Mídia e deficiência: uma abordagem interdisciplinar

AutorMelina de La Barrera Ayres - Adriano Henrique Nuernberg - Carmen Silvia Rial
CargoDoutora em Ciências Humanas pelo Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas e pósdoutoranda em Jornalismo ambos na Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC,Brasil - Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina - Doutora em Antropologie et Sociologie pela Université de Paris V, França
Páginas61-80
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n3p61
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.61-80 Set.-Dez. 2016
MÍDIA E DEFICIÊNCIA: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Melina de La Barrera Ayres
1
Adriano Henrique Nuernberg2
Carmen Silvia Rial3
Resumo:
Neste artigo refletimos sobre a abordagem da deficiência física adquirida proposta
pela telenovela Viver a Vida (escrita por Manoel Carlos; produzida e veiculadas pela
Rede Globo em 2009 e 2010) e o blog Sonhos de Luciana (REDE GLOBO, 2010).
Para tanto, analisamos a cena em que Luciana, protagonista desta temática, vai pela
primeira vez à praia após ter adquirido a deficiência. Partindo de uma perspectiva
interdisciplinar estabelece-se um diálogo entre três áreas de conhecimento: a
Comunicação Social (fundamentalmente os Estudos Culturais) que ampara a
perspectiva a partir da qual se entende a mídia; a Antropologia, área que contribui
com o olhar e a metodologia, a etnografia de tela; e os Disability Studies, que
fornecem o embasamento teórico para a análise da deficiência.
Palavras-chave: Telenovela, Deficiência, Interdisciplinaridade, Etnografia de tela.
1 PONTO DE PARTIDA
O termo deficiência remete a um grande conjunto de vivências e evoca tipos
de realidades diferentes (SHAKESPEARE, 2007). A diversidade desta vivência
evidencia-se tanto em sua prevalência na população mundial - cerca de um bilhão
de pessoas-, bem como em sua relação com o ciclo de vida humano - todas as
pessoas em algum momento da vida podem vivenciar a deficiência (DINIZ, 2007).
Neste contexto, a mídia cumpre um papel central na transmissão de
informações. A mídia em geral, e as telenovelas brasileiras em particular, têm se
tornado um “espaço público” (LOPES, BORELLI, RESENDE, 2002), onde ficção e
contexto social constroem um diálogo e (re)negociam significados. Partindo deste
1 Doutora em Ciências Humanas pelo Programa Interdisciplinar em Cncias Humanas e pós-
doutoranda em Jornalismo ambos na Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC,
Brasil. E-mail: melina.ayres@gmail.com
2 Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Associado
do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. E-
mail: adrianoh@cfh.ufsc.br
3 Doutora em Antropologie et Sociologie pela Université de Paris V, França. Pós-doutorados na
Universite de Toulouse e no College de France, França. Professora Titular do Departamento de
Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina , Florianópolis, SC, Brasil. E-mail:
rial@cfh.ufsc.br
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.61-80 Set.-Dez. 2016
entendimento, neste artigo refletiremos sobre a abordagem da deficiência física
adquirida proposta pela telenovela Viver a Vida (escrita por Manoel Carlos;
produzida e veiculadas pela Rede Globo em 2009 e 2010 às 21:00 horas). As
informações com as que aqui trabalharemos fazem parte da pesquisa de Doutorado
“As representações da deficiência física na telenovela Viver a vida. Uma etnografia
de tela da intimidade: cuidado, corpo e sexualidade”, defendida no Programa de
Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de
Santa Catarina
4.
Viver a vida dialoga com um contexto social específico, o Brasil de 2009,
momento em que entrou em vigor a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (BRASIL, 2011); ratificada pelo Congresso Nacional em julho de 2008.
Esta Convenção garante os direitos básicos das pessoas com deficiência em
equiparação de oportunidade aos serviços de saúde, reabilitação, educação,
profissionalização, esporte, cultura e lazer (BRASIL, 2011). Para a construção de
Luciana, a protagonista desta temática, o autor da telenovela, Manoel Carlos, se
inspirou na história de vida da jornalista Flávia Cintra. Flávia foi consultora do autor e
da atriz (Alinne Morais), buscando dar realismo ao tratamento da temática.
A abordagem proposta por Viver a vida teve ainda outros dois diferencias: o
primeiro se refere à construção da história de Luciana. Neste caso, a deficiência não
foi apresentada como uma “punição” para a personagem. No final da trama, Luciana,
como toda mocinha, foi feliz, casou-se como o homem amado, teve filhos/as e
sucesso na carreira como modelo, tudo isso tendo que se adaptar a nova realidade:
viver e conviver com tetraplegia. O segundo diferencial refere-se ao modo como se
construiu o relato. A Rede Globo, pela primeira vez, relatou a história da
personagem através de duas narrativas, a telenovela e um blog; sendo que este
último era, também, um canal de comunicação entre a personagem e o público. O
Blog Sonhos de Luciana5 foi introduzido na trama a partir do momento em que a
moça adquire a deficiência. Ela decide escrever o blog para compartilhar sua
experiência de vida como mulher cadeirante. Neste espaço foram publicados, no
4 Pesquisa realizada com Bolsa CAPES para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil e CAPES-
COFECUB para a realização de Doutorado Sanduíche na França.
5 O blog está disponível até hoje, junho de 2016, no endereço: <http://gshow.globo.com/novelas/viver-
a-vida/sonhos-de-luciana/platb/>

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