Dinâmica de Aprendizagem: a relação entre processos, conteúdo transacionado e configuração da rede em uma organização não governamental

AutorCatarina Cecília Odelius - André de Castro Sena
CargoProfessora Associada do Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade de Brasília (UnB). Brasília, DF. Brasil - Coordenador de Almoxarifado e Patrimônio. Instituto Federal de Brasília (IFB). Campus Estrutural. Brasília, DF. Brasil
Páginas93-109
Artigo recebido em: 15/06/2012
Aceito em: 04/02/2013
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
DINÂMICA DE APRENDIZAGEM: A RELAÇÃO ENTRE PROCESSOS,
CONTEÚDO TRANSACIONADO E CONFIGURAÇÃO DA REDE EM
UMA ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL
Dynamic of Learning: the relationship between process,
transacted content and configuration of the network in a non-
governmental organization
Catarina Cecília Odelius
Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade de Brasília (UnB). Brasília, DF. Brasil.
E-mail: codelius@unb.br
André de Castro Sena.
Coordenador de Almoxarifado e Patrimônio. Instituto Federal de Brasília (IFB). Campus Estrutural. Brasília, DF. Brasil.
E-mail: andrecsena@gmail.com
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n38p93
Resumo
As redes de aprendizagem em uma organização
não governamental foram caracterizadas quanto a
conteúdos transacionados e processos de aprendizagem.
Pesquisa documental e 16 entrevistas forneceram
dados que resultaram em 573 conteúdos aprendidos,
categorizados, a posteriori, em: comportamentos
associados ao ambiente organizacional (fundamentos e
visão da organização, comportamento para o trabalho
e relacionamento com atores externos); conhecimentos
e habilidades relativos ao trabalho; e desenvolvimento
individual. As redes relativas ao ambiente organizacional
também estão descritas neste artigo. Entre os processos
de aprendizagem identificados encontram-se: atividade,
convivência, ensinar, feedback, material, observação e
supervisão. As redes de aprendizagem foram analisadas
a partir de seus aspectos estruturais, conteúdos
transacionados e processos utilizados. A aprendizagem
foi identificada como fruto de relações dinâmicas
estabelecidas entre diversos atores, em situações
delimitadas por ações cotidianas e condições impostas
pelo contexto. Certos processos de aprendizagem
foram mais recorrentes ou funcionaram melhor do que
outros, dependendo do conteúdo aprendido ou das
preferências e características dos indivíduos.
Palavras-chave: Aprendizagem em Organizações.
Processos de Aprendizagem. Redes Sociais. Teoria
de Rede de Aprendizagem. Organizações Não
Governamentais.
Abstract
Learning networks in a non-governmental organization
were characterized and analysed by the learning
contents and the processes by which they were
learned. Data were collected by means of document
research and 16 interviews; and 573 learning contents
were identified and classified into the following
categories: organizational environment-related
behaviors (organizational environment, work behaviors
and relations with external actors), work-related
knowledge and skills, and individual development.
In this article only the organizational environment
networks are described. Learning processes identified
included activities, getting along with others, teaching,
feedback, material, observation and supervision.
Learning networks were analyzed with respect to their
structural characteristics, contents transacted and the
learning processes employed. Learning was found
to result from the dynamic relationships established
among different actors while going about their routine
activities and dealing with the conditions imposed by
the internal and external environment. Some learning
processes are more recurrent or work better than others,
depending upon the content learned or preferences and
characteristics of individuals.
Keywords: Learning in Organizations. Learning
process. Social Networks. Learning Network Theory.
Non-Governamental Organization.
