Método unidimensional da renda (H_R) e Alkire-Foster: uma análise comparativa aplicada ao Rio Grande do Sul em 2010

AutorCarine De Almeida Vieira
Páginas97-118
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http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2017v20n2p97/
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 20 n. 2, p. 97118, ago/dez. 2017 ISS N 2175-8085
Método unidimensional da renda (e Alkire-Foster:
uma análise comparativa aplicada ao Rio Grande do Sul em 2010
Unidimensional method based on income (H_R) and Alkire-Foster method:
a comparative analysis of poverty measurement applied to Rio Grande do Sul in 2010
Carine de Almeida Vieira
carine.a.vieira@gmail.com
Universidade Federal do ABC
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de aplicar o método Alkire-Foster para os
municípios do Rio Grande do Sul e compará-lo com o método unidimensional via renda
monetária em 2010. Os resultados indicam que ao comparar as duas medidas de incidência de
pobreza H e percebe-se que a primeira obteve maiores índices em relação à segunda.
Como as maiores privações da amostra não estão em indicadores ligados à renda, a pobreza é
mais intensa ao se inserir outras variáveis. As maiores privações estão nos indicadores das
dimensões ‘educação’ e ‘condições de domicílio’. Se desagregado por grupos em categorias
raciais, pode-se perceber que as maiores incidências de pobreza tanto pelo viés
multidimensional como pelo estão nos ‘indígenas’.
Palavras-Chave: Pobreza; Método Alkire-Foster; Rio Grande do Sul
Abstract: This work aims to apply the Alkire-Foster method (2009) for the municipalities of
Rio Grande do Sul and compare it with the one-dimensional method via monetary income in
2010. The results indicate that when comparing the two incidence measures poverty - H and
incidence of poverty by income - it is clear that the first step had higher rates compared to the
second. As the most deprived of the sample are not indicators for income, poverty is more
intense when entering other variables. The most deprived are the dimensions of the indicators
'education' and 'home conditions'. If it is disaggregated by groups in racial categories, it can be
seen that as the highest incidence of poverty - both by the multidimensional bias and the -
we are in the ‘indigenous’ group.
Keywords: Poverty; Alkire-Foster method; Rio Grande do Sul
Recebido em: 03-10-2017. Aceito em: 05-12-2017.
INTRODUÇÃO
Existem diversas metodologias para a medição de pobreza, no entanto, não há um
consenso sobre qual é o mais adequado. As medidas embasadas unicamente na renda não
ilustram os diversos aspectos de vida das pessoas. As medidas multidimensionais, mesmo que
tentem levar em conta a diversidade de dimensões de vidas das pessoas, usualmente são mais
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difíceis de operacionalização em razão do grande número e da diversidade de informações
requeridas.
A maior parte das medidas de pobreza usadas tem como embasamento teórico as
abordagens unidimensionais que levam em consideração somente a variável renda monetária
e ignoram indicadores de bem-estar como níveis educacionais, níveis de saúde e saneamento
básico bem como fatores mais complexos como a liberdade perante a sociedade. As medidas
unidimensionais mais usadas, baseadas na renda, são as linhas de pobreza e indigência.
Tendo em vista a restrição informacional das medidas unidimensionais para avaliar a
situação de pobreza, Alkire e Foster (2009) elaboraram uma metodologia para o cálculo de
um índice multidimensional com o objetivo de abarcar as várias dimensões de vida das
pessoas. A medida foi construída a partir da Abordagem das Capacitações de Amartya Sen
(1976; 1981; 1999; 2000) que defende que o bem-estar não é restrito apenas à renda
monetária e entende a pobreza como privação de capacitações básicas.
A medida, desenvolvida por Alkire e Foster (2009), reflete a amplitude e
complexidade da pobreza com a inclusão de múltiplas privações que uma família sofre por
meio de um único número que pode ser decomposto e comparado por regiões, grupos e até
mesmo por dimensões. O presente artigo tem o objetivo de aplicar o método AF para os 497
municípios do Rio Grande do Sul em 2010 via microdados censitários. A escolha pelos
municípios gaúchos se deu por que o estado, quando analisado pelo viés monetário, apresenta
uma porcentagem de pobreza relativamente pequena se comparado aos outros estados
brasileiros1. Contudo, a análise da pobreza unicamente via indicadores monetários não
demonstra a incidência de privações que a população gaúcha enfrenta em outros aspectos de
suas vidas. Nesse sentido, é necessária a análise da pobreza por meio de uma visão
multidimensional que capte essas outras óticas de vida dos indivíduos.
A questão que permeia a pesquisa é a seguinte: a partir de uma análise
multidimensional, é possível identificar quais são os municípios com maior incidência de
pobreza multidimensional no Rio Grande do Sul em 2010? Quais as diferenças de incidência
de pobreza quando comparado à incidência de pobreza via renda? A hipótese defendida é que
o IPM via método Alkire-Foster (AF) é mais adequado para medir a pobreza, pois permite o
uso de vários indicadores, agrupados em diversas dimensões, e permite que a desagregação
por regiões, grupos de pessoas e dimensões.
1 Segundo dados do Atlas d o Desenvolvimento Humano do Brasil, em 2010, o Rio Grande do Sul tem 6,37% da
população e m estado de pobreza, ou seja, com um rendim ento de até R$ 140,00 domiciliar per capita. O Rio
Grande do Sul é o quarto estado brasileiro com menor porcentagem de pobres.

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