Metamorfose do cidadão
| Autor | Wladimir Novaes Martinez |
| Ocupação do Autor | Advogado especialista em Direito Previdenciário |
| Páginas | 33-36 |
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"Uma das benesses do poder é a de reinar seus ocupantes. Por mais agrestes de origem, são obrigados a aprender a usar garfo e faca, não palitar os dentes e evitar coçar partes íntimas na presença de senhoras" ("Gente Fina" de Ruy Castro, articulista da Folha de São Paulo).
A epígrafe acima é intrigante; ela mostra que a mutação de um indivíduo não é tão somente nos aspectos morais, políticos ou gerais, ela alcança os personalíssimos. Sob esse cenário de urbanidade, sociabilidade e alguma educação, aperfeiçoa sua personalidade; ele veste-se melhor. Se não fazia parte, passa a viver no meio da classe dominante, chamada apenas de governante, representando um status surpreendente.
Torna muito mais difícil manter a conversa descontraída com os antigos amigos (e apreender-lhe os dramas que vivem), por isso ele se justiica, referindo-se às razões de Estado.
Às vezes quando não quer abrir a boca sobre tema delicado, diz que motivos de segurança lhe impedem de se pronunciar.
Os versículos de Raul Seixas em Metamorfose Ambulante dizem: "Eu quero dizer/Agora o oposto do que eu disse antes/Eu preiro ser/Essa metamorfose ambulante/Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".
Assentado que a gestão do Estado um dia tem de ser cometida a alguém e muitos julgam poder ser aquele escolhido.
Um indivíduo, de algum modo distinguido para isso, deixando-se levar por recôndito impulso genético de mandar nos outros, decide que deverá empreender a trajetória de ascensão designada como carreira política.
Não teria maior interesse, não fora salientar que ele não é mais o mesmo; deixa de ser quem era, adota uma nova postura na maioria das suas relações. A transformação é bem visível, trocou o vestuário, a água de colônia e somente usa óculos escuros.
Sofre mudança de personalidade, comum a quase todos os que ambicionam deixar a planície para chegar ao planalto.
O estudo do tema dessa mutação humana talvez contribua para entender como ele vai se conduzir e reagir dali para a frente.
Ab initio, ique claro que essa transformação não se opera exclusivamente no poder público; em menor escala, ela sucede na iniciativa privada.
Maldosamente, com alguma razão, costuma-se dizer que o pior chefe é aquele que antes foi um empregado subordinado.
Por ora, abstraindo as diferenças abissais entre os dois domínios, cônscios disso, o galgado ao poder das empresas padece menos desse mal.
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A subida do alpinista político se dá degrau por degrau. Ele pisa irme e experimenta o solo onde dá os seus passos. Aportando ao segundo patamar, ele sente-se estimulado a continuar a ascensão vertical ao topo.
O que o move é um gene entranhado na sua alma por forças das circunstâncias dos embates da vida: ele, no...
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