94 Revista de Ciências da Administração • v. 16, n. 38, p. 93-109, abr. 2014
Catarina Cecília Odelius • André de Castro Sena
1 INTRODUÇÃO
As Organizações Não Governamentais (ONGs)
possuem uma identidade organizacional relativamente
recente, elas se constituem e se vocacionam a papéis
e finalidades diferenciados de outras organizações
(TORO, 2000); atuam de modo peculiar, tendo sua
dinâmica tanto interna quanto externa permeada
pela participação de voluntários, cujo recrutamento
e gerenciamento constituem-se em processos com
complexidade, dilemas e ambiguidades próprias (TE-
ODÓSIO; VENEROSO; PENA, 2006); apresentam
práticas de gestão de pessoas que se figuram ora como
soluções criativas e inovadoras, ora como obstáculos à
adoção de sistemas administrativos mais estruturados
(BOSE, 2000); não veem o recurso financeiro como
uma finalidade da organização e sim como um meio
para operacionalização de sua missão, o que diferen-
cia, mas não diminui nem a importância do dinheiro
nem a necessidade de se desenvolver estratégias para
obtê-lo em consonância com os valores da organização.
(CAMARGO et al., 2001)
Em face ao exposto, pode-se dizer que as ONGs
apresentam especificidades e peculiaridades relati-
vas à estrutura e à dinâmica organizacional, que as
distinguem de outras organizações e que, portanto,
demandam a realização de pesquisas que permitam
compreender esses fenômenos organizacionais.
Durante a década de 1990, quando padrões
de excelência para os resultados das ações de ONGs
começaram a ser amplamente discutidos, um estudo
de Edwards e Hulme (1995) constatou que o impacto
das ações de uma ONG, sua capacidade de atrair
financiamento e sua legitimidade, como o ator do
desenvolvimento territorial, ficarão mais evidentes
quanto maior for sua habilidade em demonstrar que
é capaz de ter uma performance efetiva e de assumir
plena responsabilidade por suas ações. Nesse con-
texto, a gestão do conhecimento e a aprendizagem
organizacional surgiram como temas prementes para
pesquisadores e administradores dessas organizações.
Em relação à aprendizagem em organizações, o
conhecimento acumulado indica que o aprendizado
é decorrente de: processos formais e informais; ca-
racterísticas e interesses dos indivíduos; e influências
recebidas do contexto – ambiente, liderança, recursos,
tempo, materiais, políticas e programas organizacionais
(MARSICK, 2009). Os indivíduos têm papel ativo
no processo de aprendizagem, e, quando se trata
da aprendizagem informal, essa aprendizagem pode
ocorrer a partir de escolhas conscientes dos indivíduos,
ou de modo tácito, sem que haja um conhecimento a
respeito do que ou como o aprendizado ocorreu.
Poell et al. (2000), buscando apresentar um mo-
delo de análise para a aprendizagem organizacional,
propõem a Teoria de Rede de Aprendizagem, que
engloba a atuação dos indivíduos, estruturas e pro-
cessos organizacionais. Esses autores destacam que a
rede de aprendizagem não tem relação com as redes
sociais ou interorganizacionais, porém, considerando
que a análise das redes sociais pode contribuir para
explicitar as relações que se estabelecem a partir de
conteúdos transacionados em processos de aprendiza-
gem, o objetivo deste estudo é identificar as redes de
aprendizagem estabelecidas, entre 2007 e 2008, em
uma organização não governamental, caracterizando-
-as quanto a conteúdos transacionados e processos de
aprendizagem.
Integram este artigo, além da introdução, a base
teórica que fundamenta o estudo e que abrange a
aprendizagem organizacional e a Teoria de Redes de
Aprendizagem (TRA), o método utilizado para o de-
senvolvimento do estudo, os resultados organizados em
conteúdos aprendidos, processos de aprendizagem e
redes de aprendizagem, com a sua respectiva discussão,
e as considerações finais.
2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E
REDES SOCIAIS DE APRENDIZAGEM
Entre os pesquisadores que estudam a aprendiza-
gem organizacional há um consenso em considerar que
dizer que uma organização aprende nada mais é que
fazer uso de uma metáfora derivada do entendimento
que se tem do que seja a aprendizagem individual (KIM,
1993). Em última análise, o fenômeno que se está ob-
servando, ao se dizer que uma organização aprende,
necessariamente ocorre devido à aprendizagem dos
indivíduos que a compõem. Condição necessária, mas
não suficiente, uma vez que a aprendizagem organi-
zacional não pode ser simplesmente resumida à soma
das aprendizagens de seus membros. (FIOL; LYLES,
1985; SWIERINGA; WIERDSMAN, 1992)

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