Mineração na amazônia brasileira: aspectos da presença e avanço do capital na região

AutorGladson Rosas Hauradou, Maria Virgínia Borges Amaral
Páginas402-420
MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: aspectos da presença e avanço do
capital na região
Gladson Rosas Hauradou1
Maria Virgínia Borges Amaral2
Resumo:
A Região Amazônica brasileira tem sido apresentada ao mundo como reduto de ecossistemas, de espécies de seres vivos
ainda não catalogados e dos já catalogados, que expressam potencial econômico abundante para atender aos anseios do
ardil capitalista contemporâneo. Sobressai na região, ainda, o histórico processo de extração mineral, que atualm ente na
condição de commodittes (mercadorias) as quais representam, na sua totalidade, parte importante da produção nacional,
6,8% do PIB brasileiro o que equivale a 65% do valor das exportações brasileiras. Neste estudo destacamos que a
presença dessas empresas na região conforma um quadro de exploração da riqueza oriunda da natureza de modo que os
ganhos reais se voltam para atender à rentabilidade capitalista em detrimento das condições e modos de vida dos sujeitos
históricos presentes na região para os quais sobram as consequências deletérias da forma de ser do capital e o acirramento
das desigualdades ao nível local em suas muitas dimensões.
Palavras-chave: Capital. Amazônia. Mineração. Commodittes.
MINING IN THE BRAZILIAN AMAZON: aspects of the presence and progress of capital in the region
Abstract:
The Brazilian Amazon region has been presented to the world as a stronghold of ecosystems, species of living beings not
yet cataloged and those already cataloged, which express abundant economic potential to meet the aspirations of the
contemporary capitalist ruse. In the region, there is also the historical process of mineral extraction, which is currently in t he
condition of commodittes (commodities), which represent, in t heir totality, an important part of national production, 6.8% of
the Brazilian GDP, equivalent to 65% of value of Brazilian exports. In this study we emphasize that the presence of these
companies in the region constitute a framework for the exploitation of wealth derived from nature so that the real gains are
turned to meet the capitalist profitability to the detriment of the conditions and ways of life of the historical subjects present in
the region for which the deleterious consequences of the way of being of capital and the intensification of inequalities at the
local level in their many dimensions.
Keywords: Capital. Amazon. Mining. Commodittes.
Artigo recebido em: 05/02/2019 Aprovado em: 05/05/2019
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v23n1p402-420
1 Assistente Social. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Bolsista CAPES/ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Docente do Curso
de Serviço Social do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM). Endereço: Estrada Parintins/Macurany, n. 1805, Jacareacanga, Parintins-Amazonas. CEP. 69.153-010. E-mail:
gladson@ufam.edu.br
2 Assistente Social. Doutora em Letras e Linguística pelo Programa de Pós -Graduação em Linguistica e Literatura
(PPGLL)/UFAL. Docente da Faculdade de Serviço Social (FSSO) e dos PPGSS e PPGLL/UFAL. Endereço: Dep. de
Serviço Social, s/n, Tabuleiro do Martins, Maceió AL. CEP: 57072-970. E-mail: mvirginia39@gmail.com
Gladson Rosas Hauradou e Maria Virgínia Borges Amaral
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1 INTRODUÇÃO
A Região Amazônica brasileira tem sido apresentada ao mundo como reduto de
ecossistemas, de espécies de seres vivos ainda não catalogados e dos já catalogados, que expressam
potencial econômico abundante para atender aos anseios do ardil capitalista contemporâneo. Subjaz
tal apresentação, conflitos pela terra -- insurgidos por trabalhadores diversos destituídos de
propriedades dos meios de produção, munidos, tão somente, de sua força de trabalho. Tais conflitos,
ora velados, ora combatidos com brutal violência pelo Estado ou por segmentos da sociedade civil
(latifundiários, fazendeiros, grileiros, etc1.); o massacre em Eldorado do Carajás2 em 1996 e, mais
recentemente, em Pau D´arco3, no Pará, são dois dos exemplos trágicos. Sobressai na região, ainda, o
histórico processo de extração mineral que, atualmente, na condição de commodittes (mercadorias),
representam, na sua totalidade, parte importante da produção nacional, 6,8% do PIB brasileiro,
conforme dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, o que
equivale a 65% do valor das exportações brasileiras (UNCTAD, 2014 apud CASTRO, 2016). Essa
mercadoria tem sido extraída de várias regiões do país (e da América Latina), mas, particularmente na
Amazônia brasileira, sua extração plasma um quadro específico, que apesar de apresentar
similaridades em relação a outras áreas onde se processam a coleta de minérios, se realiza num
contexto de modos de vida diferenciados, de relações sociais (de produção) também diferenciadas
como veremos a seguir.
Ao analisar a mercadoria em O Capital, Marx (1996a, p. 165) destaca que: “A riqueza das
sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma „imensa coleção de
mercadorias‟ e a mercadoria individual como sua forma elementar [...] (grifos do autor)” em seguida,
ratifica: “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades
satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie” (1996a, p. 165).
À luz da matriz teórico-metodológica marxiana situamos as commodittes4 enquanto
mercadorias (extraídas da natureza mediante trabalho humano) as quais visam atender a determinadas
necessidades humanas. Assim sendo, consideramos que a transformação da natureza amazônica em
mercadoria, dotada de valores de uso (estes inerentes a qualquer mercadoria) e de troca, despreza a
presença humana nesse contexto5. Diga-se, despreza a presença dos homens e mulheres da
Amazônia. Esse desprezo os coloca na condição de apêndice do mercado (POLANYI, 2000) sobre os
quais as consequências deletérias (refrações ou reflexos) do processo de exploração recaem de forma
brutal.
Entendemos que as commodittes de minério, tendo as empresas de mineração na região
amazônica brasileira à frente sob o aval do Estado brasileiro, apesar de desempenharem um papel
expressivo na produção nacional, legam às sociedades amazônicas o ônus inerente à rentabilidade

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