Os mercados campesinos de Bogotá: patrimônio imaterial e desenvolvimento da economia campesina na Colômbia

AutorIlanil Coelho - Daniel Uribe Parra
CargoDoutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina - Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade na Universidade da Região de Joinville, Joinville, SC, Brasil
Páginas176-194
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n1p56
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p. 56-74 Jan.-Abr. 2018
OS MERCADOS CAMPESINOS DE BOGOTÁ: PATRIMÔNIO IMATERIAL E
DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA CAMPESINA NA COLÔMBIA
Ilanil Coelho
1
Daniel Uribe Parra
2
Resumo:
Este artigo tem como objetivo apresentar os Mercados Campesinos (MC) de Bogotá,
como canais de comercialização de produtos rurais frescos, pratos típicos,
artesanatos, dentre outros bens que remetem às feiras de escambo indígenas pré-
coloniais que aconteciam na região central da Colômbia. Dinamicamente
transformados, os MC, resultantes do Processo Mercados Campesinos (PMC), se
configuram na atualidade como espaços interculturais de circulação e
compartilhamento de memorias, identificações e modos saber-fazer campesinos,
indígenas e afrodescendentes, baseados nos princípios de Segurança e Soberania
Alimentar. O artigo propõe mostrar alguns dos modos de saberfazer campesinos
presentes na cotidianidade dos MC. Para tanto, além de fontes escritas (bibliografia,
legislações e documentos oficiais), valemo-nos de entrevistas produzidas com base
na metodologia da história oral com campesinos/as que participam dos MC para
identificar os modos de saber-fazer que albergam estes espaços, analisando as
possibilidades das comunidades participantes, em se apropriarem dos instrumentos
de salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (PCI) da Colômbia. Encontramos que
existe um processo decorrente do ato administrativo para postular o reconhecimento
de uma manifestação como Patrimônio Cultural Imaterial, e assim ser incluída em uma
das Listas Representativas de Patrimonio Cultural Inmaterial (LRPCI), contém um
instrumento denominado Plan especial de Salvaguarda (PES) que não apenas
poderia contribuir com o desenvolvimento das comunidades que participam dos MC,
mas também em concretizar políticas efetivas voltadas à Seguridade e Soberania
Alimentar do país.
Palavras-chave: Mercados Campesinos de Bogotá. Desenvolvimento. Patrimônio
Cultural Imaterial. Memória. Soberania Alimentar.
1 INTRODUÇÃO
O denominado Processo Mercados Campesinos ou PMC é um processo
organizativo que articulou desde 2004 uma série de associações regionais-nacionais
campesinas e comunais da Região Central da Colômbia, [que compreende Bogotá e
os Departamentos de Cundinamarca, Boyacá, Tolima e Meta] contando com o apoio
1
Doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora no Curso de
História e do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região
de Joinville, Joinville, SC, Brasil E-mail: ilanilcoelho@gmail.com
2
Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade na Universidade da Região de Joinville, Joinville, SC,
Brasil E-mail: danieluribe10@gmail.com
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p. 56-74 Jan.-Abr. 2018
do Instituto Latinoamericano para una Sociedad y un Derecho Alternativos (ILSA), The
Oxford Committee for Famine Relief (OXFAM) e da Prefeitura de Bogotá através da
Secretaria de Desarrollo Económico. A sua finalidade foi desenvolver estratégias de
fortalecimento da economia campesina e de valorização participativa dos pequenos
agricultores como atores sociais na defesa de políticas baseadas nos princípios de
Segurança e de Soberania Alimentar da Colômbia.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) o
princípio de Segurança Alimentar aponta para quando “as pessoas têm, a todo
momento, acesso físico e económico a alimentos seguros, nutritivos e suficientes para
satisfazer as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares” (FAO, 1996).
Por sua parte, o de Soberania Alimentar, termo adotado pela Via Campesina, diz
respeito ao “direito dos povos, comunidades e países de definir suas próprias políticas
sobre a agricultura, o trabalho, a pesca, a alimentação e a terra” (VIA CAMPESINA,
2002).
Concorrendo para a concretização desses princípios, de 2004 a 2015, o PMC
concebeu e implantou três estratégias de comercialização direta de produtos
campesinos sem recorrer a sistemas de intermediação existentes: (a) comércio
varejista em dez mercados presenciais realizados em lugares públicos de Bogotá; (b)
comércio atacadista com pessoas jurídicas (mercearias, supermercados,
restaurantes) estabelecidas em Bogotá; (c) comercialização de orgânicos no atacado
e no varejo.
Nas constantes avaliações realizadas pelo ILSA, entidade encarregada de
registrar a evolução do PMC, ficaram registradas como tais estratégias de
comercialização representaram uma melhoria não só na qualidade de vida resultante
do aumento dos ingressos dos campesinos/as, como também evidenciou que os
mercados varejistas presenciais, “Mercados Campesinos” ou “MC” como denominam
os participantes do PMC, propiciaram um espaço pelo qual as manifestações culturais
são potencializadas para melhorar condições socioeconômicas.
Além disso, os campesinos/as da região central do país ganharam voz nas
decisões relacionadas ao abastecimento de alimentos da cidade de Bogotá, por meio
de ações concretas de incidência política sobre o Plan Maestro de Abastecimiento y
Seguridad Alimentaria de Bogotá (PMASAB), o qual começou a ser concebido em
2003 sem a necessária consideração da economia campesina.

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