueteiros militantes.

Quando alguém é sucesso pessoal, artístico ou proissional, é corroborado, é sacramentado e saudado pela comunidade que o tem como quem deu certo. Ele goza da aceitação das mulheres sem espinha dorsal, é muito bem visto pela claque dos admiradores e o centro de atenção de empresários interessados.

Nunca icam sob suspeita. Jamais indiciados criminalmente, o grupo os aplaude caso exibam publicamente a posse dos troféus obtidos com sua estratégia venal. Eles proliferam endemicamente, disputando avidamente os mercados ávidos dos otários associados, mesmo que sejam agrupados ou associados.

O povinho admira a astúcia de um Pedro Malasarte, a ilosoia do Amigo da Onça, a ligeireza manual do aplicador do conto do vigário.

Destaca o atacante que marcou gol com as mãos de Deus; elogia o zagueiro que fez pênalti e, rápido, avançou dois passos para o juiz marcar a falta fora da área.

Esquece-se com rapidez da erosão que esse tipo...

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