A metodologia da gestão autônoma da medicação radicalizada às drogas proscritas: proposições éticas e biopotências

AutorDaniel Fernando Fischer Lomonaco, Altieres Edemar Frei
Páginas92-120
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 246, p. 92-120, jan./abr., 2019 | ISSN 2447-861X
A METODOLOGIA DA GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO
RADICALIZADA ÀS DROGAS PROSCRITAS: PROPOSIÇÕES ÉTICAS
E BIOPOTÊNCIAS
The methodology of the Autonomous Management of Medication radicalized to
proscritated drugs: ethical propositions and biopotensions
Altieres Edemar Frei (UnC)
Daniel Fernando Fischer Lomonaco (UFSC)
Informações do artigo
Recebido em 05/12/2017
Aceito em 12/06/2018
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2019.n246.p92-120
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Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
FREI, A. E.; LOMONACO, D. F. F. A metodologia da
Gestão Autônoma da Medicação radicalizada às drogas
proscritas: proposições éticas e biopotências. Cadernos
do CEAS: Revista Crítica de Humanidades, Salvador, n.
246, jan./abr., p. 92-120, 2019. DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2019.n246.p92-120
Resumo
Procuramos, neste artigo, postular, à luz do conceito de
biopolítica, a potência das aplicações das estratégias de
Gestão Autônoma da Medicação radicalizadas às drogas
proscritas, enquanto estratégias de garantia de direitos,
de acesso à cidadania e de cuidado aos usuários de
drogas em tempos extremos da execução da Reforma
Psiquiátrica no Brasil - especialmente considerando seu
atraso histórico em posicionar-se de forma crítica à
Guerra às Drogas. Para isto, trazemos a noção de
dispositivo-droga a partir de sua formulação por alguns
autores estratégicos, inferindo sobre como a fabricação
do vício e da imposição das demandas para tratamento
em usuários de substâncias psicoativas é fomentada
pelos discursos hegemônicos.
Palavras-chave: Gestão Autônoma da Medicação.
Reforma Psiquiátrica. Dispositivo das drogas. Anti-
proibicionismo. Biopolítica.
Abstract
In this article, we se ek to postulate, in the light of the
concept of biopolitics, the power of the applications of
Autonomous Medication Management strategies
radicalized to proscribed drugs as strategies for
guaranteeing direct, citizenship and junkies care in
extreme times of the implementation of the Psychiatric
Reform in the Brazil - especially considering its historical
backwardness in critically positioning itself to the Drug
War. For this, we bring the notion of device-drug from its
formulation to some strategic authors, inferring on how
the fabrication of addiction and the imposition of
demands for treatment in users of psychoactive
substances is fomented by the hegemonic discourses.
Keywords: Autonomous Medication Management.
Psychiatric Reform. Drug Device; Anti-prohibitionism.
Biopolitics.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 246, p. 92-120, jan./abr., 2019
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A metodologia da Gestão Autônoma da Medicação radicalizada... | Altieres Edemar Frei e Daniel Fernando F. Lomonaco
Dispositivo das drogas
Muitos trabalhos tratam da história do consumo de substâncias psicoativas e
reafirmam a ocorrência dessa prática milenar. Para Maurício Fiore (2012), esse clichê é
repetido provavelmente para diferenciar a alteração voluntária e sistemática d os povos
primitivos do problema das drogas na atualidade.
A questão das drogas, essa sim, pode ser considerada historicamente
recente, tendo pouco mais de um século e se constitui como um problema
social quando o consumo de algumas substâncias psicoativas chamadas, a
partir de então, de drogas se tornou objeto de ampla atenção (FIORE,
2012: p. 1).
De fato, soa repetitiva essa contextualização que, para Eduardo V. Vargas (2008) “...
levaria longe demais: se não à noite dos tempos, ao neolítico pelo menos” (VARGAS, 2008,
p. 42). Na obra História da Alimentação (FLANDRIN; MONTANARI, 1998) o lugar do vinho, da
cerveja e das medicinas confunde-se com o dos alimentos; assim, tais substâncias psicoativas
estabelecem uma relação simétrica, não ocorrendo uma evidente distinção entre as mesmas.
O livro demonstra que, por meio de análises químicas, descobertas arqueológicas
confirmaram resíduos de bebidas alcoólicas em jarros de cerâmicas datados de 5.550 a.C. no
período neolítico, no território do Irã atual.
Contudo, parece que a utilização de plantas alucinógenas precede a invenção das
bebidas alcoólicas na intenção de provocar estados de embriaguez coletiva. Supõe-se que a
arte de combinar diferentes substâncias na farmacopeia e nos preparados de natureza
mágica (sem objetivos nutricionais) influenciou as práticas culinárias elaboradas e a arte de
modificação do sabor em detrimento de uma simples cocção (limitadas no sabor e nos
cardápios repetitivos). Defende-se a tese de que o “uso ritual e simbólico precede, quase
sempre, a integração no universo cotidiano” (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 53),
inclusive, as práticas rituais originaram o consumo das bebidas fermentadas. Escohotado
(1989) afirma que alguns pesquisadores postulam origens xamânicas às pinturas rupestres do
período paleolítico e reitera: No hay un solo grup o humano donde no se haya detectado el uso
de varios psicofarmacos, y si algo salta a la vista en este terreno es que constituye un fenómeno
plural en si 1 (ESCOHOTADO, 1989, p. 24).
1 “Não um grupo humano onde não haja sido detecta do o uso de vários psicofarmácos, e, se algo salta a
vista nesse terreno, é que se constitui como um fenômeno plural em si.”.

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